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IN "SOL"
09/10/19
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«1 dia sem ti,
são 24 horas
de infelicidade»
A felicidade é, pois, habitualmente, medida em função das nossas expetativas. Se temos expetativas demasiado altas, é natural que nos pareça que tudo fica aquém do que sonhámos e, como tal, nos sintamos infelizes. Pelo contrário, quando tudo corre como gostaríamos, parece que somos felizes.
Esta frase, fotografada pela Ângela, em Alenquer, apresenta uma
bonita declaração de amor: «1 dia sem ti, são 24 horas de infelicidade».
Apesar da vírgula, que não deveria ter sido colocada, a
pausa que esta provoca faz ecoar um suspiro pela tristeza que o
afastamento da pessoa amada suscita. Adicionalmente, o facto de os
números terem sido escritos com algarismos e não com palavras, permite
equacionar mais visivelmente a diferença que, aparentemente, parece
existir entre «1 dia» e «24 horas». Quando se ama verdadeiramente,
passar um dia sem a pessoa amada pode parecer uma eternidade.
Efetivamente, o amor exige presença. Se não for a presença física,
pelo menos que haja a presença espiritual. Por contraposição, a ausência
do ser amado causa infelicidade.
Ora, a infelicidade é um conceito facilmente definível por
contraposição a felicidade, conceito que é em si mesmo muito mais
difícil de definir.
Para algumas pessoas a felicidade passa por ter muitos bens
materiais. Pelo contrário, para outros, a felicidade assenta sobretudo
na presença de bens imateriais, como ter saúde, assistir a uma peça de
teatro ou um espetáculo de bailado, estar com os amigos, e saber que se é
querido.
Mo Gawdat, engenheiro egípcio, escreveu o livro A Equação da
Felicidade, em que procurou analisar o conceito de felicidade,
aplicou‑lhe uma análise de engenharia, ou seja, criou um algoritmo e
traduziu‑o para uma equação: «Comecei por fazer uma lista com momentos
da minha vida em que me senti feliz. Cruzei gráficos para tentar
encontrar um sentimento comum em todos eles e fiquei surpreendido. A
felicidade é muito simples e pode ser resumida desta forma: é igual ou
superior à diferença entre acontecimentos da sua vida e as suas
expetativas do que a vida deve ser. Portanto, a infelicidade não vem
tanto do que lhe acontece de bom ou mau, mas das expetativas que tem e
não são correspondidas. A infelicidade é o seu cérebro a resolver a
equação da felicidade e a garantir que está tudo bem. Se não estiver,
ele avisa‑a através de uma emoção: infelicidade, preocupação ou
vergonha. Se um acontecimento iguala as suas expetativas o seu cérebro
faz algo espetacular: cala‑se. Não se queixa de nada e quando isso
acontece é porque está feliz».
A felicidade é, pois, habitualmente, medida em função das nossas
expetativas. Se temos expetativas demasiado altas, é natural que nos
pareça que tudo fica aquém do que sonhámos e, como tal, nos sintamos
infelizes. Pelo contrário, quando tudo corre como gostaríamos, parece
que somos felizes.
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No entanto, este tipo de análise, que é a mais comum, parece-me estar
desviada do verdadeiro conceito de felicidade. Afinal, como diz Alberto
Caeiro: «Nem tudo é dias de sol, / E a chuva, quando falta muito,
pede-se. / Por isso tomo a infelicidade com a felicidade / Naturalmente,
como quem não estranha / Que haja montanhas e planícies / E que haja
rochedos e erva... // O que é preciso é ser-se natural e calmo / Na
felicidade ou na infelicidade, / Sentir como quem olha, / Pensar como
quem anda».
É muito importante, como diz Alberto Caeiro, tomar tudo com naturalidade, tanto a felicidade como a infelicidade.
Diz, sabiamente, Tolentino Mendonça, em O Pequeno Caminho das Grandes
Perguntas: «Vivemos dobrados sobre o restrito, aprisionados a um
quotidiano utilitarista e estreito em que a vida perde a sua
respiração». E ainda: «Idealizamos de tal maneira o que pode ser a vida
que ela arrisca-se a perder o jogo por falta de comparência, sequestrada
num plano cada vez mais mental e abstrato». E diagnostica o que está
errado nesta análise mental e abstrata: «Não é um problema de
conhecimento, é uma questão de olhar». «A vida é o que permanece, apesar
de tudo: a vida embaciada, minúscula, imprecisa e preciosa como nenhuma
outra coisa. O tesouro é a vida em si: o real do viver, a existência
não como trégua, mas como pacto, conhecido e aceite na sua fascinante e
dolorosa totalidade».
A «vida embaciada» é efetivamente a vida, aquela que acontece todos
os dias, e a felicidade passa por saber aceitá-la tal como ela é. Assim
saibamos ser felizes com a vida que temos, guiando-nos por um destino
que nos oriente, porque sem um destino é muito difícil navegar…
IN "SOL"
09/10/19
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