119-UM POEMA POR SEMANA
VALTER HUGO MÃE
A VIRGINDADE DA MARGARIDA
A VIRGINDADADE DA MADALENA
A VIRGINDADE DA AMÉLIA
POEMAS:
a virgindade da margarida
a tua mãe pôs a mão no meio das minhas pernas,
a virgindade da margarida
a tua mãe pôs a mão no meio das minhas pernas,
a ver se falávamos dos bolos de terra
ou do iminente despudor das bonecas
lembras-te disso. de não termos continuado
lembras-te disso. de não termos continuado
nesse dia, amuando de vergonha os nossos
corpos a crescerem contra o mundo
voltámos mais tarde, numa fúria bem maior,
voltámos mais tarde, numa fúria bem maior,
quero dizer, e demorámos muito até chegar
onde ansiosamente havíamos ficado
depois, já não havia o que fazer senão
depois, já não havia o que fazer senão
afligir a tua mãe. deixar a sala um pouco suja,
partir sem querer um pequeno prato chinês
a virgindade da madalena
não levantes a saia enquanto te espreito,
a virgindade da madalena
não levantes a saia enquanto te espreito,
seria demasiado perigoso se me
tornasses impossível resistir-te
já tenho apreciado o modo como
já tenho apreciado o modo como
segues pela rua olhando para
a
janela do meu ansioso quarto
já tenho suspeitado que, ansiosa,
já tenho suspeitado que, ansiosa,
queres que o teu corpo aconteça
esplendorosamente junto ao meu
e só não te toquei ainda
e só não te toquei ainda
porque me seduz a proximidade da
primavera e a ideia de esperar
conheço um campo que se enche de
conheço um campo que se enche de
flores, era lá que te queria nua,
a saia no chão para não te sujares
e deus queira não saibas quase nada,
mais me apetece poder ensinar-te,
coisas pequenas que te pareçam descomunais
a virgindade da amélia
a virgindade da amélia
aceita este livro, diria, mais bonito
do que os outros. encontrarás nele
imagens, sim, imagens que talvez te
surpreendam. mas não te assustes,
tantas vezes to peço, não te assustes.
repara na natureza das coisas, em como
é tão comum depararmo-nos com estas ideias
e talvez entendas
há uma pornografia erudita feita
para gente como nós. uma coisa assim entre
o querer fazer, a aflição espiritual
e o amor eterno
depois vem cá ter. juro-te que às
cinco em ponto da tarde não há
ninguém
na casa dos meus pais
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