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IN "A BOLA"
28/05/20
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Memórias da
minha segunda Champions
A 28 de Maio de 1997, o Borussia Dortmund venceu a Juventus para conquistar a sua primeira e (até agora) única Champions League.
Foi
uma noite incrível para milhares de adeptos alemães, para as centenas
de pessoas envolvidas nesse caminho de sonho dentro do clube, e para
mim, um momento especial: ganhava a segunda Champions League consecutiva
e em dois clubes e países diferentes.
A minha melhor fase
enquanto jogador foi no Dortmund. Foi um período curto da minha
carreira, logo após uma lesão, que fora um dos motivos que me empurrou
para a saída da Juventus. Naquela época, a Serie A era o melhor
campeonato do mundo, e a Juventus a sua melhor equipa. Mas o futebol que
se jogava e vivia na Alemanha era muito especial: os estádios estavam
sempre cheios, os adeptos com uma atitude sempre positiva e de apoio, e
jogadores super motivados em resultado disso.
Já tinha jogado
duas vezes contra aquela equipa do Borussia, tanto na Taça UEFA como na
Champions League (94/95 e 95/ 96 respetivamente). Nesses jogos, tive a
oportunidade de analisar a equipa: muito boa a nível individual na
maioria das posições, muito forte física e tecnicamente. Quando cheguei,
pude confirmar que era mesmo assim. Aquele Borussia foi uma equipa em
que me pude integrar, trazer o meu jogo, e elevar o nível para estarmos
aptos a conquistar troféus internacionais.
Essa sempre foi a minha mensagem, tanto para dentro como para fora: vinha para Dortmund para ganhar a Champions League.
Ottmar
Hitzfeld era um treinador muito inteligente. Para mim, tinha duas
características que o destacavam, e que penso que foram fundamentais
para o seu sucesso:
O instinto que utilizava para a sua tomada de
decisão, que era fora do comum. Para um treinador não é só preciso saber
ler o jogo, mas também tomar decisões muito rápidas, baseadas em algo
mais do que a análise.
Em segundo lugar, a forma como lidava
com diferentes jogadores e personalidades, e o facto de não precisar de
formar uma hierarquia para ser respeitado. Era um líder que conseguia
agregar vários sublíderes dentro do grupo para poder discutir ideias.
Naquele tempo, em que a grande maioria dos treinadores ainda atuavam
como ditadores, era uma abordagem totalmente diferente. Este aspeto foi
para mim um grande ensinamento, algo que valorizo muito ainda hoje, como
treinador.
Aquela era uma equipa fantástica: jogadores como
Mathias Sammer, Jurgen Kohler, Andreas Moller, entre outros. Todos
juntos, sob a liderança do Ottmar, a debater ideias para o nosso jogo e a
levá-las adiante. Era uma equipa destinada ao sucesso. Quando decidi
integrar essa equipa, sabia que era para chegar e causar impacto, mesmo
havendo já muita qualidade presente.
Acredito que numa final,
tudo é possível. Sou muito positivo, e acreditava plenamente naquela
equipa. A 28 de Maio de 1997, isso provou-se: a Juventus era favorita,
mas tinha a certeza de que poderíamos ganhar aquele jogo. A Juventus
tinha feito grandes contratações, como Zidane ou Boksic, e era uma
equipa ainda mais forte do que aquela em que eu tinha estado durante
dois anos. Mas pela minha experiência de duas eliminatórias contra o
Dortmund, sabia que éramos uma boa equipa, e sabia que poderia trazer
algo mais para sairmos vitoriosos.
Os primeiros vinte minutos
desse jogo foram difíceis: a Juventus mostrou que tinha um grande
impacto. A certo ponto, disse ao Paul Lambert: «vês aquele tipo (era o
Zinedine Zidane)? Só tens de te preocupar com ele. Tudo o resto a meio
campo, eu trato. Mas não o largues!». Acredito que foi um dos momentos
chave do jogo.
Outro momento está relacionado com o tal
instinto do Ottmar: a entrada em jogo do Lars Ricken. Há momentos na
nossa vida em que há luzes, mas são poucos os que as conseguem ver. A
entrada do Lars Hickman, a sua capacidade de fazer aquele gesto técnico
na perfeição, no seu primeiro toque, 11 segundos depois de entrar, para
fazer o 3-1, revela tanto da sua capacidade como da visão do Ottmar
Hitzfeld.
Como jogador, sempre gostei de assumir a
responsabilidade do jogo, em campo. Acredito que seja algo que tenha
transportado e me tenha transportado, anos mais tarde, para a carreira
de treinador. Esse jogo, que guardo com muito carinho, foi um exemplo de
como encarar a competição, o momento decisivo que é uma final, e
executar um plano, adaptando-o à medida que o jogo evolui, para chegar
ao resultado desejado: a vitória numa das maiores competições do mundo
como a Champions League.
IN "A BOLA"
28/05/20
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