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IN "A BOLA"
09/05/19
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O que podemos aprender com
os “Ajaxs”, “Barcelonas” e
“Atléticos de Madrid”
“Detetive
Colombo, chamei-o porque gostava de falar consigo sobre resultados
inesperados” – começou por dizer o Presidente o Presidente do F.C. os
Galácticos, o Sr. Mark Angie. “Como assim, Presidente Angie?” –
respondeu o Detetive Colombo.
“Necessito de saber como
evitar derrotas inesperadas e avassaladoras” – devolveu o Presidente
Angie. “Presidente tem alguma razão especial para abordar esse tema?” –
perguntou o Detetive Colombo.
“Sim, Detetive Colombo” – e
continuou o Presidente Angie – “o nosso Clube já passou por situações
semelhantes às, que recentemente viveram o Ajax, o Barcelona e o
Atlético de Madrid e gostava que o Clube evitasse este tipo de derrotas
inesperadas e avassaladoras”.
“Presidente” – disse o
Detetive Colombo – “aprender com os próprios erros é um sinal de
inteligência, mas aprender com os erros dos outros é uma prova de
genialidade” – e sem interromper, perguntou – “o que é que aconteceu
após esses momentos?”. O Presidente Angie fez uma pequena pausa e
respondeu – “algo semelhante ao que aconteceu com estes Clubes, nestes
momentos em que vinham de vitórias “confortáveis” e depois acabaram por
sucumbir” e sem se deter, continuou – “jogadores, treinadores, direção,
adeptos, patrocinadores, …, ficaram desiludidos, frustrados, começámos à
procura de “bodes expiatórios”, alguém a que pudéssemos culpar e com
isso desviávamo-nos quer dos nossos propósitos, quer do caminho
escolhido. Quero evitar o desconforto e a dor provocada por essas
experiências.”
“Já falámos sobre a questão da culpa,
noutro momento, por isso, podemos ir um ponto mais longe, na nossa
análise” – disse o Detetive Colombo, ao que o Presidente Angie respondeu
– “excelente. Então diga-me lá o que posso aprender com estas
situações, para as evitar e com isso quer jogadores, treinadores,
direção, adeptos e investidores poderem sentir-se satisfeitos,
identificados e orgulhosos, depois do jogo a seguir aos bons resultados,
em ver de dececionados.”
“Presidente” – retribuiu o
Detetive Colombo – “acredita que os jogadores e as equipas necessitam de
continuar a crescer, evoluir e melhorar para obterem bons resultados?”.
“Sim, claro” – respondeu o Presidente Angie. “Presidente, quando estava
na escola, um dos anos, reprovei e tive de repetir esse ano. Que
matéria é que pensa que aprendi, quando repeti aquele ano?” – perguntou o
Detetive Colombo. “Aquela que não aprendeu, no ano anterior” – devolveu
o Presidente Angie. “Exato, Presidente Angie. Aprender, crescer e
evoluir exige o contato com diferenças” – disse o Detetive Colombo e
continuou – “o que é se passou, ainda recentemente no Clube, quando
surgiram as diferenças entre os jogadores e entre estes e os
treinadores?”. O Presidente Angie começou a recordar essas situações e
disse – “começámos a ter conflitos, ataques, discussões e desavenças
dentro da equipa. A situação foi extremamente desconfortável”. O
Detetive Colombo inspirou profundamente e disse – “pois bem Presidente
Angie, quando as diferenças são um problema, elas criam uma má relação,
um mau clima e comprometem igualmente os resultados” – o Detetive
Colombo fez nova pausa e continuou – “a associação que as pessoas
fizeram, em relação às diferenças é que são más para o clima, relação e
resultados. Por isso, o que é que pensa que de futuro as pessoas vão
fazer, quando surgirem diferenças”.
O Presidente Angie,
quase impulsivamente, respondeu – “vão evitá-las”. “Isso mesmo. Agora
veja o paradoxo, os jogadores e as equipas necessitam das diferenças
para progredirem, melhorarem, mas ao evitá-las a todo o custo, para
manterem o bom clima após as tempestades, acabam por se concentrarem na
manutenção da boa relação e por deixarem para segundo plano a tarefa” –
disse o Detetive Colombo.
