25/07/2021

APALPADINHO DAS DORES

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Otelo Saraiva de Carvalho

Morreu um homem polémico que a  história  jamais esquecerá sejam quais forem os motivos. É isso, de Otelo pode falar-se de muito bem a  muito mal e até grotescamente boçal.

Certo é que ninguém o livra de ser o estratega do 25 DE ABRIL, como também certo ser a maioria das pessoas que o caluniam terem em Otelo a abertura da porta da liberdade para poderem caluniar.

Para mim tenho a imagem de Otelo a liderar o movimento que livrou muitos da minha idade do martírio da Guerra Colonial que a igreja católica apadrinhava, que na época livrou Portugal de um dos  mais horrendos regimes políticos na europa que deu caminho à democratização e à consolidação dum regime  parlamentar que subsiste até hoje. Foram muitos os obstáculos,  as rivalidades, as prepotências e violências físicas, como também houve muito bom senso e inteligência no movimento dos capitães de Abril para que não acontecesse uma contra revolução. Lembramo-nos de Melo Antunes, Vítor Alves, Ramalho Eanes, Canto e Castro, Carlos Fabião, Garcia dos Santos e muitos outros cuja lista é grande e não cabe nestas linhas.

Marcelo Caetano no dia da rendição teve medo de entregar o país ao MFA e exigiu a presença de Spínola um protoditador que  não se aguentou no  lugar exactamente por causa do seu pendor colonial/federalista, leiam "Portugal  e o Futuro".

Nas vicissitudes revolucionárias entre 1974 e 1976 a história portuguesa é rica em conspirações e folhetins, em exaltações e murmúrios, intentonas militares, poucos mortos e alguns feridos mas que redundaram na eleição duma Assembleia Constituinte o berço da 3ª República. 3ª República que permitiu ao consideradíssimo Adriano Moreira ser deputado e  líder partidário, ele que em 1961, como ministro salazarento, ordenou a reabertura do campo da morte do Tarrafal para albergar e torturar elementos dos movimentos que lutavam pela independência nas  colónias portuguesas. 3ª República que permite a um nojento racista ser deputado,  André Ventura, ele mesmo.


A história ultrapassa a  figura de Otelo, jamais morrerá, o 25 de Abril faz parte de Portugal para sempre e os autores do golpe também. Se Otelo cometeu crimes a história também julgará, não julgará ódios de oportunistas cobardolas, infelizmente.

LISBOA - 25/07/21

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