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IN "A BOLA"
21/'7/19
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Já fui Bento, Baía e Patrício,
agora quero ser Girão
Em
tempos sonhei ser Manuel Galrinho Bento. Em tempos sonhei ser Vítor
Damas, Vítor Baía ou Rui Patrício. Sonhei ganhar asas e ultrapassar os
maiores desafios que um relvado pode produzir. Acordei, não tinha asas:
pensei no dia seguinte, no amanhã. Para onde caminhamos e para onde
vamos, em Portugal. Encontrava-me perdido – como muitos apaixonados pela
arte da defesa da baliza. Surgem ideias, novos pensamentos e jovens
pensadores – devaneiam-se executantes de decisões de galhardia. Esses,
têm o que é para eles garantido e resta-me sorrir quando sonho e
rezingar enquanto escrevo de olhos abertos. Só com mais personagens
elevadas a maiores do que a vida como Girão conseguiremos lá chegar: são
precisos ídolos para que existam mais e melhores guarda-redes (em
qualquer das modalidades – falei pelo cheiro da relva, mas sei que
algures o Telmo Ferreira pensa o mesmo para o andebol, Edo Bosch para o
hóquei ou Raúl Oliveira para o futsal.
Numa posição em que todos
os movimentos são escrutinados para julgamento ou proveito adversário,
André Girão (foi assim que o comecei a ver jogar no Valongo em 2013,
antes de ser Ângelo), mostrou a fibra de que são feitos os ídolos –
através do bom exemplo, na base da plenitude da sua capacidade em
rendimento, tomando decisões de nervo mesmo em sequência de fadiga). O
êxito da defesa de 23 das 24 bolas paradas enfrentadas no Mundial
conquistado por Portugal traduzem a racionalidade que tem de ser passada
para os que sonham entrar em qualquer uma daquelas balizas do Palau
Blaugrana amanhã: respondemos ao que nos apontam, antecipamos sem
adivinhar e depois sujeitamo-nos à violência das bolas desenhadas para o
golo ou das regras desfavoráveis para a ausência do mesmo (como a
grande penalidade, em que a vantagem é toda do atacante e nunca do
defensor).
Sempre que André Girão defender uma baliza tem de
pensar que não o está a fazer só para ele ou para a sua equipa. Está a
fazê-lo por uma geração que crescerá a querer ser um pouco do que ele já
viveu aos 29 anos, a mostrar uma alma que ultrapassa a dimensão da
baliza e que nos faz entrar novamente na dimensão do sonho – digam-me um
guarda-redes que nunca tenha emulado um voo de um guardião do passado,
apontem-me um guardião que não seja apaixonado pela arte de assumir a
retenção do golo e afirmem que adoravam estar lá, no caminho das bolas
na final do Mundial, a fazer corpo grande ao mais sólido esférico e a
colocar a máscara onde outros colocam o stick.
IN "A BOLA"
21/'7/19
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