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O falso herói
A sucessão de contágios no círculo próximo de Donald Trump poderia ser exibida como um manual perfeito para explicar como se propaga o vírus da Covid-19. Em especial entre pessoas que convivem diariamente nos mesmos espaços e que, com frequência, contactam com outras no exterior, sem respeitar as mais elementares regras de segurança. Apesar do crescimento inegável da pandemia em todas as latitudes, grupos etários e classes sociais, para quem ainda tinha dúvidas sobre a necessidade de higienizar as mãos, usar máscara, manter distâncias de segurança e, em caso de infeção, poder ter acesso a testes rápidos e a um rastreio de qualidade em busca de todas as pessoas com quem contactou nos últimos dias, o exemplo de Trump e da sua West Wing é por demais esclarecedor. Quem continuar a achar que a Covid-19 é apenas mais uma “gripezinha” e que, um dia, desaparecerá “por magia”, como afirmaram os Presidentes do Brasil e dos EUA, teve no último fim de semana a prova da hipocrisia desses argumentos: logo que Trump e muitos dos membros do seu círculo restrito foram dados como positivos, de imediato foram acionados todos os alarmes e reunidos todos os meios – mesmo os mais excecionais ao nível médico, a fazer fé em alguns relatos – para tentar salvar o Presidente.
Frente à pandemia, Donald Trump sempre quis arvorar-se numa espécie de Capitão América, como se tivesse passado décadas congelado e, com isso, imune ao vírus. Tentou transmitir também essa ideia quando regressou à Casa Branca, após dias em observação hospitalar, e tirou a máscara para as objetivas dos fotógrafos, arvorando-se em herói indestrutível. Só que a vida, como sabemos, não é um filme da Marvel. Trump, perante as câmaras, pode armar-se em herói, mas um herói verdadeiro nunca deixaria morrer mais de 200 mil compatriotas, por incúria. E, ao tirar a máscara, de forma desafiante, sabe-se lá quanto mais não atirou também para a morte.
IN "VISÃO" - 08/10/20
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