OE22
Negociar até ao último minuto
As negociações para o Orçamento do Estado deverão manter-se até ao
último minuto ou, como se diz na minha terra, "até ao lavar dos cestos é
vindima". Bloco de Esquerda (BE), Partido Comunista Português (PCP), Os
Verdes e o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) já foram ouvidos. O
BE acusou ontem o governo de não estar a fazer um esforço de aproximação
à esquerda. Mas "todos estão a trabalhar", garante o primeiro-ministro,
António Costa. Até agora só há uma certeza: ainda não há luz verde para
o OE 2022.
Costa lembrou e dramatizou lembrando as palavras do
Presidente da República: se não houver Orçamento haverá eleições
antecipadas. "O Presidente desenhou uma consequência muito exigente para
a inexistência de Orçamento e acho que isso é uma coisa em que todos
devem meditar, porque acho que a última coisa que alguém deseja é
acrescentar à crise social, económica, energética e pandémica ainda uma
crise política.
Para o PCP, as palavras de Marcelo Rebelo de
Sousa foram "precipitadas", afirmou João Ferreira, deputado comunista. O
Partido Comunista ainda não abriu o jogo e não revelou se dará ou não o
seu voto favorável no parlamento. O partido admite alguns avanços nas
negociações, mas também diz que as posições entre partido e governo
ainda não são coincidentes.
Estará o PCP de hoje diferente do de ontem? Mais radicalizado ou mais
fiel às suas causas e a querer agradar ao seu público, que tem vindo a
afastar-se para outras paragens ideológicas, como ficou patente nas
últimas eleições autárquicas? Parece que sim, está claramente a extremar
posições e a admitir, desta vez, jogar todos os trunfos para,
eventualmente, vir a exibir um ou vários troféus junto do seu
eleitorado. Se houver crise política, "paciência", ouve-se lá pelos
lados da Rua Soeiro Pereira Gomes (onde está situada a sede do PCP), em
Lisboa.
Resistir é a palavra de ordem entre os camaradas. António
Costa governa em minoria e precisa de um acordo, ao ponto de admitir
dizer sim a várias imposições da esquerda: "Vamos aumentar o mínimo de
existência, vamos melhorar o IRS jovem, vamos ter um aumento
extraordinário de pensões, agora sem dar o passo maior do que a perna.
Se somássemos todas as propostas não havia dez orçamentos que
chegassem", ironizou o primeiro-ministro. A reflexão vai no bom sentido,
afiança, mas a esquerda diz que ainda não chega. Até segunda-feira há
mais reuniões marcadas e os sentidos de voto tardarão em ser anunciados.
* Directora do "DN"
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 22/10/21
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