24/11/2021

CAROLINA LEITE

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É este o Douro 

que queremos?

Há praticamente 20 anos atrás, o Alto Douro Vinhateiro recebeu o galardão da UNESCO de património mundial. Hoje, passados esses quase 20 anos é divulgado pelos mais variados meios de comunicação social que perdeu quase 30 mil pessoas.

“𝖮 𝖣𝗈𝗂𝗋𝗈 𝗌𝗎𝖻𝗅𝗂𝗆𝖺𝖽𝗈. 𝖮 𝗉𝗋𝗈𝖽𝗂́𝗀𝗂𝗈 𝖽𝖾 𝗎𝗆𝖺 𝗉𝖺𝗂𝗌𝖺𝗀𝖾𝗆 𝗊𝗎𝖾 𝖽𝖾𝗂𝗑𝖺 𝖽𝖾 𝗈 𝗌𝖾𝗋 𝖺̀ 𝖿𝗈𝗋𝖼̧𝖺 𝖽𝖾 𝗌𝖾 𝖽𝖾𝗌𝗆𝖾𝖽𝗂𝗋. 𝖭𝖺̃𝗈 𝖾́ 𝗎𝗆 𝗉𝖺𝗇𝗈𝗋𝖺𝗆𝖺 𝗊𝗎𝖾 𝗈𝗌 𝗈𝗅𝗁𝗈𝗌 𝖼𝗈𝗇𝗍𝖾𝗆𝗉𝗅𝖺𝗆: 𝖾́ 𝗎𝗆 𝖾𝗑𝖼𝖾𝗌𝗌𝗈 𝖽𝖾 𝗇𝖺𝗍𝗎𝗋𝖾𝗓𝖺. 𝖲𝗈𝖼𝖺𝗅𝖼𝗈𝗌 𝗊𝗎𝖾 𝗌𝖺̃𝗈 𝗉𝖺𝗌𝗌𝖺𝖽𝖺𝗌 𝖽𝖾 𝗁𝗈𝗆𝖾𝗇𝗌 𝗍𝗂𝗍𝖺̂𝗇𝗂𝖼𝗈𝗌 𝖺 𝗌𝗎𝖻𝗂𝗋 𝖺𝗌 𝖾𝗇𝖼𝗈𝗌𝗍𝖺𝗌, 𝗏𝗈𝗅𝗎𝗆𝖾𝗌, 𝖼𝗈𝗋𝖾𝗌 𝖾 𝗆𝗈𝖽𝗎𝗅𝖺𝖼̧𝗈̃𝖾𝗌 𝗊𝗎𝖾 𝗇𝖾𝗇𝗁𝗎𝗆 𝖾𝗌𝖼𝗎𝗅𝗍𝗈𝗋, 𝗉𝗂𝗇𝗍𝗈𝗋 𝗈𝗎 𝗆𝗎́𝗌𝗂𝖼𝗈 𝗉𝗈𝖽𝖾𝗆 𝗍𝗋𝖺𝖽𝗎𝗓𝗂𝗋, 𝗁𝗈𝗋𝗂𝗓𝗈𝗇𝗍𝖾𝗌 𝖽𝗂𝗅𝖺𝗍𝖺𝖽𝗈𝗌 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝖺𝗅𝖾́𝗆 𝖽𝗈𝗌 𝗅𝗂𝗆𝗂𝖺𝗋𝖾𝗌 𝗉𝗅𝖺𝗎𝗌𝗂́𝗏𝖾𝗂𝗌 𝖽𝖺 𝗏𝗂𝗌𝖺̃𝗈. 𝖴𝗆 𝗎𝗇𝗂𝗏𝖾𝗋𝗌𝗈 𝗏𝗂𝗋𝗀𝗂𝗇𝖺𝗅 𝖼𝗈𝗆𝗈 𝗌𝖾 𝗍𝗂𝗏𝖾𝗌𝗌𝖾 𝖺𝖼𝖺𝖻𝖺𝖽𝗈 𝖽𝖾 𝗇𝖺𝗌𝖼𝖾𝗋, 𝖾 𝗃𝖺́ 𝖾𝗍𝖾𝗋𝗇𝗈 𝗉𝖾𝗅𝖺 𝗁𝖺𝗋𝗆𝗈𝗇𝗂𝖺, 𝗉𝖾𝗅𝖺 𝗌𝖾𝗋𝖾𝗇𝗂𝖽𝖺𝖽𝖾, 𝗉𝖾𝗅𝗈 𝗌𝗂𝗅𝖾̂𝗇𝖼𝗂𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝗇𝖾𝗆 𝗈 𝗋𝗂𝗈 𝗌𝖾 𝖺𝗍𝗋𝖾𝗏𝖾 𝗊𝗎𝖾𝖻𝗋𝖺𝗋, 𝗈𝗋𝖺 𝖺 𝗌𝗎𝗆𝗂𝗋-𝗌𝖾 𝖿𝗎𝗋𝗍𝗂𝗏𝗈 𝗉𝗈𝗋 𝖽𝖾𝗍𝗋𝖺́𝗌 𝖽𝗈𝗌 𝗆𝗈𝗇𝗍𝖾𝗌, 𝗈𝗋𝖺 𝗉𝖺𝗌𝗆𝖺𝖽𝗈 𝗅𝖺́ 𝗇𝗈 𝖿𝗎𝗇𝖽𝗈 𝖺 𝗋𝖾𝖿𝗅𝖾𝗍𝗂𝗋 𝗈 𝗌𝖾𝗎 𝗉𝗋𝗈́𝗉𝗋𝗂𝗈 𝖺𝗌𝗌𝗈𝗆𝖻𝗋𝗈. 𝖴𝗆 𝗉𝗈𝖾𝗆𝖺 𝗀𝖾𝗈𝗅𝗈́𝗀𝗂𝖼𝗈. 𝖠 𝖡𝖾𝗅𝖾𝗓𝖺 𝖺𝖻𝗌𝗈𝗅𝗎𝗍𝖺.” – 𝖬𝗂𝗀𝗎𝖾𝗅 𝖳𝗈𝗋𝗀𝖺

