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A retórica do elogio
A retórica não dorme e está a funcionar bem. Não há mal nenhum nisso. O triplista Pedro Pichardo merece-os. E merece-os mais ainda quando, no maior momento desportivo da sua carreira, tem a humildade de agradecer ao país que o acolheu, mesmo que sinta alguma tristeza por haver quem ainda se refira a ele como ex-cubano. O ouro de Pedro Pichardo, a prata de Patrícia Mamona e os bronzes de Jorge Fonseca e de Fernando Pimenta deram a Portugal o melhor resultado de sempre em Jogos Olímpicos. O Comité Olímpico de Portugal ultrapassa as duas medalhas que estavam contratualizadas com o Governo e os 18,5 milhões de euros investidos para Tóquio estão mais do que justificados. Daí que alguns louvores políticos aos atletas tentem nas entrelinhas reivindicar uma quota parte das vitórias.
Pode o país estar satisfeito? Sim e não. Se olharmos para a prestação desportiva de toda a comitiva, sem dúvida que sim. Excelente esforço. Brilhante prestação. Já se recuarmos a 1984 e às medalhas conquistadas por Carlos Lopes, Rosa Mota e António Leitão, nos EUA, seria legítimo admitir que até 2021 haveria tempo para que o desporto alcançasse outro peso na agenda política dos sucessivos governos. Não alcançou.
Em dezembro, o presidente do Comité Olímpico de Portugal foi claro. Contrariamente a outros setores da sociedade, o desporto não foi contemplado nos apoios do Estado para mitigar os efeitos da pandemia. Ontem, o presidente da Federação Portuguesa de Atletismo disse tudo. "Os nossos políticos têm de entender que se o nosso desporto consegue fazer isto com os meios que temos, poderia fazer muito mais com outros meios".
Todos estamos de acordo que o desporto tem de ter outro valor. Que saltemos noutra direção.
* Director adjunto
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 06/07/21
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