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Você já está no Clubhouse?
No Clubhouse não há espaço para imagens e escrita. Lá é tudo em áudio e ao vivo. Há temas de interesse e conversas em áudio ao vivo. Sim, nada é gravado. O que se diz no Clubhouse não fica nem no Clubhouse.
Se priva com o Elon Musk com a Oprah ou com o Drake, algumas das
personalidades cotidianas do Clubhouse, é só pedir um convite. Se não,
não desespere. O crescimento da rede está a ser exponencial no mundo e
em particular no Brasil. Em breve, aquele seu primo que trabalha em São
Paulo ou aquele tio que reformou-se e foi viver para a praia de Pipa vão
estar no Clubhouse.
Não espere encontrar lá fotos de gatinhos ou links para notícias
falsas. No Clubhouse não há espaço para imagens e escrita. Lá é tudo em
áudio e ao vivo. Há temas de interesse (qualquer um pode abrir uma sala
sobre um tópico ou entrar numa onde está a se falar sobre um assunto do
seu agrado) e conversas em áudio ao vivo. Sim, nada é gravado. O que se
diz no Clubhouse não fica nem no Clubhouse.
Em poucos meses o valor de mercado do site saltou de 100 milhões para 1 mil milhões de dólares. E tudo indica que é só o começo.
Sei não. Em tempos de total cacofonia, onde todos querem falar e
ninguém quer ouvir, fico a questionar-me se teria interesse em passar os
meus dias num parlatório virtual. Pode ser que mude de opinião, mas até
agora a coisa toda ainda soa como uma espécie de visão, digo, audição
do inferno.
2. Eu sei que em Portugal o Big Brother tornou-se num formato algo
anacrónico, estigmatizado do ponto de vista social e que é ignorado por
toda a sociedade que se diz pensante. Como não vejo desde a primeira
edição, não tenho opinião se o ostracismo a que está relegado pelos
intelectuais é justo ou não. Apenas anoto que faz falta objetos de
cultura de massa que possam ser vistos e debatidos por todos ao mesmo
tempo.
Após vinte anos de produção ininterrupta, o Big Brother Brasil
continua a fazer parar aquele país e a propor discussões interessantes,
participadas com paixão por donas de casa, sociólogos, jornalistas,
políticos e adolescentes fãs da Anitta.
A edição de 2021 começou há três semanas e está a questionar a
cultura de cancelamento, o papel das militâncias sociais e o fascismo de
sinal trocado (quando gente de esquerda tem posturas totalitárias,
impedindo de forma bruta qualquer dissenso).
Até mesmo as questões raciais fortes, algo que o Brasil tem muita
dificuldade em discutir, foram escarrapachadas no pequeno ecrã.
Como uma cebola que não pára de revelar camadas, o programa mostrou
dois homens negros (um deles assumindo pela primeira vez a sua
bissexualidade) a darem um beijo longo e profundo, ao vivo.
A conservadora sociedade brasileira cá fora, apesar de chocada, aprovou o gesto de carinho. Porém, os participantes de esquerda de dentro da casa não. Tanto fizeram que um dos beijoqueiros acabou por abandonar a edição. Virou uma estrela instantânea. Um jovem negro retinto, rapper, pobre e bissexual é o novo namoradinho do Brasil. Afinal, há também coisas boas a acontecer em 2021.
* Publicitário e Storyteller
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS" - 19/02/21
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