17/12/2019

JOSÉ CABRITA SARAIVA

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Adultos com falta de juízo

Segundo a comunidade científica, pode já estar em curso uma catástrofe ambiental de proporções inauditas. Ou seja, talvez estejamos a correr em direção ao abismo.

A Cimeira para as Alterações Climáticas promovida pelas Nações Unidas terminou dois dias depois do previsto com resultados dececionantes, para não dizer pífios. Dos grandes poluidores, só praticamente a União Europeia deu mostras de querer realmente reduzir as emissões de carbono, ponto essencial para manter o equilíbrio no planeta. Mas a atitude de laissez-faire dos gigantes como a China e os EUA fará com que provavelmente a boa vontade da Europa se torne quase irrelevante. 

Dir-se-ia que as grandes potências, graças à sua riqueza e capacidade tecnológica, eram até quem tinha mais condições para liderar este processo. Mas sucede precisamente o contrário. Porquê? Há uma explicação simples para isso, que tem que ver com o modelo económico. O capitalismo olha para a sociedade como uma competição permanente. Não basta uma empresa ser boa – tem de ser melhor que a do lado. Tem sempre de produzir mais, vender mais, conquistar mais mercado, etc., etc. 

Por isso, tantas pessoas continuam a correr freneticamente de um lado para o outro e a trabalhar muito mais horas do que se poderia imaginar quando foram introduzidas as primeiras máquinas. Na mesma linha, também os países competem entre si, seja para manter e reforçar a hegemonia, seja para a disputar ou, no caso dos mais pequenos, para baterem os seus concorrentes diretos. Ninguém quer ficar para trás, e por isso os Governos se mostram tão relutantes em tomar medidas que poderiam prejudicar a sua economia. Mas para onde nos leva esta corrida desenfreada? Este dogma de que as economias têm de crescer ano após ano? Esta vertigem de produção, consumo e desperdício? 

Segundo a comunidade científica, pode já estar em curso uma catástrofe ambiental de proporções inauditas. Ou seja, talvez estejamos a correr em direção ao abismo. Mas, enquanto grupos de jovens tentam alertar para esse facto, os políticos continuam a assobiar para o lado como se nada se passasse. Será possível que as crianças tenham mais juízo que os adultos?

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16/12/19

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