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IN "SOL"
01/02/20
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Para Lisboa,
uma nova atitude
A maior desvantagem é não se vislumbrar, até à data, qualquer ideia que marque, para Lisboa, uma nova atitude. A ‘piscina no Tejo’ é uma intenção dispendiosa importada de cidades sem a nossa proximidade a praias.
Lisboa é a Capital Verde Europeia em 2020, uma oportunidade para
fazer um balanço sobre de onde a cidade veio, em que ponto está, e para
onde pretende seguir. Como ninguém consegue de imaginar o futuro sem
conhecer o passado, o primeiro passo é prestar homenagem aos pioneiros
da Lisboa, Capital Verde Europeia, identificando quatro incontornáveis: o
Marquês de Pombal, Frederico Ressano Garcia, Duarte Pacheco e Gonçalo
Ribeiro Telles.
A Lisboa medieval não conhecia jardins públicos até à
introdução do Passeio Público no plano de reconstrução da cidade
pós-terramoto. O Marquês imaginou-o à imagem dos jardins por onde
passeou em Londres enquanto embaixador. O Passeio Público ocupava parte
da atual Avenida de Liberdade e serviu como modelo original de lazer e
‘salubridade’.
Até Ressano Garcia, os jardins de Lisboa eram ilhas de verde na
cidade sem ligação entre si. Com a energia de Rosa Araújo por detrás,
Ressano deu forma ao plano de expansão das Avenidas, ligando o centro ao
Campo Grande através de uma rede de monumentais eixos alinhados por
árvores, à imagem do que aprendera em Paris.
A ideia de criar um pulmão verde começou-se a esboçar em
oitocentos, mas coube a Duarte Pacheco a capacidade de execução, em
1934, clarificando, por decreto, responsabilidades e métodos de
expropriação para a criação do Parque Florestal de Monsanto, desenhado
por Keil do Amaral, e, até hoje, o grande pulmão da cidade,
correspondente a um décimo da área total do Município.
Na segunda metade do século XX, o discurso da sustentabilidade entrou
em Lisboa pela voz, tão clara quanto solitária, de Gonçalo Ribeiro
Telles. Ribeiro Telles, incorporando as ideias dos antecessores,
desenhou os jardins da Gulbenkian, defendeu o pulmão e o ‘continuo
natural’ de corredores ecológicos. Acrescentou ainda a defesa das hortas
urbanas e o uso de bacias de retenção para reter a água da chuva no
solo.
À luz destes quatro pioneiros, os objetivos da atual Lisboa 2020 são
pouco visionários, mas têm dois méritos. Por um lado, alinham com o
espírito dos antecessores, e, por outro lado, definem metas
quantificáveis. Apesar de se antever a dificuldade de compatibilizar
algumas metas com projetos em curso (como seja a redução do ruído com a
prevista duplicação de voos diários sobre Lisboa), a verdade é que será
possível medir, no final, o sucesso da iniciativa.
A maior desvantagem é não se vislumbrar, até à data, qualquer ideia
que marque, para Lisboa, uma nova atitude. A ‘piscina no Tejo’ é uma
intenção dispendiosa importada de cidades sem a nossa proximidade a
praias. Na área dos transportes urbanos, quando a nova era promete ser
alicerçada por plataformas digitais e veículos pequenos nos centros,
insiste-se numa solução com 100 anos de atraso, ligando o metro entre o
Rato e Santos e cortando a ligação do Lumiar ao centro. Só esta obra
custará mais de 260 milhões que seriam melhor empregues a fazer o
contrário, isto é, a ligar as freguesias da periferia ao centro, seja de
metro, elétrico rápido, ou ferrovia.
Esta semana foi anunciada mais uma ‘revolução’, a retirada dos
automóveis de toda a Baixa e a redução de veículos nas avenidas. Sugiro
que façam acompanhar esta iniciativa pela decisão de todos os eleitos
por Lisboa, começando pelo presidente da Câmara e executivo, andarem
apenas a pé ou de transporte público durante 2020. Como utente
quotidiana de transportes coletivos, sinto que estaria aqui uma real e
interessante oportunidade de mudança de paradigma, tanto para Lisboa,
como para o resto do país.
IN "SOL"
01/02/20
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