08/12/2019

SÓNIA ROLLAND SOBRAL

.



 Banco alimentar: 
a #RedeSocialReal no combate à
fome e as campanhas destrutivas

As redes sociais são um covil de notícias falsas, de maledicência e um recetor dos ódios que muitos destilam. Este fim-de-semana alimentou-se uma terrível e perigosa campanha contra o Banco Alimentar.

Este fim-de-semana realizou-se mais uma iniciativa do Banco Alimentar. O Presidente Marcelo apareceu novamente a apoiar e dar visibilidade a esta luta contra a pobreza. Os supermercados encheram-se de voluntários e de pessoas de boa vontade. As redes sociais encheram-se de mentiras e de mitos urbanos que tanto prejudicam a verdadeira #RedeSocialReal.

O Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2019 pelo Instituto nacional de estatística (INE) sobre rendimentos do ano anterior, indica que 21.6% da população estava em risco de pobreza ou exclusão social. Nesse mesmo estudo do INE verifica-se que a taxa de pobreza era de 43.4% e que descia para 17.2% após benefícios sociais, sendo estabelecido um limiar de 6014 euros líquidos anuais por adulto. Os números são assustadores, envergonham e preocupam qualquer português. Os Bancos Alimentares são Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que lutam contra o desperdício de produtos alimentares, encaminhando-os para distribuição gratuita às pessoas carenciadas.

Há 25 anos que os Bancos Alimentares contra a fome fazem campanhas de recolha de alimentos em supermercados para redistribuição de excedentes e dádivas de produtos alimentares pelas IPSSs por si apoiadas e selecionadas. No último fim-de-semana recolheram-se duas mil 130 toneladas de alimentos em mais de duas mil lojas em todo o país. Mais de 40 mil voluntários de todas as idades e de todas as crenças ajudaram nessa recolha de alimentos.

O mérito desta tentativa de combate à fome deve ser por todos reconhecido, tal como deve ser dado ao Banco Alimentar o mérito de possibilitar que muitos se envolvam pela primeira vez numa ação de voluntariado. Pelo país inteiro foram muitos os que se mobilizaram para recolher alimentos e ajudar nos armazéns. Felizes por colaborar, muitos conhecem a sensação de ser voluntario com a iniciativa do Banco Alimentar. Este ano a campanha contou com a colaboração dos clubes de futebol das ligas NOS e PRO e usou como mote o #RedeSocialReal, sendo que os likes e partilhas nas redes sociais passaram a constituir donativos.

Mas as redes sociais são também um covil de notícias falsas, de maledicência e um recetor dos ódios que muitos destilam. Este fim-de-semana alimentou-se uma terrível e perigosa campanha contra o Banco Alimentar: uma mentira repetida corre o risco de “passar” a uma “verdade” que nem o polígrafo consegue desmontar.

Há uma quantidade de mitos urbanos que envolvem:
  • Armazéns cheios de produtos estragados;
  • Beneficiários que deitam ao lixo produtos marca branca;
  • Voluntários em Mercedes e BMWs a desviarem sacos de alimentos;
  • Vantagens de alguns que se envolvem na causa, recebendo visibilidade e outros tipos de ganhos.
Mas a realidade é que:
  • Na sexta-feira passada os armazéns estavam limpos, organizados e prontos para receber as dádivas;
  • Se há beneficiários que deitam fora alimentos recolhidos pelo banco alimentar a culpa será das IPSS que são responsáveis pela redistribuição;
  • Os voluntários mais visíveis podem e devem ter a sua vida profissional e empresarial fora da associação.
Não sou tão inocente para acreditar que tudo é perfeito: imagino que infelizmente há pessoas (as “Raríssimas” deste Portugal) que tem comportamentos impróprios; que as grandes superfícies lucram com a iniciativa; que o iva não vai, pelo menos diretamente, para os necessitados. Mas o errado não se deve sobrepor aos méritos do Banco Alimentar. Deve haver transparência e todas outras iniciativas ou ideias de combate à pobreza são bem-vindas. Li muitos comentários na linha do “por isso não dou ao banco alimentar”, seguidas de comentários de ódio. Vi pessoas a destratar jovens voluntários acusando-os de pertencer a um bando de malfeitores. Quem quer e pode ajuda, quem não quer ou não pode não necessita de dar argumentos para não o fazer.

Ao alimentarem-se mitos urbanos e fake news prejudica-se toda uma organização de grande mérito. Nenhuma organização da dimensão do banco alimentar é perfeita mas o caminho é contribuir para a luta contra a fome e melhorar as condições de vida de quem necessita. Uma #RedeSocialReal de boa vontade onde reina o prazer genuíno de ajudar uma tão nobre causa.

IN "OBSERVADOR"
03/12/19

.

Sem comentários: