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O fel da indiferença
O fel da indiferença
As escolas, professores diretores, associações e pais já há muito
que perceberam a necessidade de a lei evoluir e de a escola se adaptar à
convivência das diferenças.
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“O principal é que cada pessoa consiga ter um nível
de autonomia intelectual que lhe permita formar o próprio juízo de valor
diante das mais variadas situações, e que, em cada um desses momentos,
ela tenha capacidade de escolher caminhos e alternativas baseadas no seu
entendimento da realidade”.
Jacques Delors
A Educação e a aposta contínua numa escola que desperte para a
diferença, para a análise crítica e que afirme a cidadania e a autonomia
intelectual é verdadeiramente o caminho.
O debate de fel dos
últimos dias sobre o desenvolvimento via despacho governamental de
medidas a adoptar pelas escolas no âmbito da lei da identidade de género
(amplamente discutida e participada em 2018) evidencia bem o quanto é
importante percebermos que é na escola que tudo começa e que só uma
sociedade mais esclarecida nos defende do preconceito e discriminação
ainda fortemente enraizados na nossa cultura.
Os partidos da
direita, em particular o CDS e alguns “cronistas do reino da
desinformação, revelaram neste processo que estão completamente
desfasados da realidade, demonstram uma total insensibilidade ao
sofrimento de tantos jovens que simplesmente nasceram com um corpo que
lhes é estranho e apenas desejam transitar para a felicidade e comunhão
física e psicológica a que têm direito! Não perceber essa vontade de
autodeterminação e identidade de género e usar a caricatura para fazer
eco das suas ideias bafientas, é não perceber mesmo nada…
Felizmente
que as escolas, professores diretores, associações e pais já há muito
que perceberam a necessidade de a lei evoluir e de a escola se adaptar à
convivência das diferenças, olhando para todos e cada jovem em
particular, sem segregar, sem excluir e sem discriminar.
Tem sido
esse, aliás, o desígnio deste Governo e do grupo parlamentar do Partido
Socialista advogando a flexibilidade curricular e uma visão humanista da
escola, que o perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória bem
sintetiza.
Precisamos ainda de aprofundar mais a relevante
estratégia de Educação para a cidadania em curso e de construir
aprendizagens mais profundas que possam colocar a dimensão ética e
humanista bem como a prossecução do bem comum, num outro patamar para
poder enfrentar uma conjuntura crescente de violações aos direitos
humanos no globo que a crise das migrações tão bem espelha e que neste
Verão estamos mais uma vez a viver de forma intensa no Mediterrâneo!
O
papel da educação como veículo insubstituível na formação das gerações
futuras e no desenvolvimento cultural, social e económico de Portugal
constitui matéria primordial para reflexão estratégica nacional para a
qual devem convergir todos os esforços em prol do desenvolvimento de uma
cultura partilhada de educação.
Só através de uma permanente
busca pela igualdade e por uma sociedade respeitadora dos direitos
humanos, do direito à identidade de género, ao livre desenvolvimento da
personalidade, privacidade e autonomia erradicaremos os discursos de
ódio, os machismos e os conservadorismos que se alimentam do medo face
ao que é diferente e que escapa à norma padrão.
Os que pensam de
forma pequena querem sempre fazer “fraca forte gente”, ao invés, aquilo
que se pretende nesta área e que perpassa todo o programa eleitoral do
PS é o respeito integral pelos direitos fundamentais e pela Constituição
que erige a dignidade humana como princípio basilar em que assenta a
nossa República.
Afinal este debate é essencialmente um debate
sobre a dignidade humana e muitos não foram dignos desse debate, nem dos
que sofrem em prol da defesa dessa dignidade.
No dia 6 de
Outubro, os portugueses saberão fazer as suas escolhas sem o fel da
indiferença, irão identificar o melhor ideário e programa eleitoral até
porque sabem o quanto custou a liberdade e a igualdade!
Estamos mais uma vez prontos para servir Portugal e um “Abril de Sim” em matéria de direitos, liberdades e garantias.
* Susana Amador é vice-presidente do grupo parlamentar do PS
IN "OBSERVADOR"
27/08/19
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