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IN "OBSERVADOR"
13/11/19
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Vão fechar-nos
a torneira da água
Sendo nós o famoso planeta azul, como vai escassear a água? Ora 97,5% da água do mundo é salgada, porém dos 2,5% de água doce do mundo, apenas 0,02% está disponível.
O ser humano não consegue sobreviver mais do que três dias sem água.
Aquele chavão que todos aprendemos nas aulas de ciências, certo? Talvez
por todos já o sabermos é que, apenas em 2010, a ONU declarou a água
como um direito humano. Por acaso, a União Europeia, cujo grande pilar é
a proteção dos direitos humanos, ainda não o fez, decerto por falta de
tempo.
Ora, nos últimos tempos ouvimos Trump a dizer, de forma enfática, tal
qual uma criança que fala do seu brinquedo preferido, que gosta do
petróleo. ‘I like oil!’ disse, com o seu gesticular de mãos ao longo do
corpo e palmas das mãos viradas para baixo, num claro sinal de PNL –
domínio de território.
Contudo, não sei se o Trump está a par, mas o petróleo não será o
futuro. Alguém que lhe dê esta informação dramática, por favor. Temos
outro recurso, muito mais importante, que deveríamos estar a preservar.
Sim, neste momento já perdemos a atenção de Trump. Preservar, é uma
palavra que não existe no dicionário da atual casa branca.
Falamos da água.
Sendo
a água um essencial à sobrevivência humana e tendo em conta que, uma em
cada dez pessoas não tem acesso á mesma, estamos desde logo a falhar.
Falha que se vai agravar ainda mais dada a escassez deste recurso, a sua
má gestão e os lobbies que estão a surgir como cogumelos.
Agora,
quem tem mais água doce no mundo? O Brasil. Aquele país que está nas
mãos do Bolsonaro, que disse que o derrame de petróleo no Nordeste não
era problema do Brasil, porque o petróleo era de origem Venezuelana. O
Brasil é dono de 5,661 bilhões de metros cúbicos, isto é 14 % da reserva
mundial de água. Quase que podíamos dizer que o Brasil será a futura
“Arábia Saudita”.
Porque estamos a gerir mal este recurso tão essencial à nossa
existência? Em primeiro julgamos que é infinito. Por isso damo-nos ao
luxo de desperdiçar. Fechou a torneira enquanto ensaboava as mãos? Sim,
já se ouvem os discursos que não são os hábitos do quotidiano, são antes
as grandes empresas.
Ora as grandes empresas, produzem a T-shirt que
tem vestida e para isso gastam 2,700 litros de água, mais ou menos a
quantidade de água que um ser humano bebe em três anos. Apenas uma
T-shirt!
Para nota, fica que o par de calças de ganga bebeu 11 mil
litros de água. Vestirmo-nos é uma das maiores formas de sorver recursos
do planeta.
Também está neste pódio de consumo de água a
agricultura. Para regar os campos que nos alimentam gastamos em média
70% da água potável. A agricultura não consome apenas a água tem ainda o
dom da contaminação. Os inseticidas, herbicidas, etc contaminam os
solos, que por sua vez, contaminam os lençóis freáticos. Na China, 80%
da água subterrânea está contaminada.
Sabendo da importância da
água desde de 1993 que se declarou o dia 22 de março, o dia mundial da
água. O que se faz com este dia em particular? Nada. É mais uma
efeméride para as escolas assinalarem.
Sendo nós o famoso planeta azul, como vai escassear a água? Ora,
97,5% da água do mundo é salgada, porém dos 2,5% de água doce do mundo,
apenas 0,02% está disponível.
Falar nas alterações climáticas e na
proteção ambiental é entrar num campo pantanoso. Se se falar de forma
muito agressiva é histeria, por sua vez, falar com termos mais técnicos é
erudição. Sim, será sempre a forma a ser analisada e nunca o conteúdo!
No
caso da água precisamos mesmo de atentar ao conteúdo. Melhor às letras
pequeninas do contrato. Que o digam Paços de Ferreira e Barcelos, que já
sentiram na pele os efeitos das concessões feitas a empresas de
tratamento de águas. Paços de Ferreira paga a água mais cara do país.
Empresas
como a Suez, Sacyr, vão deixando as suas marcas por onde passam. Entre
2000 e 2015 cidades como Paris e Berlim lutaram pela remunicipalização
dos serviços de água. Tudo, porque as concessões feitas por períodos de
20/30 anos era um negócio altamente capitalista. Em muitos desses
contratos há a garantia que, no caso de não haver o consumo de água
expectável, os municípios suportam a perda de lucro. Ou seja, o erário
público é chamado a repor o equilíbrio contratual.
Sendo, este um
direito humano importa saber quem controla a nossa água. Vários países
formam alvos de pressão por parte da Comissão Europeia para privatizarem
o setor da água. Irlanda, Grécia, Portugal, Itália, sentiram essa
pressão nos memorandos da Troika.
O que se tem vindo a fazer é tratar um direito humano como sendo uma
mercadoria. Não há qualquer tipo de transparência nos processos.
Durante
décadas assistimos a conflitos violentos e barulhentos sempre com a
mesma questão de fundo: o petróleo. No entanto, no silêncio decorrem
outras guerras às quais devemos estar atentos.
Corremos o risco de
ficarmos reféns de um conjunto de interesses instalados. No caso de
Paços de Ferreira, para se libertar do contrato da concessionária, teria
de pagar uma dívida de milhões ao longo de 528 anos!
Quem já viu
isto, formam os novos barões da água. Goldman Sachs e vários bancos de
Wall street já estão a comprar água e não será para distribuírem água
engarrafada para a Sonae vender na sua cadeia de supermercados. Será
mesmo para deter poder sobre um dos recursos mais valiosos do planeta.
Vamos deixar o Trump continuar a defender o seu petróleo e vamos abrir
bem os olhos sobre os negócios em torno da água. Por falar abrir bem os
olhos, de manhã fechou a torneira enquanto escovou os dentes? Ou estava
ensonado?
IN "OBSERVADOR"
13/11/19
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