09/10/2021

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119-UM POEMA POR SEMANA 
VALTER HUGO MÃE
A VIRGINDADE DA MARGARIDA
A VIRGINDADADE DA MADALENA
A VIRGINDADE DA AMÉLIA



POEMAS:

a virgindade da margarida

a tua mãe pôs a mão no meio das minhas pernas, 
a ver se falávamos dos bolos de terra 
ou do iminente despudor das bonecas

lembras-te disso. de não termos continuado 
nesse dia, amuando de vergonha os nossos 
corpos a crescerem contra o mundo

voltámos mais tarde, numa fúria bem maior, 
quero dizer, e demorámos muito até chegar 
onde ansiosamente havíamos ficado

depois, já não havia o que fazer senão 
afligir a tua mãe. deixar a sala um pouco suja,
partir sem querer um pequeno prato chinês

a virgindade da madalena

não levantes a saia enquanto te espreito, 
seria demasiado perigoso se me 
tornasses impossível resistir-te

já tenho apreciado o modo como 
segues pela rua olhando para 
a janela do meu ansioso quarto

já tenho suspeitado que, ansiosa, 
queres que o teu corpo aconteça 
esplendorosamente junto ao meu

e só não te toquei ainda 
porque me seduz a proximidade da 
primavera e a ideia de esperar

conheço um campo que se enche de 
flores, era lá que te queria nua,
a saia no chão para não te sujares 

e deus queira não saibas quase nada, 
mais me apetece poder ensinar-te, 
coisas pequenas que te pareçam descomunais

a virgindade da amélia

aceita este livro, diria, mais bonito 
do que os outros. encontrarás nele 
imagens, sim, imagens que talvez te 
surpreendam. mas não te assustes, 
tantas vezes to peço, não te assustes.
repara na natureza das coisas, em como
é tão comum depararmo-nos com estas ideias
e talvez entendas 

há uma pornografia erudita feita
para gente como nós. uma coisa assim entre 
o querer fazer, a aflição espiritual 
e o amor eterno 

depois vem cá ter. juro-te que às 
cinco em ponto da tarde não há 
ninguém na casa dos meus pais


Interpretado por
VALTER HUGO MÃE


FONTE:      cinepovero2009   

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