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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
02/09/19
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O primeiro outono de Ursula
A escolha de Ursula von der Leyen foi suficientemente surpreendente
para pouco mais se ter dito sobre a presidente designada da Comisão
Europeia além do facto, evidente, de ser mulher, alemã, ex-ministra da
defesa e democrata-cristã. O que pensava ou não sobre os temas, nos
primeiros dias, ficou por descobrir, até porque havia coisas mais
urgentes. Depois da escolha pelo Conselho, colocava-se a questão de
saber se seria capaz de conquistar um número suficiente de votos
liberais e socialistas no Parlamento Europeu, para ser aprovada.
Conseguiu, tendo para isso feito uma quantidade de declarações políticas
que andaram entre o anódino e o amor à agenda mais ambientalista. Falta
agora o resto.
Até ao final de Outubro (mais precisamente 1 de
Novembro, o dia imediatamente a seguir ao Brexit), a nova presidente vai
ter de ver a sua equipa aprovada por maioria no Parlamento Europeu. Em
finais de Julho, essa parecia uma tarefa difícil.
Desta vez, era
evidente que o Parlamento ia querer mostrar a sua objecção profunda a
Salvini, Kaczynski e Orban, e à sua influência na escolha de Ursula.
Fossem quem fossem os comissários propostos por Itália, Polónia e
Hungria, era de esperar problemas e uma ameaça de rejeição à primeira
volta. E ia querer mostrar que o PPE tem força para impedir outra
solução, mas não tem votos para impor o que quer. Só que a realidade, e o
que Ursula fez entretanto, parecem estar a simplificar-lhe a vida. O
que prova, pelo menos, inteligência e sensibilidade política.
Para
começar, prometeu que teria uma comissão paritária, e falta pouco para
consegui-la (há 13 homens escolhidos e 12 mulheres, sendo que Itália
ainda não disse nada e a Roménia deu um de cada). Além disso, fez Martin
Selmayr demitir-se de um dia para o outro. O Parlamento nem teve tempo
de o exigir.
Entretanto, e no que toca aos comissários, a
mudança de governo em Itália torna qualquer candidato que não seja
proposto por Salvini (desde que saiba ler e escrever) aceitável. Com os
polacos, Ursula foi inteligente: ofereceu à Polónia uma pasta que não
servia ao candidato inicialmente indicado pelo governo e que tresandava a
sarilhos. Varsóvia mudou de nome, para um que não levanta problemas, e
em troca ganhou a agricultura. Sobra Orban, que se não alterar o nome
indicado, vai ficar isolado. O que parece não ser um problema, na
verdade ainda é. Não há Comissão se algum Estado Membro não indicar
comissário. Ou seja, se o Parlamento pedir que o candidato húngaro seja
trocado como condição para aprovar a Comissão, ainda podem haver
sarilhos. É aí que se vai medir a força e a sensibilidade de Ursula. Ou a
política e a diplomacia.
A política europeia é um jogo de
compromissos, muito mais que maiorias, que precisa de liderança para se
impor e de descrição para não ofender os governos. Até agora, Ursula
(quem tem a sorte de, tendo um apelido difícil de reter, ser conhecida
pelo intímo nome próprio) tem conseguido fazê-lo. Veremos como corre
Setembro e depois Outubro.
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02/09/19
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