11/03/2021

RUI TEIXEIRA

 .




Digitalização: 

o novo futuro dos trabalhadores

A crise ligada à pandemia está a acentuar as distorções no mercado de trabalho, sendo essencial uma requalificação cuidada para combater esse fenómeno.   

A necessidade aguça o engenho. Este é talvez um dos meus provérbios preferidos e, sem dúvida, um dos que se provou mais verdadeiro ao longo deste último ano. Desde março de 2020, com o início da crise pandémica, que constatamos diariamente que a necessidade e a adversidade não só aguçam o engenho como são fortes impulsionadoras da mudança. No caso do mundo do trabalho, foram as rodas dentadas de uma engrenagem que conduziram a uma transformação sem precedentes nas últimas décadas.

O modo como trabalhamos, vivemos e consumimos mudou de forma drástica. Ao longo deste último ano, aprendemos que o teletrabalho é exequível e produtivo, oferecendo uma flexibilidade que os trabalhadores já não querem perder e abrindo caminho a futuros modelos de trabalho, híbridos e mais equilibrados.

A pandemia alterou também a ordem vigente e veio posicionar a área de Recursos Humanos como um elemento central na estratégia das empresas, capaz de implementar uma abordagem people first e gerir prioridades cada dia mais relevantes, como a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, a implementação de novos modelos de trabalho ou a qualificação e requalificação dos colaboradores, capacitando-os para um futuro do trabalho pós-pandemia. 

E a justo título! Em resultado da crise pandémica, e dos seus efeitos na economia e na sociedade, assistimos hoje a uma rápida aceleração da transformação digital. Segundo o mais recente estudo do ManpowerGroup – Skills Revolution Reboot – a pandemia levou 30% das empresas portuguesas a agilizarem os seus planos de digitalização e automação (38% a nível global), contra apenas 16% que congelaram esses planos. E esta digitalização está a criar mais emprego. O mesmo estudo indica-nos que 90% dos empregadores portugueses que estão a automatizar planeiam aumentar ou manter o seu número de colaboradores, confirmando assim uma correlação positiva que no ManpowerGroup temos vindo a realçar há vários anos.

Sabemos, no entanto, que nem todas as organizações revelaram a mesma capacidade para acelerar os seus planos de transformação digital. Um ano depois do início da crise, assistimos hoje uma recuperação a duas velocidades, em forma de K, com setores a recuperar melhor e mais depressa e outros a ficarem cada vez mais para trás. Turismo, hotelaria e restauração são alguns dos setores mais fortemente impactados pelas consequências da pandemia, sofrendo uma forte redução na sua atividade, enquanto áreas como os cuidados de saúde, a logística, o retalho alimentar ou o e-commerce e os serviços tecnológicos estão em franco crescimento. Paralelamente, aumentou a procura por novas competências técnicas e comportamentais, bem como a dificuldade de atrair talento em perfis técnicos e tecnológicos. Verificamos, assim, um crescente desencontro entre as capacidades disponíveis e as necessidades das empresas, o que está a provocar um profundo desequilíbrio na força de trabalho, dividida entre os que têm ou não as competências desejadas para tirar partido da tecnologia.

Estamos perante um desafio decisivo: o de garantir o talento necessário para assegurar esta transformação digital, e o desenvolvimento dos negócios, ao mesmo tempo que agimos no sentido de proteger e recapacitar quem está a ser impactado de forma negativa. No ManpowerGroup procurámos, desde o início da pandemia, identificar e valorizar competências adjacentes que facilitem a transição e o acesso a funções com maior procura. Este modelo de atuação deve, por sua vez, ser reforçado e potenciado mediante programas de qualificação e requalificação das competências de futuro. Só com este esforço conjunto de empregadores, trabalhadores e sistema educativo poderemos construir novos percursos de desenvolvimento pessoal e profissional, reduzindo o desencontro de talento, melhorando a empregabilidade das pessoas e ajudando a minimizar o impacto económico e social da pandemia.

Renovar, requalificar, redistribuir. É este o nosso caminho. Cumpri-lo tornou-se crítico para ultrapassar a disparidade entre qualificações e modelos de negócios cada vez mais digitais. Só assim conseguiremos uma força de trabalho mais ágil e resiliente em momentos de disrupção, contribuindo para a construção de um mundo do trabalho melhor.

* Chief Operations Officer da ManpowerGroup Portugal

IN "EXAME IBFORMÁTICA" - 09/02/21

.

Sem comentários: