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IN "VISÃO"
03/10/19
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Furacões, conspirações
e surpresas
Depois de tantos erros e desvarios no último ano e meio, nos minutos finais da partida Rui Rio parece cheio de energia e focado em não deixar cair nenhuma bola no chão. Se ao menos a habilidade para fazer campanha equivalesse à capacidade para fazer oposição e governar, teriam menos razões de desalento os eleitores à direita…
Está feita a vontade dos que se queixavam
que a campanha legislativa estava “morna” e “chata” – como se a política
se medisse por ataques e contragolpes. O furação Tancos chegou a meio
do período de campanha e foi um ciclónico desvario.
Depois
de o ex-ministro da Defesa de António Costa ter sido acusado pelo
Ministério Público de abuso de poder, denegação de Justiça e
prevaricação e proibido do exercício de funções, durante umas horas o
discurso dos partidos foi contido, mas rapidamente mudou de tom. A
mudança mais drástica veio de Rui Rio, o mesmo que antes tinha dito que
nunca comentaria assuntos de Justiça: “Não vejo como [António Costa] não
tenha aqui responsabilidades. Perante um assunto desta gravidade, o
ministro da Defesa não avisa o primeiro-ministro?
Costa ou sabe ou
não sabe, e ambas as hipóteses são más”, afirmou o líder do PSD,
galvanizado pelas subidas nas sondagens nos dias anteriores.
A
sua performance na campanha tem surpreendido meio mundo, até mesmo nas
hostes laranjas que voltaram a acreditar que seria possível ter um
resultado a 6 de outubro melhor do que embaraçoso.
Surpreendente
pela negativa tem sido a prestação de António Costa e do Partido
Socialista, com uma capacidade de reação demasiado lenta para um período
em que cada minuto conta... e pode valer votos. Não só não se demarcou
estrategicamente de Azeredo Lopes e do gravíssimo alegado encobrimento
do “achamento” (e abrindo a legítima dúvida de porque não o fez) como
tem deixado crescer a tese dentro do PS (e fora dele) de que houve uma
conspiração do Ministério Público para atacar o Governo e o Presidente
da República. Conspiração essa que, segundo o Expresso, na tese do PS
inclui a ex-procuradora Joana Marques Vidal, não reconduzida no cargo.
Se
em São Bento se fala de complôs, em Belém alinha-se pela mesma bitola
conspirativa, ao fazer-se passar a tese de que a deixa do “papagaio-mor
do reino”, que se referiria ao Presidente da República, surgiu via PS
para distrair de Costa as atenções. Aparentemente não há inocentes nem
coincidências nesta história.
Um vendaval político com eleições à
porta significa uma excelente oportunidade. Depois de tantos erros e
desvarios no último ano e meio, nos minutos finais da partida Rui Rio
parece cheio de energia e focado em não deixar cair nenhuma bola no
chão. Se ao menos a habilidade para fazer campanha equivalesse à
capacidade para fazer oposição e governar, teriam menos razões de
desalento os eleitores à direita… Até ao apitar do árbitro – que é como
quem diz, ao voto do povo – está-se a jogo.
E tudo indica que as últimas
horas serão nada menos do que emocionantes.
IN "VISÃO"
03/10/19
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