“OK, percebi” – disse o
Presidente Angie – “depois de uma grande vitória, necessitámos de
continuar a melhorar, para voltar a ganhar, mas como ganhámos, parece
que está tudo bem e como as diferenças nos causaram desconforto, então
evitámo-las e, com isso, pomo-nos a jeito de perdermos. Detetive, mas é
só isso ou há mais alguma coisa importante a saber?”
“Presidente,
há pelo menos mais três ratoeiras que, ao conhecê-las, podem ajudar,
nestas circunstâncias” – devolveu o Detetive Colombo. “O quê?” –
perguntou o Presidente Angie.
“Presidente, é ou não
verdade que a cultura vigente valoriza e recompensa dos bons resultados e
critica e culpa das pessoas, pelos maus resultados?” – perguntou o
detetive Colombo. “Sem dúvida, basta ir a um café, depois de um jogo” –
respondeu o Detetive Colombo. “O que é que as pessoas começam a
acreditar, quando são elogiadas nos bons resultados e criticadas nos
maus resultados?” – perguntou o Detetive Colombo. “Começam a pensar que
são o que conseguem obter. Isto é, que são bons quando ganham e maus
quando perdem” – devolveu o Presidente Angie. “Pois é” – começou por
dizer o Detetive Colombo e continuou “as pessoas passam a confundir-se
com o que conseguem alcançar, com os resultados. Presidente, o que leva
as pessoas a obterem bons resultados? O que leva as equipas a obterem
resultados memoráveis?”. “A preparação, antes do jogo, a concentração, o
esforço, a determinação e o trabalho de equipa, durante o jogo” –
respondeu o Presidente Angie. Os dois olharam um para o outro e o
detetive Colombo continuo a conversa, perguntando – “Presidente, em que é
que os jogadores e as equipas se vão concentrar, quando são elogiados
nos bons resultados e culpabilizados nos maus resultados?”
“Nos
resultados” – respondeu o Presidente Angie e, sem se deter, continuou –
“já entendi. Ao elogiarmos ou criticarmos os resultados, as pessoas não
se vão concentrar naquilo que os ajudou a ganhar, o processo, antes nos
resultados e consequentemente poderão estar mais próximos de perder o
próximo jogo. Se juntarmos esta situação à anterior, então a
probabilidade de perdermos, depois de uma vitória confortável, aumenta.”
“Agora
repare Presidente” – disse o Detetive Colombo e continuou com uma
pergunta – “antes da época começar, os Clubes tentam construir equipas
com muitos bons jogadores, certo?”. O Presidente Angie fez uma pausa,
como a pensar o que viria dali, e respondeu – “correto. Tentámos
disponibilizar ao treinador os melhores jogadores possíveis, para cada
posição, como colocando a equipa próxima da meta, antes do campeonato
começar, parece que só se necessita de a preparar para atravessar em
primeiro”. “Contudo, o que é que já vivenciou neste Clube e recentemente
observou em grandes Clubes Europeus, depois de vitórias
“confortáveis”?” – perguntou o Detetive Colombo. O Presidente começou a
coçar a cabeça e respondeu – “parece que há jogadores que não dão
máximo, no jogo seguinte”. “Este é o terceiro paradoxo, que poderá estar
na base destas derrotas “estrondosas” – começou por dizer o detetive
Colombo, enquanto o Presidente Angie se mostrava curioso, e continuou –
“quando os jogadores estão rodeados de outros excelentes jogadores,
poderão, pontualmente, acreditar que não necessitam de dar o máximo
individualmente, porque têm muitos outros excelentes jogadores que os
poderão compensar. Agora repare, o que poderá acontecer se em vez de um,
houver vários jogadores a pensar da mesma maneira?”
