16/12/2020

JORGE FONSECA DE ALMEIDA

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Prioridades erradas 

no plano de vacinação


Esperemos que esta petição seja sinal de alerta para o Governo e para os partidos que o suportam no Parlamento. Arrepiar caminho não é defeito, o que é inaceitável é persistir no erro depois de este ser detetado e conhecido.

O Governo não acerta. O plano de vacinação adotado apresenta várias lacunas e acima de tudo falha na identificação dos grupos prioritários, pondo em risco a vida de milhares de portugueses que, com as prioridades certas, poderiam ser salvos.

Ao contrário de outros países, como a França, a Alemanha e até a Espanha, que elegeram como critérios principais para o estabelecimento de prioridades na vacinação: 1) a redução do número de mortos e, 2) a redução das admissões unidades de cuidados intensivos, Portugal enveredou pelo caminho de vacinar primeiro pessoas cujo risco é muito baixo.

De facto, sabendo-se que a maioria dos elementos das forças de segurança e das forças armadas, são na generalidade jovens em boa forma física, e que este é um dos grupos menos atingido por consequências graves, e em que o número de admissões aos cuidados intensivos é ínfimo e o de mortes ainda menor, o Governo de António Costa resolve colocar estas pessoas no grupo prioritário em detrimento de pessoas de idade avançada e doentes com doenças pulmonares graves, diabéticos e outros cuja mortalidade tem sido elevada. São dezenas de milhares de membros das forças armadas e de segurança erradamente à frente de outras tantas pessoas que verdadeiramente se encontram em perigo de vida.

Porque envereda o Governo por esta estratégia sem sentido?

Uma estratégia mais cuidada permitiria poupar milhares de vidas que se vão perder nos meses de janeiro a abril que medeiam do início da vacinação até que comece, se tudo correr bem, a segunda fase dirigida aos grupos incluídos nessa fase.

Mas ainda estamos a tempo. É preciso retirar do primeiro grupo os que nele não precisam de estar e aí incluir os que mais risco correm de perder a vida nos primeiros meses de 2021 – exatamente os mais idosos e os doentes com doenças que em conjugação com a covid maior risco representam.

Não havendo especialistas habilitados em Portugal nesta identificação de prioridades – uma primeira tentativa feita pela DGS era atroz e esta segunda também não presta - sugerimos o recurso aos nossos parceiros europeus, nomeadamente franceses e alemães que dispõem de melhores especialistas e de políticos com mais bom senso.

Uma petição já está online no site da Assembleia da República a recolher assinaturas no sentido de retirar as forças de segurança do grupo de maior prioridade e de aí incluir pessoas mais idosas e pessoas com doenças pulmonares, oncológicas e outras que tenham um maior risco de morbilidade.

Esperemos que esta petição seja sinal de alerta para o Governo e para os partidos que o suportam no Parlamento. Arrepiar caminho não é defeito, o que é inaceitável é persistir no erro depois de este ser detetado e conhecido. 

* Economista

 "IN "JORNAL DE NEGÓCIOS" - 15/12/20

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