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Constitucionalidade
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Constitucionalidade
e racismo
O racismo é um crime e não significa senão uma perturbação
mental dos racistas, uma doença do pensamento que assenta na estupidez.
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O espanto de ver o racismo na ordem do dia só não é maior do que ver o
Estado, como um todo, falhar no cumprimento do seu mais elementar
desígnio: o da dignificação de todos os seus cidadãos, independentemente
de género ou raça, idade ou estado civil, preferências sexuais ou
hábitos de leitura, apetites e dotes culinários, gosto musical ou peso e
altura. O Estado, desde o Governo às autarquias, dos tribunais às
forças de segurança, ofende-nos a todos quando, perante qualquer ofensa
racista, permite a impunidade e, pior, a sua normalização.
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Não existe legitimidade num poder que se demite de verificar os seus
princípios fundamentais. Se um sistema não pratica aquilo a que se
encontra obrigado torna-se um sistema corrupto, ilegítimo, ao qual não
mais seremos vinculados de boa-fé. Perante a escalada do ódio promovida
pelo aberrante reaparecimento do fascismo no nosso cenário, a
passividade do sistema é um crime contra a Constituição, pelo que é um
crime contra todos nós.
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É muito triste precisar de repetir: o racismo não é opinião. É crime.
Não está aberto à achação dos torpes, dos imbecis, dos covardes, dos
medrosos, dos que sabem que suas fortunas foram já feitas à custa da mão
escravizada ou subjugada dos povos de raças distintas. O racismo é um
crime e não significa senão uma perturbação mental dos racistas, uma
doença do pensamento que assenta na estupidez.
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A estupidez de quem se boicota a si mesmo é o limite a que chega a
decência. Depois disso, quando boicota os outros, já é foro da
indecência e pode de verdade configurar um crime. Concretamente, quando
nos metemos na vida dos outros precisamos de ter a certeza de que não é
para os diminuir nas suas naturezas. Lutar contra factores naturais,
como a raça, o género ou as preferências sexuais dos outros, só pode
ser, de facto, uma estupidez. Nesse domínio, cada um sabe de si. Aos
outros compete o respeito e o concurso para a paridade.
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De que estão à espera as nossas instituições para praticarem a
Constituição e responsabilizarem criminalmente quantos propagam o ódio
racista que reaparece sem pudor? De quantas mais vítimas se encherão
suas consciências? É senão com asco que vejo a desculpabilização
contínua dos que cometem este crime, cheios de desculpas brancas e
sangue negro que se lava por um horroroso esquecimento.
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Quero das instituições portuguesas uma actuação exemplar. Não posso
admitir que, contra a nossa Constituição, caminhemos como imbecis para a
catástrofe que se abateu em países como o Brasil. Seja à Esquerda, seja
à Direita, o ataque aos direitos fundamentais é insuportável, comporta
um ataque a todos nós, porque no momento em que descurarmos os direitos
fundamentais admitiremos a perversão do sistema ao qual já não teremos
como apelar. Um sistema corrompido nos seus fundamentos não serve de
garantia a ninguém. É um engenho descontrolado à mercê do abuso dos
criminosos de toda a espécie.
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IN" NOTÍCIAS MAGAZINE" - 24/08/20.
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