30/06/2020

FABÍOLA CARDOSO

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Desconfinar o amor, 
todos os amores

Sabemos bem como custa não poder dar aquele beijo, aquele abraço, manter a distância socialmente exigida. Para muitas pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais (LGBTI) esta não é uma situação nova, é o seu dia-a-dia.

Agora sabemos bem o que é ter medo de sair à rua. Infelizmente, esta situação absurda que vivemos durante o confinamento covid-19 fez-nos entender que é possível que na rua existam perigos que não vemos, mas sabemos que estão lá e nos podem magoar.

Sabemos agora o que é ter medo de trazer para a nossa casa, para a nossa família algo que lhes faça mal, que os magoe, mesmo que a nós não nos afecte.

Sabemos agora, todas as pessoas, como é desagradável usar sempre uma máscara, para nossa própria protecção em público.

Sabemos bem como custa não poder dar aquele beijo, aquele abraço, manter a distância socialmente exigida.

Para muitas pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais (LGBTI) esta não é uma situação nova, é o seu dia-a-dia em Portugal e principalmente em muitos outros países.

Um estudo, publicado a 14 de Maio pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA1), revela uma realidade assustadora: seis em cada dez pessoas LGBTI na Europa não dão a mão ao companheiro do mesmo sexo na rua por medo de assédio ou agressão.

"Muitas pessoas LGBTI continuam a viver nas sombras, com medo de serem ridicularizadas, discriminadas ou até atacadas" explicou o diretor da agência, Michael O'Flaherty. "Apesar de alguns países terem avançado na igualdade LGBTI, os resultados do nosso estudo revelam que houve muito poucos progressos reais, deixando muitas pessoas vulneráveis", acrescentou.

É uma realidade que não pode continuar.

Dia 9 de Maio realizou-se online, devido à situação pandémica, a primeira MOS2, Marcha do Orgulho LGBT de Santarém (talvez a primeira neste formato a nível mundial).

As Marchas LGBTI, que ocorrem essencialmente durante o mês de Junho, em homenagem aos motins de Stonewall, em 19693, são importantes momentos de visibilidade social, reivindicação de igualdade legal e celebração das nossas lutas e vidas. Orgulho por oposição à vergonha que muitas vezes a sociedade nos fez sentir.

Em tempos de incertezas, e perante um cenário mundial cinzento, é essencial rasgar o silêncio e aumentar o compromisso das instituições democráticas para com os direitos LGBTI.

O Bloco de Esquerda associa-se a este momento reafirmando o seu compromisso com uma estratégia pública de saúde que inclua as pessoas LGBTI, defendendo a inclusão curricular de temáticas de não discriminação e igualdade nas escolas e propondo a criação de uma rede de centros LGBT nas principais cidades do país, em parceria com as autarquias e associações. Defendemos ainda uma lei-quadro antidiscriminação que garanta a igualdade em todos os campos da vida quotidiana.

Nas palavras do Manifesto da MOS: "Marchamos porque queremos romper com o conservadorismo de um Distrito em que não ser heterossexual continua (ainda) a ter custos pessoais e profissionais severos.

Marchamos porque os direitos e garantias das pessoas LGBTI+ são uma parte significativa de uma agenda urgente e mais vasta, a do respeito pelos Direitos e garantias de todos".

Estamos, todos e todas, em Marcha por uma sociedade em que a diversidade sexual, e todas as outras, não tenham que se esconder atrás de máscaras.

O amor, todos os amores, devem ser vividos sem máscaras, respirar livremente, atrever-se a abraços e beijos, nas casas mas também nas ruas!

É tempo de desconfinar o amor e sair do armário do silêncio e do medo. Só assim as cores do arco-íris, símbolo de harmonia e diversidade, brilharão nos céus de um distrito e um país mais livres e democráticos.

* Professora. Activista social. Deputada do Bloco de Esquerda

IN "CORREIO DO RIBATEJO"
28/06/20

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