“Detetive
compreendi a mensagem. O que, há partida, poderá ter sido uma vantagem
ou o que resulte da própria evolução da equipa, estarmos rodeados de
exelentes interpretes, poderá resultar em alguns jogadores não darem o
seu máximo, não haver esforço coletivo simultâneo, com isso a equipa
tornar-se em “menos do que a soma das partes” e consequentemente perder
grandes vantagens ou obter uma derrota inesperada” – resumiu o
Presidente Angie e sem se deter, perguntou – “qual é o quarto vírus que
disse que podia contaminar estas situações e contribuir para as derrotas
inesperadas?”
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“Presidente, já se apercebeu que, por vezes, depois
de uma vantagem “confortável” as pessoas começam a pensar que têm de
manter a vantagem, têm de não perder?” – perguntou o detetive Colombo,
ao que de imediato o Presidente Angie respondeu – “vezes sem conta e não
só entre jogos da primeira e segunda mão, também vejo isso, várias
vezes, entre a primeira e a segunda parte, dos jogos. As pessoas e as
equipas parecem jogar para não perder.” “Exato, Presidente” – começou
por dizer o detetive Colombo e prosseguiu – “permita-me fazer um pequeno
exercício, pode parecer-lhe estranho, mas julgo que irá ajudar.
Presidente pense numa imagem para a palavra “casa”. Conseguiu construir
uma imagem?”. “Sim, claro” – respondeu o Presidente e de imediato o
Detetive Colombo lança um segundo desafio – “agora construa uma imagem
para a palavra “carro”, agora da palavra “estádio”. Conseguiu?”. Embora
um pouco intrigado, o Presidente Angie respondeu – “perfeitamente”.
“Agora construa uma imagem da palavra “não”. Conseguiu?” – perguntou o
Detetive Colombo. A cara do Presidente Angie parecia mostrar alguma
estranheza, mas respondeu – “nem por isso”.
O olhar do
Presidente parecia denunciar que tinha descoberto algo de importante e
disse - “ou seja, todos temos alguma dificuldade em representar, através
de uma imagem, a palavra “não”. Por isso, quando jogamos para “não
perder”, como conseguimos construir facilmente uma imagem de “perder”,
mas temos dificuldade em fazer o mesmo com a palavra “não”, então quando
“jogámos para não perder”, estamos a dizer a nós mesmos “jogar para
perder”, quando queremos é ganhar.”
“Detetive, isto quer dizer que
os “Liverpools” e os “Tottenhams” não têm mérito, nas vitórias
surpreendentes?” – perguntou o Presidente Angie. “Não, de modo nenhum” –
começou por responder o Detetive Colombo e continuou – “quer dizer que,
do mesmo modo que para dançar o tango são precisas duas pessoas, para
haver derrotas inesperadas e vitórias surpreendentes, também são
precisas duas equipas”.
Enquanto pensava nestas quatro
ratoeiras que podiam “matar” a mudança no Clube e no valor emocional e
financeiro, que estes conhecimentos tinham para um Clube, (financeira e
diretamente, o vencedor da Liga dos Campeões, só pela final, recebe 19
milhões de euros), o Presidente Angie colocou mais uma pergunta –
“Detetive Colombo, estivemos a aprender com um dos pares do tango, o das
derrotas inesperadas e dolorosas, mas o que é que podemos aprender com o
outro par, os que obtiveram vitórias surpreendentes e memoráveis?”
“Presidente,
podemos regressar a esse tema mais tarde, na próxima conversa? Tenho
uma chamada da central urgente a que tenho de responder” – disse o
Detetive Colombo. “Claro” – devolveu o Presidente Angie, mas estava
curiosíssimo por saber o que podia aprender com os que conseguiram as
“remontadas” memoráveis.
* Doutor em
Psicologia, Mestre em Ciências do Desporto, Licenciado em Ensino da
Educação Física, Treinador de Basquetebol, Treinador de Equipas,
professor de Psicossociologia das Organizações e do Desporto no
Instituto Universitário da Maia – ISMAI e formador em Desenvolver
Equipas Eficazes, Motivação e Gestão do Pensamento em Contexto
Profissional, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto.
IN "A BOLA"
09/05/19
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