.
* Deputada do Bloco de Esquerda
IN "i"
09/07/20
.
Bolsonaro não é imune.
Nem vai ficar impune
O negacionismo não se deve à ignorância: é um instrumento político de massas bem desenhado pela extrema-direita.
“Gripezinha”, “resfriadinho”, será o que lhe quiser chamar, a verdade
(científica) é que Jair Bolsonaro tem covid-19. O Presidente da
República do Brasil, o mesmo que foi obrigado por um juiz federal a
cumprir as regras sanitárias “porque se recusou a usar a máscara em atos
públicos e locais no Distrito Federal, [numa] clara intenção de quebrar
as regras”, tornou-se um dos 1.668.589 infetados pelo coronavírus no
Brasil.
Dez dias antes, a mesma advertência tinha sido feita ao então
ministro da Educação, Abraham Weintraub, que participou em manifestações
para exigir o encerramento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do
Congresso através de uma “intervenção militar” de apoio a Bolsonaro na
Presidência. E talvez este parágrafo resuma as motivações da postura do
Governo brasileiro face à pandemia, muito mais graves do que a estupidez
individual.
A dúvida sobre quantas pessoas terão sido diretamente contaminadas
por um Presidente infetado e negligente é muito insignificante face aos
66.868 mortos pelo vírus no Brasil. Em qualquer circunstância, e mesmo
sabendo que é impossível erradicar a pandemia, este nível de mortandade
foi e continua a ser alimentado pela ausência de resposta governamental
num país em que os governadores de estados têm de lutar contra o
Presidente para impor distanciamento físico ou confinamento.
Muitos meios de comunicação destacaram com justificada ironia a
postura negacionista de Bolsonaro em relação à gravidade da pandemia, o
confronto com todos os que defendiam medidas de proteção, o incentivo a
manifestações populares contra as regras sanitárias, a desvalorização
das mortes e o grau zero de compaixão com o sofrimento de um país que
está a ser enterrado aos milhares.
Tudo isto ficou marcado em declarações que escandalizaram o mundo:
– “Muito do que tem ali é muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propaga”.
– “Eu acho que não vai chegar a esse ponto [do número de casos
confirmados nos EUA]. Até porque o brasileiro tem que ser estudado. Ele
não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali. Ele sai, mergulha e
não acontece nada com ele”.
– “Eu não sou coveiro”. (Questionado pela Folha de S. Paulo a respeito da quantidade de mortes)
– “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”. (Questionado sobre novo recorde de mortes)
– “Toma quem quiser, quem não quiser não toma. Quem é de direita toma
cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína”. (Sobre o medicamento que
não está provado que funcione)
– “A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”.
– “Medidas exageradas, ao meu ver, ou não, levaram um certo pânico à
sociedade no tocante ao vírus. Todo mundo sabia que, mais cedo ou mais
tarde, o vírus ia atingir uma parte considerável da população”. (Ao
anunciar diagnóstico positivo para o coronavírus?)
Bolsonaro mostrou como o negacionismo acaba em valas comuns. Não por
ignorância – o negacionismo é um instrumento político de massas bem
desenhado pela extrema-direita. Tem sempre como objetivo justificar a
desproteção do povo face a ameaças óbvias, como a emergência climática
ou o novo coronavírus, e, em contrapartida, proteger os interesses da
elite económica. É tão mais descarado quanto menos se deve à democracia.
No caso do Brasil, é utilizado para aprofundar a rutura social, manter o
ambiente social e político em tensão pré-violência e pré-golpe, para
justificar medidas autoritárias e desviar as atenções dos negócios sujos
da família Bolsonaro.
Não há muito a acrescentar, Bolsonaro é um fanático a cometer um
crime contra o povo. Dito isto, espero que recupere e viva para ser
julgado, não por um vírus, mas pelos tribunais e pelo povo brasileiro.
* Deputada do Bloco de Esquerda
IN "i"
09/07/20
.
Sem comentários:
Enviar um comentário