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Em 2018, o Rio de Janeiro elegeu para governador do estado um candidato mais bolsonarista do que Bolsonaro.
Chamava-se Wilson Witzel, político que, depois de romper com o ex-aliado presidente da República, acabou afastado do cargo no dia 1 de maio, após voto nesse sentido de 140 juízes e deputados ao longo de sete votações em sedes e instâncias diferentes, acusado da corrupção que ele prometia erradicar.
Juiz de carreira, usou o discurso bolsonarento de que não era político, e de que ia acabar com ela, a corrupção, e até com o crime. "A polícia tem ordem para mirar na cabecinha [dos criminosos] e fogo", disse o político em cuja calva cabecinha a justiça mirou e disparou.
Witzel, que se fez notar em campanha por, ao lado de um deputado bolsonarista hoje preso, quebrar uma placa em homenagem à vereadora executada pelas milícias cariocas, Marielle Franco, protagonizou dois episódios tragicómicos a querer passar-se por justiceiro implacável.
No primeiro, saiu de dentro de um helicóptero, aterrou na ponte Rio-Niterói e aos pulos ensandecidos e aos socos na atmosfera festejou a execução pela polícia de um sequestrador de autocarro.
No segundo, meteu-se dentro de um helicóptero, sobrevoou uma região balnear e anunciou "vamos botar fim na bandidagem em Angra dos Reis". Um soldado a seu lado disparou então rajadas de tiros contra uma tenda, supostamente de toxicodependentes. A tenda, foi revelado depois, servia de orações a um culto evangélico.
Acabou afastado por, concluíram os tais 140 juízes ao longo do processo, ter participado num esquema de desvio de dinheiro público na área da saúde estadual relacionado com a crise do novo coronavírus.
Mas se Witzel é corrupto, se se travestiu de evangélico para caçar votos e se defende a morte como política de estado, por qual razão Bolsonaro, um praticante dos três pontos acima, rompeu com ele?
Porque Witzel, que até mandou fazer uma faixa de governador, de que jamais qualquer antecessor se lembrou, equivalente à usada pelos presidentes da República, disse numa entrevista televisiva morar no Palácio das Laranjeiras (sede do governo do Rio) mas sonhar com o Palácio do Planalto (sede do governo federal).
Ora, uma relação entre um ambicioso patológico, o agora ex-governador do Rio, e um inseguro doentio, o ainda presidente do Brasil, não tinha como dar certo.
E, logo após aquela entrevista, o segundo passou a tratar o primeiro, inclusivamente em discurso oficial, como "inimigo". "Temos inimigos externos e internos, os internos são os mais terríveis", afirmou.
A partir daí, Witzel passou a sofrer derrota após derrota na justiça do Rio, a mesma que o ex-ministro Sergio Moro acusou Bolsonaro de querer aparelhar, quando saiu do governo.
Entretanto, Bolsonaro, nas últimas semanas, tentou mas não conseguiu evitar que a gestão do seu governo na pandemia, causadora de mais de 400 mil mortes, fosse alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) liderada por parlamentares hostis.
A CPI da Pandemia pode ser a primeira derrota jurídica e política do presidente, cuja cabecinha, embora sem calva, está cada vez mais a prémio.
IN "DINHEIRO VIVO" - 19/05/21
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