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Menos preconceito contra
os jovens e mais participação
Existem leis universais que protegem os direitos dos jovens em situações de risco? Ensinamos a participar de forma crítica ou estamos só a educar para seguir a maioria?
Quantos de
vocês já sentiram que a vossa idade ou o vosso aspeto teve impacto num
primeiro encontro de trabalho? O facto de ser jovem e de ter um aspeto
ainda mais jovem já fez com que me sentisse discriminada em alguns
contextos profissionais.
Normalmente, quando vou pela primeira vez
a uma reunião de trabalho com alguém que não me conhece, as pessoas
manifestam uma expressão facial de admiração. Dou por mim a tentar
ler-lhes a mente: “É esta miúda que vem reunir connosco?”. Depois de uma
hora de conversa, essa expressão costuma passar a espanto. Começam a
nascer comentários como “vocês fazem um trabalho incrível!”.
Este é
um tipo de preconceito que, por vezes, os jovens enfrentam quando
entram para o “mundo do fato e da gravata” e quando passam do ativismo à
participação formal. Juntamos a este facto a desigualdade de género, a
cultura e a religião, a etnia, o ser portador de deficiência, o ser
refugiado ou emigrante, e começamos a perceber que o direito à
participação ainda não é um direito global – é uma promessa que alguns
têm a sorte de poder usufruir.
Na verdade, acho que existem dois
tipos de sorte. A primeira é a que não se conquista, como, por exemplo, o
sítio onde nascemos – um dado adquirido que nos pode dar a oportunidade
de participar de forma livre. A segunda é a que podemos conquistar, que
nos dá a oportunidade de também sermos responsáveis pela otimização da
participação cívica e social dos contextos mais vulneráveis.
Participar
ativamente implica que exista liberdade, integração política, acesso à
informação e programas que deem voz aos jovens e os integrem nas
decisões para a criação de novos compromissos, que contribuam para os
objetivos de desenvolvimento sustentável.
A “Agenda 2030” tem
estado, pelo menos teoricamente, a orientar as prioridades de
desenvolvimento para toda uma geração. Esta agenda tem sido afetada
pelas mega tendências atuais, sejam elas sociais, ambientais ou
económicas; tendências que podem fornecer-nos oportunidades e desafios
para a realização do Plano de Desenvolvimento Sustentável.
Os
jovens têm estado na linha da frente no que toca à criação de movimentos
que lutam pelos direitos humanos e pela igualdade, dando assim um
contributo mediático para a agenda. Mas a capacitação para as
competências do futuro – desde a criatividade até às competências
sociais – tem de ser um dos temas mais abordados.
Quando se fala
em participação ativa dos jovens, todos precisam de perceber que não
chega fazer, temos de fazer muito bem. Temos de ser ouvidos exatamente
da mesma forma em todos os cantos do mundo.
Todos os dias trabalho
para isso, no sentido de capacitar crianças e jovens em risco de
exclusão social e abandono escolar para a cidadania ativa,
incutindo-lhes sentido crítico, sentimento de pertença e
responsabilidade em contribuir para os objetivos do desenvolvimento
sustentável, através de projetos de retorno à comunidade onde estão
inseridos.
O principal objetivo é perceberem que podem e devem ser
fiéis a si próprios durante todo este processo, e ainda que são
responsáveis, de uma forma muito consciente, pela não participação
daqueles que os rodeiam.
Muitas vezes me questiono: estarão as
políticas da juventude a dar oportunidade à capacitação dos jovens antes
da implementação? Existem leis universais que protegem os direitos dos
jovens em situações de risco? Ensinamos a participar de forma crítica ou
estamos só a educar para seguir a maioria? Para protegermos os direitos
dos jovens, precisamos de saber responder de forma clara a estas
questões. Só assim podemos garantir que ninguém fica para trás e que
todos somos responsáveis por todos.
Os jovens que já estão envolvidos no associativismo juvenil e em ações políticas, têm de ser utilizados como role models para todos os outros. Temos de ser capazes de cativar e de utilizar esses exemplos para o futuro.
Sabemos
bem o quanto esta geração se move por propósitos e missões, por
trabalhos com impacto e por causas. As políticas e os programas para a
juventude têm de ser a proteção legal, para ajudar na luta pela
igualdade, de forma linear e formal. Mas terão de ser os próprios jovens
a provocar a mudança e a integração de todos neste processo, caso
contrário continuaremos a abordar a questão como se fosse uma utopia.
A
desigualdade e o não direito à participação existem. Em alguns países,
enquanto jovem e mulher, não poderia ser o “rosto” desta missão. Esta
ainda não é uma realidade extinta – infelizmente é bem real! Acima de
tudo, temos de perceber como é possível promovermos políticas que não
deixem ninguém para trás e que acreditem e confiem no potencial jovem
para trabalhar lado a lado, de forma coesa, construindo um futuro para
todos.
* Movimento Transformers
IN "JORNAL ECONÓMICO"
20/07/19
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