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A camisola da Amazónia
É cada vez mais fácil juntarmo-nos a uma causa. Basta um clique numa petição enviada por e-mail. Mas será que nos questionamos sobre as causas e marcas a que nos associamos?
A Amazónia
enche os jornais e televisões de todo o mundo há várias semanas, por
várias razões. Porque o pulmão do mundo está a arder e o fim parece não
estar à vista, porque o presidente brasileiro tem sido como sempre foi,
desde que se deu a conhecer, e o mundo e o Brasil não estão a gostar.
E
também porque as questões de sustentabilidade têm sido um tema
premente, não só pela urgência da questão mas também porque com os
presidentes norte-americano e brasileiro, que são publicamente
despreocupados e pouco sensíveis às questões ambientais, o planeta
passou a ser um lugar mais preocupante numa época crucial para mudarmos
rumo ao caminho certo.
Nas últimas semanas as redes sociais
encheram-se de perfis que vestem a camisola da Amazónia e defendem a sua
causa, mas quantos terão de facto preocupações ambientais ou opções de
vida nesse sentido?
A questão que levanto não é se devemos, ou
não, defender a Amazónia. Essa questão nem sequer se coloca. A questão
é: será que nos questionamos sobre as camisolas que vestimos, se
procuramos saber o porquê e o que podemos nós fazer pela Amazónia, pelo
planeta, por nós e pelos nossos filhos, ou se apenas vamos ‘na onda’ dos
posts e likes.
Hoje em dia, é cada vez mais
fácil juntarmo-nos a uma causa. Basta um clique numa petição enviada por
e-mail. Mas fará sentido fazê-lo para, no momento seguinte, fazermos um
uso excessivo de plástico, um consumo exagerado de carne e de tantos
outros produtos que o consumismo hoje nos leva a “precisar”?
A
questão que aqui levanto é a de nos questionarmos sobre as causas e
marcas às quais nos associamos. De nos inteirarmos das suas ações e de
as defendermos, sabendo com consciência o que defendem e dizem. Veja-se o
exemplo do império Zara, que lançou o fast fashion e agora
quer ser inteiramente sustentável, antecipando-se às necessidades, mas
mais do que tudo, às imposições dos seus consumidores.
O
aproveitamento político da questão da Amazónia é notório, e faz sentido.
Mas a verdade é que a Amazónia ficará depois do atual presidente do
Brasil e as suas necessidades existem muito antes dele.
Os incêndios na
Amazónia ocorrem anualmente e este ano tiveram maior dimensão e
notoriedade, mas a desflorestação começou há décadas e prende-se
sobretudo com a produção de carne e laticínios. Produção necessária
porque o consumo assim exige.
E todos aqueles que enchem as suas
redes sociais para defender a Amazónia hoje, devem lembrar-se dela daqui
a um ano, tal como dos países africanos ou da Bolívia, ou do glaciar
desaparecido na Islândia, da barreira de coral da Austrália, da ilha de
plástico do Oceano Pacífico e, sobretudo, fazer escolhas e opções
sustentáveis em nome de todo o planeta.
Vestir a camisola da
Amazónia é fácil, mas mudar o guarda-roupa é o grande desafio que temos
pela frente. Ser mais sustentável é uma escolha possível, e cada vez
mais fácil. Não implica extremos, nem cores políticas, apenas escolhas
conscientes que estão ao alcance de todos.
* Responsável de Comunicação e Conteúdos
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
29/08/19
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