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29/08/19
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Bolsonaro e o silêncio
do Governo português
Se há algo que devia unir a humanidade é a inescapável conclusão de que todos precisamos de oxigénio. Se isso bastasse para salvar a Amazónia poderíamos dormir descansados.
A Amazónia está a arder. Já todos vimos as imagens, na descrição da
tragédia não resta muito espaço para as palavras. A Amazónia faz parte
do nosso património afetivo e de sobrevivência com o planeta que
habitamos. Se há algo que devia unir a humanidade é a inescapável
conclusão de que todos precisamos de oxigénio. Se isso bastasse para
salvar a Amazónia poderíamos dormir descansados. Não basta, e é preciso
entender porquê.
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Bíblia, Boi e Bala. Um B para a frente parlamentar evangélica,
defensora da generalização da “cura gay” e outros atentados aos direitos
humanos. Um B para agrupar todos os parlamentares com interesses no
agronegócio, também chamada de bancada ruralista. Um B para os
armamentistas, frente parlamentar de militares e polícias convictos de
que os problemas de segurança do Brasil se resolvem pondo uma arma na
mão e uma bomba nas garantias democráticas de cada cidadão. E um B para
os unir a todos: Bolsonaro.
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O crescimento das bancadas suprapartidárias dos 3B’s não fazia
adivinhar nada de bom. Em 2014 foi eleito o Congresso mais
ultraconservador da democracia brasileira e a partir daí o seu poder não
parou de aumentar .
Foram a base do golpe contra Dilma Rousseff, do
apoio a Temer e da eleição de Bolsonaro. Não o fizeram em nome do
progresso, dos direitos humanos, da justiça social, da proteção
ambiental e das liberdades democráticas no Brasil. Mas receberam em
troca muitos favores.
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Um dos setores mais poderosos é o da agropecuária, atividade
exportadora encarada como um dos suportes da economia brasileira. A
agenda política desse setor serve um único objetivo: expandir o
agronegócio aumentando a área de exploração e as margens de lucro.
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Para isso é preciso 1) enfraquecer a proteção dos indígenas e ocupar
os seus territórios protegidos; 2) alargar a malha da definição de
trabalho escravo e indigno, no qual estão envolvidos alguns dos
parlamentares desta bancada; 3) acabar com as penalizações por crimes
ambientais; 4) liberalizar o desmatamento e o tipo de atividade
permitida (como mineração); 5) flexibilizar a legislação dos
agrotóxicos; 6) enfraquecer, e se possível criminalizar, as ONG’s
ambientais.
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Com a tomada de posse de Jair Bolsonaro esta agenda ganhou novo
alento. O agronegócio deixou de ter contatos com o Governo e passou a
ser o Governo. Para estes ruralistas, na sua maioria habituados a agir
fora de lei, Bolsonaro disse o que precisavam de ouvir:
“— Não pode continuar assim. 61% do Brasil você não pode fazer nada.
Tem locais aqui que você, para produzir uma coisa, você não vai produzir
porque você não pode (andar) em uma linha reta para exportar, tem que
fazer uma curva enorme para desviar de um quilombola, uma terra
indígena, uma área de preservação ambiental. Estão acabando com o
Brasil. Se eu fosse fazendeiro, eu não vou falar o que eu faria, não,
mas eu deixaria de ter dor de cabeça.”
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Em poucos meses multiplicaram-se ataques e assassinatos nos
acampamentos do Movimento dos Sem Terra e nas reservas indígenas. Até
que no dia 10 de agosto um grupo de ruralistas quis ser a mão cega que
interpreta e ateia os desígnios do Presidente. No Dia do Fogo, dezenas
de queimadas ilegais invadiram áreas protegidas da Amazónia sem que os
alertas iniciais tivessem sido escutados.
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As mobilizações de repúdio internacional pela destruição da Amazónia
não tardaram. Mobilizações populares em todo o mundo, cientistas,
artistas, ONU, responsáveis internacionais fizeram saber da sua
preocupação referindo-se explicitamente às queimadas. Só Trump alinhou
com o amigo Bolsonaro.
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Não há duvida de que a solidariedade internacional é necessária.
Independentemente das crises diplomáticas, do acordo UE- Mercosul (ele
próprio fertilizante do agronegócio, dos ataques ambientais e da
insegurança alimentar), o Brasil deve receber toda a ajuda que precisar
para apagar aqueles fogos.
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Mas não há água que apague o Dia do Fogo. De que serve, e a quem se
dirige, a solidariedade que omite os responsáveis pelo empoderamento dos
ruralistas, que não censura as políticas anti ambientais do Governo,
que não condena ataques e assassinatos a ONGs e povos indígenas.
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A Amazónia está a arder em nome do lucro do agronegócio protegido por
um governo com um nome: Jair Bolsonaro. Ao esconder isso em palavras
surdas atrás do biombo da solidariedade, a atitude do Governo português
não esteve à altura. Há momentos em que o silêncio é cúmplice e este não
pode ser um deles.
IN "i"
29/08/19
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