Não se esqueça de fazer o upgrade
Para se ser um bom líder falamos muito em empatia, autonomia,
potenciar desenvolvimento, ganhar confiança e o respeito de quem
lideramos. Quantos pais procuram fazer isso nas ações que tomam?
Para quem não está familiarizado, o conceito de upgrade
é simples – significa uma atualização para uma versão mais recente e
melhor de um produto ou dispositivo. E isto é exatamente o que qualquer
pai ou mãe recente deveria fazer, preparar a melhor versão de si próprio
para a chegada do seu bebé. Deixe-me explicar-lhe porquê.
A minha experiência pessoal, quando engravidei do meu filho Rodrigo
há quase 3 anos atrás, mostrou-me que a maioria dos pais e mães que
conhecia se preparavam para o momento do parto e o que lhe precede com
um curso — o chamado curso de pré e pós-parto. Mas contei pelos dedos
das mãos as pessoas que me disseram “estou a preparar-me para a educação
do meu filho, para o desenvolvimento da criança como ser humano”.
A
verdade é que, quer queiramos quer não, ter um filho é para muitos de
nós o nosso primeiro exercício de liderança. Não sou eu quem o diz, é Carlos Gonzalez,
um pediatra espanhol que aborda temas de parentalidade de forma
pragmática, sempre com uma pitada de humor. E para se ser um bom líder
falamos muito em praticar empatia, dar autonomia, potenciar
desenvolvimento, ganhar a confiança e o respeito de quem lideramos.
Quantos pais procuram fazer isso nas ações que tomam todos os dias?
Então
porque estudamos 3 ou mais anos para terminar um curso mas
esquecemo-nos de fazer o trabalho de casa para aquela que será
provavelmente a “profissão” mais difícil (e longa) da nossa vida – ser
pais?
Lembro-me de como me senti mal a primeira vez que “explodi”
com o meu filho. Proibí, gritei e ameacei, como se aquele ser de 14
meses me fosse perceber. Fiz o exercício de pensar o que acharia um
colega de trabalho se lhe fizesse o mesmo, por algo que ele não
estivesse a fazer bem (mesmo que de forma não intencional). Com certeza
me chamaria maluca… E naquele momento percebi que não era essa a mãe que
queria ser.
Então como podemos evoluir para a melhor versão de nós próprios? Comece com três estes passos:
Faça reset:
Tente sarar as feridas e ultrapassar os seus bloqueios emocionais,
com ajuda profissional se necessário. A nossa imaturidade emocional e os
temas “mal resolvidos” levam-nos muitas vezes a reagir de uma forma que
não gostaríamos nem controlamos. Ora, como damos à criança a
estabilidade e referência emocional que necessita se não o conseguimos
fazer por nós?
Costumo dizer que uma casa com adultos e crianças é
uma bomba relógio de emoções prestes a rebentar. Os adultos sabem
nomear emoções mas reprimem-nas. Os bebés sentem as emoções na sua
plenitude mas não as sabem nomear. Se não soubermos lidar com esta
dicotomia a bomba rebenta e rebenta-nos nas mãos!
Corra o update:
Não conte só com a intuição pois ela está carregada de enviesamentos
daquilo que foi a sua própria experiência em criança. Os pediatras,
muitas vezes de forma prescritiva e algo desatualizada, colmatam este
gap de mercado de não termos uma “consulta de pedagogia”, que nos
poderia direcionar para um caminho com o qual nos relacionássemos. À
falta deste serviço sugiro que se rodeie de referências e se informe das
melhores práticas pedagógicas aos dias de hoje.
Pode começar por ler! Maria Montessori estudou
o comportamento das crianças há mais de 100 anos atrás e tirou
conclusões poderosíssimas. Não há razão nenhuma para as ignorarmos! E a
parentalidade respeitadora (não confundir com permissiva) tem bases
sólidas, explicadas por Magda Gerber com o seu método RIE ou por Janet Lansbury no seu podcast semanal.
Se a leitura não é o seu forte deixe a Casa de Papel em standby e veja o documentário “The Beginning of Life”,
de preferência com o seu companheiro ou companheira ao lado. Este
conhecimento pode mudar radicalmente a forma como educa o seu filho,
sobretudo nos seus primeiros três anos de vida.
Conecte-se à rede:
Para mim as redes sociais têm-se mostrado uma incrível fonte de sabedoria e suporte entre pais e mães que começam a despertar para esta sua responsabilidade.
Para mim as redes sociais têm-se mostrado uma incrível fonte de sabedoria e suporte entre pais e mães que começam a despertar para esta sua responsabilidade.
Há hoje exemplos reais e quase em direto das
melhores práticas que pode ter e do efeito positivo nas crianças que as
recebem. De Barcelona ao Rio de Janeiro (aqui pela voz de um homem!), passando por Aveiro,
são muitas as contas que pode seguir para atuar com maior consciência,
educar com apego ou simplesmente tirar ideias (ou comprar) atividades
que potenciem o desenvolvimento da sua criança. Use e abuse desta tribo
digital para se inspirar e tirar as suas dúvidas!
Estes três passos não são fáceis de implementar, mas podem ser transformadores.
Implicam
em primeira instância um caminho de autoconhecimento. Um caminho de
desaprender muita coisa que nos foi incutida e que a sociedade perpetua e
reaprender a sermos pessoas mais completas e resolvidas. Implicam
compreender que vamos falhar muito mas estar muito mais conscientes do
que podemos fazer para não lhes falhar, a eles, os nossos filhos.
E é este o upgrade
que devemos e merecemos ter, por nós e por eles, para que sejam a
melhor versão do nosso futuro. Aproveite este regresso às aulas para
fazer o seu!
* Ana Sanches iniciou o seu percurso na EDP, onde
esteve mais de 10 anos, depois de se licenciar em Gestão pela Nova SBE.
Atualmente lidera a equipa de People Experience na OutSystems. É
apaixonada por Desenho Comportamental e Diversidade, e partilha as suas
aprendizagens sobre parentalidade na página de Instagram “Dido and
Company”.
IN "OBSERVADOR"
02/09/19
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