O Avante em Nova Iorque
As receitas financeiras para o PCP não podem ser mais importantes que o ordenado das famílias portuguesas. Ou melhor, não deveriam ser mas estamos fartos de saber que uma coisa é o que dizem, outra é o que fazem.
Um amigo mandou-me uma anedota: “O professor disse aos alunos que tinham uma hora para fazer uma redacção que incluísse quatro tópicos: sexo, política, religião e mistério. O Joãozinho entregou a redacção passado um minuto. Tinha apenas uma linha e dizia «’Comeram’ a Graça Freitas. Meu Deus! Quem foi?»”.
Não tenho nada contra a diretora-geral da Saúde, acho até louvável a sua capacidade de resistência a tamanha exposição. Mas a forma como tudo isto foi gerido, desde andar atrás do PCP em vez de tomar as rédeas da coisa, até à confusão da partilha pública das regras a aplicar, é óbvio que o técnico é esmagado pelo político.
Assim que os festivais de Verão foram proibidos, escrevi que o Avante se iria realizar. No dia seguinte, António Costa disse logo que nem pensar em proibir acções políticas. A semana passada escrevi sobre o Avante. Ontem foi a vez do “New York Times” (NYT) – a vergonha é tal que o domínio que o PCP (com 10 em 230 deputados) consegue ter neste Governo chega aos Estados Unidos da América e é notícia no “New York Times”!
Vocês não sei mas eu só consigo sentir vergonha. Ser notícia fora de portas pelas piores razões é uma vergonha. Estar escarrapachado no NYT que o PS faz fretes ao partido comunista é uma vergonha. Só (aparentemente muitos d’) os portugueses não percebem.
O PS está refém dos partidos de esquerda desde que foi governo na legislatura anterior. O PCP vale 6% dos votos, mas Jerónimo de Sousa de parvo não tem nada e mostra sempre que pode o seu “quero, posso e mando”. Lembrem-se que foi ele que deu a dica para que a geringonça se tornasse possível.
O PCP precisa, como água para a boca, das receitas financeiras da festa do Avante e não quer abdicar delas seja pelo que for. Costa faz-lhe o frete, consciente de que ainda pode ir buscar votos aos “PCPianos” que percebem o nonsense da festa num ano atípico como este.
O que o PCP demonstra desprezar é a tal classe trabalhadora que já está ou vai ficar desempregada se um novo confinamento for necessário. As receitas financeiras para o Partido não podem ser mais importantes que o ordenado das famílias portuguesas. Ou melhor, não deveriam ser mas estamos fartos de saber que uma coisa é o que dizem, outra é o que fazem. O comércio em volta do local da festa vai mesmo fechar. Com o prejuízo que tal acarreta para toda aquela gente.
A contradição que a Festa do Avante representa em tudo o que têm sido as orientações da Direcção Geral de Saúde é brutal. Quando os funerais estão limitados à presença de 10 pessoas, as praias têm semáforos, os festivais de verão foram proibidos, os centros comerciais fecham às 20h00, a ingestão de álcool proibida em locais públicos, a Dra. Graça Freitas vem dizer que o número máximo de pessoas na Festa do Avante são 16.500? E que têm de estar sentadas em cadeiras? Ah, não… como o PCP rejeitou logo esta ideia, ela explicou que podem estar sentados no chão, elucidando aqui os totós, nós, que é o mesmo que cadeiras sem pernas!
Sem pernas ficamos nós se a seguir nos obrigarem a novo confinamento. E a propósito de confinamento, que história é essa de o país entrar em estado de contingência a 15 de Setembro? Há bruxos a adivinhar o futuro? Ou é mesmo a assumpção de que a Festa do Avante vai ser uma incubadora monumental de ‘covid’s’?
E depois? A responsabilidade é de quem? Como se resolve? Tudo para casa não é? Há 700.000 que podem ir… são os de sempre, os que recebem o seu ordenado ao fim do mês, quer chova, quer faça sol, quer trabalhem, quer não trabalhem. O problema é que os outros (em larga maioria), que pagam o volume de impostos que o permitem, estão a chegar a um ponto e a um número que vai fazer rebentar a corda!
Parece-me por demais evidente que o Leão já dorme com o número da troika debaixo da almofada. E também me parece evidente que os profissionais de saúde não terão meios físicos, materiais e emocionais para aguentar um impacto maior do que foi até aqui. Mesmo sendo pagos de forma privilegiada com jogos de futebol, cheira-me que não vai correr bem.
Quem me lê já percebeu que a minha relação com a Covid é pouco fundamentalista. Acho mais chato morrer de fome, acho igualmente chato morrer de qualquer outra coisa e todos os dias morre gente em maior número de outras coisas que não Covid.
A cereja no topo do bolo é a nova app que Costa já veio promover em toda a linha – já nos controlam os passos todos com o número de contribuinte, e ainda tiveram a sorte de poder acelerar o processo de controlo e repressão de liberdades individuais através do telemóvel. Tenho esperança que esta app seja um flop. Quem está positivo não o vai querer dizer e quem passar por alguém positivo não vai querer ficar fechado em casa. Um flop, graças a Deus!
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
03/09/20
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