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Um filme pornográfico
não é o mesmo que sexo
Há que repensar a experiência do trabalho, educação e comércio e de outras indústrias de raiz, baseadas nos objetivos reais e alcançá-los com as tecnologias disponíveis, em vez de tentar replicar o velho, de forma digital.
Uma aula em Zoom não é o mesmo que uma aula presencial. Se antes
sofríamos com powerpoints que não terminavam, agora a nova ferramenta de
tortura são as videoconferências infindáveis. Crianças que choram,
pessoas com camisa, mas com calças de pijama, o cão que ladra, e tudo
isto com uma má iluminação, passaram a fazer parte do nosso dia a dia.
O caso da educação é provavelmente um dos mais óbvios a reinventar. A
educação continua a basear-se em metodologias que não se adequaram ao
longo dos séculos, e agora o que fizemos foi meter câmaras sobre essa
experiência. Claro que a eficácia vai ser muito inferior. Para começar,
uma sala de aula atual segmenta os alunos de uma forma simples, idade e
interesse (ex.: tenho 20 anos e quero estudar arquitetura), mas ignora
completamente o nível de conhecimento ou metodologia de aprendizagem de
cada aluno. Qual é o objetivo das aulas? Aprender da forma mais
eficiente para cada aluno e promover novas ideias? Então há que
desenhá-las para isso. Por exemplo, utilizando educação adaptativa em
que o aluno vai sendo avaliado continuamente e recebe conteúdos
adequados ao seu nível até chegar ao desejado.
Regressando ao trabalho, o que se menciona como “futuro do trabalho” e
“trabalho remoto” são diferentes, mas muitas vezes confundidos.
“Trabalho remoto” é trabalho à distância. O “futuro do trabalho” tem
como objetivo maximizar a experiência e a produtividade com a melhor
combinação possível. O contacto e a comunicação corporal ainda não se
conseguem substituir. A Apple não gastou 5 mil milhões de dólares num
edifício de escritórios, concebido como redondo, apenas por capricho.
Foi por acreditar na importância do contacto entre as pessoas e
maximizar os encontros entre as várias áreas da empresa. Da mesma forma
que o trabalho remoto (estou neste momento numa rede em Tulum, no
México) vai aumentar, mas não vai ser a única versão, e uma combinação
dos dois pode ser ótima.
Como diz o povo, às vezes sábio, “no meio está a virtude”. Sim, cada vez mais o virtual vai ter mais sentido, mas não como o estamos a fazer. O regresso ao que era normal já não tem sentido. Porque não aproveitar as mudanças excelentes que aconteceram neste período? Há que repensar a experiência do trabalho, educação e comércio e de outras indústrias de raiz, baseadas nos objetivos reais e alcançá-los com as tecnologias disponíveis, em vez de tentar replicar o velho, de forma digital. Não queremos mais filmes de baixo budget com maus atores e sem iluminação, venha o trabalho hollywoodesco.
* Actualmente o professor de ecommerce e marketing digital na Nova School of Business Lisboa e na universidade Tec de Monterrey na cidade do México.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS" - 27/01/21
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