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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
20/06/20
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Cedo de mais, tarde de mais?
"Temos estado a brincar com o fogo"
A situação que se está a viver na Grande Lisboa pode comprometer o
"milagre" que parecia ser o nosso país no controlo do contágio por
covid-19. Não se pode dizer que a pandemia esteja controlada em
Portugal, sobretudo em redor da capital. Loures e Azambuja são focos
graves de contágio.
A economia precisava e precisa de oxigénio
para ir retomando, aos poucos, a atividade e para que não se criem
bolsas de pobreza ainda maiores. Mas a saúde pública tem de estar
primeiro, sob pena de um recuo ter efeitos ainda mais perversos nas
contas das empresas e do país.
Portugal terá fechado cedo de mais e
aberto certo de mais? Creio que fechou no momento certo, antes de uma
catástrofe. Depois do desastre a que assistimos em Itália e em Espanha
não havia outro caminho, confinar era a solução. Sobre a abertura é mais
difícil dar uma resposta totalmente certeira.
O equilíbrio entre a
economia e a saúde parece quase impossível. Há quem defenda que não
havia condições para desconfinar em segurança tão cedo. O processo de
reabertura de Portugal, após as medidas de mitigação do novo
coronavírus, foi "demasiado rápido" e feito antes do tempo, considera,
por exemplo, o investigador português Luís Teixeira da Costa, doutorado
pela universidade norte-americana Johns Hopkins e atualmente
investigador no hospital universitário de Oslo, na Noruega.
Os números registados em Portugal "mostram que não havia condições
objetivas para desconfinar em segurança", afirma o especialista. Luís
Teixeira da Costa refere que o valor do (já famoso) índice R, que indica
o número médio de contágios a partir de cada pessoa infetada com
covid-19, ainda era demasiado alto no país quando os portugueses
começaram a sair de casa. "Portugal com R 0,9 não podia levantar nada. É
demasiado arriscado."
Uma coisa é certa: já há mais de 1500
mortos e perto de 38 mil infetados. "Como era previsível, o número de
novas infeções não baixa pelo menos desde meados de maio", aponta Luís
Teixeira da Costa. "O desconfinamento foi demasiado rápido, passando-se
de uma fase à seguinte antes de se poderem avaliar os resultados." E diz
que era necessário esperar mais tempo entre medidas de desconfinamento
para se poder avaliar a evolução da pandemia e extrair-se um padrão. "Em
suma, temos estado a brincar com o fogo", afiança.
Nesta semana,
em Lagos, no Algarve, brincar com o fogo foi o que fizeram os
participantes de uma festa ilegal que já provocou mais de sete dezenas
de infetados. Brincar com o fogo é também continuar a ver a linha de
comboio da Azambuja apinhada de utentes que se deslocam para o Centro
Logístico da Azambuja. Brincar com o fogo é não testar, testar, testar e
ficar à espera da vacina que pode demorar um ano e meio a dois anos até
ser uma realidade.
O especialista diz que estamos a correr
riscos, comparando a situação a um doente "que em vez de tomar o
antibiótico até ao fim vê que já não tem febre e para de tomar". Uma boa
imagem do que está a acontecer.
No que respeita às consequências
económicas do confinamento, "estamos numa situação que é aberrante.
Estão todos a esforçar-se ao máximo para fingir que estamos prestes a
voltar à normalidade, e isso não faz sentido nenhum", acrescenta.
Todos
temos necessidade física, mental e financeira de começar a desconfinar,
mas o "fogo" queima e a análise de Luís Teixeira da Costa deve
fazer-nos refletir, de novo, nas nossas opções diárias.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
20/06/20
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