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* Activista estudantil e LGBT
IN "PÚBLICO"
19/05/20
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O ministro da Educação
foge à verdade
Não vamos ter o mesmo tempo para estudar, quer os alunos do ensino regular, quer os alunos do ensino profissional, cujos estágios começaram mais cedo porque a decisão foi deixada nas mãos das escolas — e o Ministro tem noção plena disso.
O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, fugiu à verdade esta segunda-feira e tem plena consciência disso. A Quarentena Académica
lançou, no passado fim-de-semana, uma carta aberta alertando para a
falta de respostas e sensatez do Ministério da Educação em relação aos
estudantes do ensino profissional. A carta refere que o Governo, pelo
Decreto-Lei n.º 14-G/2020 de 13 de Abril, infelizmente, delegou nas
escolas uma competência que devia ser universal e conjunta. O ministério
de Tiago Brandão Rodrigues, num acto no mínimo irresponsável, sacudiu
as suas responsabilidades para as direcções das escolas em matéria de
estágios curriculares e das Provas de Aptidão Profissional.
Fica
bem para as câmaras afirmar que vamos encontrar respostas para o ensino
profissional, mas isso de pouco vale quando, no período que antecede os exames nacionais,
os alunos vão estar ocupados com os estágios em vez de estarem a
preparar-se para os exames. Não vamos ter o mesmo tempo para estudar,
quer os alunos do ensino regular, quer os alunos do ensino profissional,
cujos estágios começaram mais cedo porque a decisão foi deixada nas
mãos das escolas — e o Ministro tem noção plena disso.
Esta segunda-feira, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, quando confrontado pela Agência Lusa sobre a Carta Aberta da Quarentena Académica,
referiu que sempre houve estágios nesta altura. Eu espero bem que o
Ministro tenha noção que é a primeira vez que vivemos uma pandemia desta
dimensão e, portanto, estamos perante uma nova realidade sem
precedentes que exige novas respostas e medidas. Passaram-se meses sem
terem sido dadas quaisquer indicações sobre os estágios e, de repente,
temos todos que ir trabalhar. O Governo tenta imitar a normalidade numa
situação excepcional. Vivemos tempos delicados e muito complexos que
exigem respostas adequadas.
Questiono-me sobre o que leva o actual executivo a pedir às pessoas para
ficarem em casa para se protegerem do vírus, enquanto obriga milhares
de estudantes a exporem-se ao contágio sem qualquer necessidade, visto
que estes alunos já tiveram formação prática em anos anteriores. É
preciso relembrar que esta pandemia exigiu, aos alunos e às suas
famílias, uma adaptação à realidade do ensino à distância e muitos dos
alunos não vão poder prosseguir estudos ou mesmo concluir o estágio por
razões de carência económica. Os alunos do ensino profissional tendem a
vir de agregados familiares mais carenciados e bem sabemos que a
adaptação ao ensino à distância não é igual para uma família de classe
média em comparação com as famílias mais pobres. Estas desigualdades,
exacerbadas pelas medidas de confinamento, não podem ser ignoradas.
O cancelamento imediato de todos os estágios era a resposta que devia
ter sido dada pelo Governo, como anteriormente já fizemos questão de
defender. Não faz sentido nenhum insistir em expor os alunos, e as suas
famílias, a um vírus tão perigoso como este, de uma forma completamente
gratuita. Grande parte dos estágios são não remunerados e o Governo
sabe-o bem. Isto faz-me crer que temos um ministro da Educação que
prefere servir os interesses das empresas que se aproveitam destes
estágios e não o bem-estar dos alunos.
Esta segunda-feira, o Ministro da Educação demonstrou a sua profunda
desconsideração para com os alunos do ensino profissional, algo que já é
recorrente neste Governo. Ao delegar a decisão e as responsabilidades
às direcções das escolas profissionais, está a introduzir um enorme
factor de risco aos alunos e às suas famílias. Estas escolas não vão
conseguir lidar com a complexidade e exigência que situação impõe, uma
vez que não dispõem do conjunto de especialistas e conhecimento técnico
necessário. Essa decisão deve ser assumida pelo Governo, já que dispõe
dos meios e da informação adequada e suficiente.
No entanto, não me surpreende que Tiago Brandão Rodrigues responda desta
forma ao ensino profissional, uma vez que o líder do seu executivo, na
conferência de imprensa sobre o regresso às aulas, utilizou apenas uma
frase para se referir ao ensino profissional. É esta a consideração que
merecemos, Senhor Ministro?
* Activista estudantil e LGBT
IN "PÚBLICO"
19/05/20
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