Foi este excesso de beleza descrito por Miguel Torga que há praticamente 20 anos atrás valeu ao Alto Douro Vinhateiro o galardão da UNESCO de património mundial.

Hoje, passados esses quase 20 anos é divulgado pelos mais variados meios de comunicação social que o Alto Douro Vinhateiro, património mundial da UNESCO perdeu quase 30 mil pessoas (link is external).

A questão que se coloca imediatamente, é o que poderá ter levado a esta perda populacional.

António Cunha, Presidente da CCDR-N (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte), responde, é preciso encontrar formas de valorizar mais a região onde se produz o vinho de porto. Acrescenta ainda, que durante estas 2 décadas se criou uma referência internacional que é muito positiva.

Se há 20 anos o galardão valeu ao Alto Douro Vinhateiro projeção internacional, criação de postos de trabalho, criação de serviços, recursos e oportunidades. O Alto Douro Vinhateiro de hoje é ligeiramente diferente e urge refletir sobre este Douro a que chegamos. Por quem foi construído, para quem foi construído.

Construído pelos gigantes do turismo como, por exemplo, a DouroAzul, empresa líder de cruzeiros fluviais do rio Douro, em Portugal e um dos grandes empregadores da região, sendo-lhe reconhecida a preferência pela celebração de contratos precários (link is external) com os trabalhadores.

O Douro passou a ser construído para os turistas, que durante os meses de verão até podem conhecer a região a partir de um comboio turístico onde um adulto paga €40 (quarenta euros) e uma criança €20 (vinte euros) (link is external).

Chegamos a um turismo massificado e insustentável, com especulação imobiliária, trabalho precário e degradação do ecossistema. Um turismo que não permitiu criar postos de trabalhar, nem fixar serviços ou pessoas.

Já se percebeu que os caminhos traçados pelos grandes senhores do Douro não foram os melhores, acabando por não conseguir o que de mais importante era para a região, a fixação de pessoas. Inversamente, os senhores do Douro, fizeram da região um negócio altamente lucrativo, do Rio um esgoto a céu aberto, da flora um recurso inesgotável.

Perdemos 30 mil pessoas em 20 anos e maior parte da população é envelhecida. Não precisamos de valorizar ainda mais a região como disse o presidente da CCDR-N, a região já está valorizada. Já temos vinho de denominação de origem controlada e uma imagem internacional imbatível, não fosse o alto Douro Vinhateiro a região vitícola mais antiga do mundo e de uma beleza ímpar.

Agora, precisamos de devolver o Douro às pessoas. Para isso, é importante que as pessoas e os seus direitos sejam o foco em diante. Abrir os serviços que foram encerrados pelos governos socialistas e sociais-democratas. Elaborar estratégias de combate e fiscalização à precariedade laboral na região, criar serviços e oportunidades para os jovens, seja através da criação de bolsas de emprego ou estudo, encontrar um equilíbrio entre a região e o turismo, um turismo sustentável que respeite o ecossistema, as tradições e costumes, mas sobretudo as pessoas. Devolver o Douro às suas gentes, é que deveríamos querer!

*Advogada estagiária, mestranda em Criminologia e militante do Bloco de Esquerda em Lamego.

IN "INTERIOR DO AVESSO" - 19/11/21

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