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IN "OBSERVADOR"
07/12/19
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A pit stop de
Greta Thunberg em Portugal
A jovem ativista não teve espaço na agenda para se encontrar com a instituição parlamentar. Tal como os seus jovens seguidores recusaram em junho o convite para apresentarem propostas aos partidos.
Em tempos de mediatização global da causa climática, do meu ponto de
vista, importa que a sociedade se foque um pouco mais, para que, juntos,
consigamos mais soluções e menos ruído. É isso que se espera da Cimeira
do Clima que decorre em Madrid e que conta com a participação de 50
líderes mundiais. Participam também muitas outras entidades e
personalidades, incluindo a conhecida Greta Thunberg, que esta semana
fez uma espécie de “pit stop” em Portugal. E não foi mais do que uma
“pit stop”: claque a apoiar a receção, transmissão na comunicação
social, acompanhamento do “regresso à prova”, tudo marcado com cartazes e
palavras de incentivo.
Greta Thunberg desempenha um papel de
relevância global e tanto ela como a máquina que a acompanha estão muito
conscientes desse papel: é uma voz de consciência coletiva que vai
alertando toda a sociedade para a questão das alterações climáticas e
para a necessidade de reverter o processo com o objetivo de salvar o
planeta. Tenho para mim que o planeta não corre perigo, há-de por cá
andar mais uns milhares de milhões de anos. Quem corre perigo é a
própria Humanidade, e muitas outras espécies, pelo que talvez não fosse
pior recentrar a comunicação.
Greta Thunberg é a mentora de um movimento global que integra milhões
de jovens, promotor de ciclos de greves climáticas que levam estes
jovens para a rua, em protesto contra as alterações climáticas e em
defesa de atitudes que as revertam. E este movimento é apenas isto,
quando o necessário vai muito além disto. São necessárias medidas
políticas de fundo, investimento em inovação e tecnologia e um forte
compromisso transversal a todas as comunidades: científica, empresarial e
política.
O erro de Greta Thunberg e dos jovens que a acompanham é
precisamente não integrarem este compromisso! A jovem ativista sueca
não encontrou espaço na sua agenda para se encontrar com a instituição
parlamentar de Portugal, onde estão representadas as mais importantes
forças políticas do país, onde se tomam decisões que podem mudar o curso
dos acontecimentos. Também os seus jovens seguidores estão disponíveis
para trocar a escola pela rua em manifestações ruidosas, mas recusaram
em junho o convite para apresentarem as suas reivindicações e propostas
aos partidos políticos em tempo de elaboração dos programas políticos.
Alegaram que não queriam fazer política. Esta atitude deixa-me perplexa e
não a considero mais do que conversa de miúdos que se recusam a
participar de forma construtiva sem saberem bem o que estão a responder.
Tudo na vida é política, passa pela política, ou tem que ver com
política! Se acham que participar numa greve e numa manifestação não é
fazer política, regressem às escolas, de onde possivelmente não deveriam
ter saído.
Algumas entidades, incluindo políticos, correram a
receber a jovem ativista, apenas para contribuírem para a gigantesca
operação mediática montada ao estilo “red carpet”, como se se tratasse
de uma estrela pop. É bom ficar na fotografia que aparece na capa do
jornal, ao lado da miúda sensação! Mas é mau, muito mau, não ter
propostas para aproveitar melhor as energias renováveis, reduzir as
emissões de gases que provocam efeito de estufa, reciclar materiais e
salvar rios.
Esta rebeldia juvenil aponta na direção certa, mas
vai pelo caminho errado: marginalizar os partidos políticos, os seus
representantes e os decisores apenas cria um substrato de radicalismo
sobre o qual assenta uma causa fundamental, sem que sobre ela existam
propostas que sustentem alterações de fundo ao comportamento coletivo. O
que se pede é participação ativa na solução!
IN "OBSERVADOR"
07/12/19
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