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IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
03/09/20
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A nova vida das funerárias
Estas start-ups, que já começam a ganhar dimensão (e fundos), inspiram-se nas experiências da Amazon ou Uber para simplificar o processo. E os serviços vão além das cerimónias fúnebres, desde a comparação de preços, testamentos, gestão da morte digital à tanatologia.
Se há um negócio do qual todos seremos clientes são os serviços
funerários. No entanto, culturalmente, é um negócio complicado, visto
por muitos com superstição já que falar da morte pode atraí-la,
acreditam. Mas este setor com tantos clientes, mais do que a morte, tem
atraído muitos fundos de private equity dada a sua rentabilidade. Parece
que alguma luz está a iluminar o lado mais sombrio deste negócio, os
comportamentos abusivos. E com isto novas oportunidades de negócio para
empreendedores.
Esta pandemia trouxe à superfície um dos nossos medos mais profundos,
a morte, e com ela tornaram-se visíveis vários escândalos das
funerárias. Casos em Nova Iorque, em que estavam cadáveres em camiões à
porta das agências, caixões que eram substituídos nas cremações e depois
revendidos, entre muitas outras histórias macabras. É um momento
sensível, para quem encomenda um funeral, em que se consegue convencer
que gastar menos é um sinal de falta de respeito pelo falecido. Uma
compra única num momento de dor emocional, em que as pessoas não fazem a
pesquisa que fariam normalmente para aquisição de um serviço desse
valor (que supera em média os 1.000 euros, mas pode chegar a mais de 10
mil). Muitas agências só enviam os valores já na hora de cobrar. A
informação disponível é confusa e o processo é complicado, tanto a nível
da cerimónia como a nível burocrático. Tudo isto faz a indústria
propícia a abusos e não justificou a esperada transformação digital.
As agências funerárias, com um nível de digitalização muito baixo e
serviços que não se adequam às novas gerações, que preferem procurar
fornecedores no Google e ter um sítio ou aplicação onde escolher e tomar
as decisões, foram por muito tempo a única opção. Mas várias empresas a
nível internacional identificaram esta questão, e estão a tentar
melhorar o processo e humanizar o setor.
Estas start-ups, que já começam
a ganhar dimensão (e fundos), inspiram-se nas experiências da Amazon ou
Uber para simplificar o processo. E os serviços vão além das cerimónias
fúnebres, desde a comparação de preços, testamentos, gestão da morte
digital (o que fazer com passwords, redes sociais, serviços contratados,
etc.) à tanatologia. Este último em conjunto com grupos de apoio em
redes sociais pode ter um papel fundamental no processo de luto. Apesar
de ser um dos momentos mais traumáticos na vida de muitas pessoas,
poucas ainda procuram ajuda psicológica profissional ou externa. Estas
novas empresas (chamadas de funeral tech), ao desenvolver modelos de
plataforma que ligam os vários fornecedores atuais, estão a trazer
transparência e a criar facilidades ao mercado. E enquanto muitas
empresas grandes não têm interesse nesta simplificação, por razões
óbvias, pequenas agências funerárias têm uma oportunidade única para
ganhar dimensão com qualidade e um nível de serviços competitivo. Podem
apresentar os seus produtos a uma audiência maior, ter sítios de
e-commerce, criar uma melhor relação com o cliente e vender serviços por
adiantado. Porque não planear já algo inevitável e poupar o problema e
custo à família?
Quem decidir atualizar-se e adaptar os serviços às necessidades reais
dos clientes tem uma grande oportunidade no setor funerário e todos os
setores-satélites. Esta transformação já é imparável e se tudo correr
bem vai fazer o processo de luto menos difícil para muitas pessoas.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
03/09/20
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