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IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
17/05/19
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O Berardo
que Portugal merece
Se há
algo que resulta claro do processo de inquirição a Joe Berardo, é que a
avaliação e resultados finais das comissões de inquérito dependem muito
mais da desfaçatez dos inquiridos do que das competências de qualquer
uma das comissões.
Convém,
assim, que o inquirido seja um pulha, um mau carácter. Que goze e abuse
da prepotência, que seja inábil na gestão do seu ego desmedido e que, de
preferência, finja ter a memória de um peixe de águas frias e
profundas. Se assim for, os resultados são garantidos: um pleno de
indignação. Se, por outro lado, os inquiridos tiverem a personalidade de
uma amiba, despojados de qualquer tipo de golpe de asa, amorfos por
conveniência, humildes e defensivos até, eis que o teste do algodão
passa pela superfície da rama e com nada mexe, nada transtorna. Tudo
arrefece. As comissões de inquérito, por exclusiva vontade política, são
a felicidade dos defensores do politicamente correcto. É preciso
aparecer um crápula para lhes entregar alguma dignidade.
A resistência ao choque é um privilégio do
motorista dos autocarros das viagens de finalistas. É dele que se
espera que, independentemente do que possa acontecer nos bancos,
mantenha uma atitude firme e calma. Não tivesse Joe Berardo uma lata
épica e proporcional ao tamanho das suas dívidas e Portugal continuaria a
ser o motorista do ilustre comendador. Que interessaria a dívida de 962
milhões de euros à CGD, BCP e Novo Banco se Joe Berardo fosse um
personagem domesticado, escultural na argumentação e com pose de
comendador? Nada. O empresário madeirense cometeu um erro impensável à
luz da onda da indignação temporária: mostrou que esteve mesmo sempre a
gozar connosco.
Berardo já jogou o seu
"joker" dentro do sistema do Estado e rirá novamente quando e se lhe
retirarem a condecoração da Ordem do Infante D. Henrique ou qualquer
outra. "Eu show Berardo" ou o "Triunfo dos porcos". Sai vencedor o homem
que se aproveita da incompetência e conivência do poder político, da
poluição dos monopolistas e das negociatas espúrias com o dinheiro dos
contribuintes. Fará um brinde à impunidade na companhia e bela vida de
Salgado, Bava, Bataglia e Vasconcellos. Entretenhamo-nos, então, a
crucificar moralmente o homem que lucrou com tudo isto sem cuidar de
punir os que permitiram que empobrecêssemos todos. Está à vista que o
arco de poder dos "partidos-negócio" não se importa de, sem vergonha e
muito altivo, partir a espinha para dar a ideia de que de nada sabia,
nada podia fazer mas que até se importa. O riso de Joe Berardo é
plenamente justificado. Já esta indignação política, que finge surpresa,
é uma indigente colecção de museu.
* MÚSICO E JURISTA
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
17/05/19
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