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* CEO do ComparaJá.pt
IN "EXAME INFORMÁTICA"
17/05/19
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Durante quanto tempo
ainda vamos ter um país a
duas velocidades (de Internet)?
As assimetrias regionais são um marco caracterizador de muitos países. Na Europa são conhecidas as realidades de Itália, numa clara divisão de Norte versus Sul ou da Alemanha, sendo aqui o divisor o Leste contra o Oeste. Viajando para a Ásia, a China é conhecida por ser um país com dois sistemas. Portugal, de certa forma, não é exceção.
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As
assimetrias marcam também as terras lusas, sendo que aqui a divisão é
claramente litoral contra o interior. Num concentram-se as grandes
urbes, com os melhores acessos e a população mais jovem e qualificada.
No outro, assistimos a uma lenta decadência populacional, ficando estas
terras desapossadas dos seus maiores bens: o capital humano.
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Ora,
numa economia cada vez mais digital, uma das mais simples e eficazes
formas de combater estas assimetrias passa por equipar estas localidades
com infraestruturas de rede de fibra ótica de alta velocidade. A
massificação desta tecnologia viabilizará a criação de hubs
tecnológicos, incubadoras de startups e outros projetos de
empreendedorismo tecnológico também nestas zonas, fixando os jovens que
assim não precisarão de sair da sua região para poderem desenvolver a
atividade profissional especializada nestes âmbitos.
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Importa
fazer um parêntesis para salientar que este “fosso” tecnológico que
existe no nosso país só não é uma realidade ainda mais exacerbada dado o
trabalho notável que tem vindo a ser realizado em torno das
Universidades e Institutos Politécnicos nos distritos do Interior.
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Mas
então como é possível criar um país mais igual no que ao acesso à
Internet diz respeito? Só existe uma alternativa: incentivar-se a
partilha de infraestruturas de rede.
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Hoje, as operadoras continuam a trilhar um caminho a solo
no desenvolvimento das infraestruturas, ignorando as vantagens óbvias
na partilha de rede: custos de investimento e manutenção partilhados,
maior cobertura do país, menor impacto nas populações devido à
instalação e manutenção destas infraestruturas. E, por isso mesmo, a
expansão torna-se mais morosa e custosa do que seria se se unissem
esforços.
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A
verdade é que basta uma rápida consulta ao site da Anacom para se
chegar a uma simples conclusão: há quase o dobro de freguesias no nosso
país com cobertura de redes de alta velocidade fixas (NGA) inferior a
50% do que freguesias com cobertura superior a 50%.
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Ora,
se o caminho traçado for o da partilha da rede, então o regulador conta
com um papel essencial no processo. Poderá caber-lhe definir, de forma
vantajosa para ambas as partes, um preço máximo regulado que torne o
aluguer da rede apelativo tanto para a detentora das infraestruturas
como para a operadora concorrente.
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Outro
caminho a percorrer poderia passar por recorrer a algo semelhante ao
das patentes de medicamentos ou outros tipos de propriedade intelectual.
Ou seja, dar-se um período de exclusividade de exploração por um
determinado período temporal, após o qual a infraestrutura seria aberta
aos concorrentes.
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Por
outro lado, poder-se-ia também instituir uma política que estimulasse o
investimento em regime de consórcio pelas várias operadoras na expansão
da rede de fibra àquelas regiões ainda não cobertas.
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Finalmente,
um rumo de maior complexidade, mas que poderia ser tomado caso as
anteriores soluções não funcionassem (ou pudessem ser consideradas),
poderia passar por “partir” as áreas de atuação em empresas diferentes.
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À
semelhança do que acontece com a REN e a EDP no mercado da energia,
ficaríamos com uma empresa exclusivamente encarregue da gestão das redes
de fibra ótica (as quais passariam a estar ao dispor de todo o mercado a
um preço regulado), permitindo que as operadoras se concentrem no
desenvolvimento de mais e melhores ofertas para os consumidores. Desta
forma, poderíamos começar por criar um país que percorresse o caminho
para o desenvolvimento ao mesmo passo e não um de lebres e tartarugas.
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Naturalmente
que os principais beneficiários da abertura da rede e de maior
concorrência neste setor serão sempre os consumidores, mas o lado da
oferta não tem de sair prejudicado. Note-se que em muitos países o
sistema de partilha de infraestruturas funciona perfeitamente, como é o
caso da Dinamarca, por exemplo, em que existem mais de 20 operadoras e a
esmagadora maioria recorre à rede de concorrentes.
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Importa
frisar que, independentemente de não haver uma filosofia de partilha de
rede e de existirem apenas quatro operadoras a oferecer serviços de
telecomunicações em pacote, o mercado português até é bastante dinâmico.
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Aliás,
notam-se várias evoluções positivas nos pacotes de telecomunicações
nestes últimos dois anos, sendo que no geral se pode afirmar que os
consumidores podem agora aceder a pacotes mais completos, em particular
no que à velocidade da Internet fixa e aos dados móveis diz respeito,
por um preço inclusivamente um pouco mais reduzido do que em 2017.
A
título exemplificativo, em 2017, o pacote 3P “Total 100” da MEO, com
velocidade de Internet de 100 Mbps e com 200 canais, apresentava uma
mensalidade de 44,99 euros. Atualmente, a operadora oferece o pacote 3P
“TV+NET+VOZ 200”, com Internet com velocidade de 200 Mbps e com 200
canais, por apenas 40,49 euros.
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Isto
serve para reforçar ainda mais a ideia de que o mercado nacional reúne
todas as condições, nomeadamente players dotados de know-how e
capacidade, para ser um caso de sucesso neste domínio. Faltam apenas os
incentivos certos.
Nesse
sentido, termino com uma citação de Harry Truman que me tem acompanhado
desde sempre e que considero bastante acertada para o problema em
questão: «o progresso dá-se quando líderes hábeis e corajosos aproveitam
as oportunidades para mudar as coisas para melhor». Esperemos, então,
que muito brevemente sejamos corajosos para dar resposta a esta questão
tão fundamental para a digitalização da economia em todo o território
português.
* CEO do ComparaJá.pt
IN "EXAME INFORMÁTICA"
17/05/19
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