A ópera dos
‘bons malandros’…
O 25 de Abril foi capturado pelo PCP, que impôs o ‘silêncio dos cemitérios’ sobre o 25 de Novembro
As celebrações do 1.º de Maio e do 25 de Abril cumpriram o calendário
e os rituais do costume, embora com algumas nuances que convirá
assinalar.
Os ‘capitães de Abril’ envelheceram, como acontece a todos, e
mesmo Vasco Lourenço já ‘depôs as armas’ exibidas num comício popular
em 2014, no icónico Largo do Carmo, quando proclamou que «este Governo
[de Passos Coelho] tem de ser apeado»(…), depois de se recusar a
assistir à sessão solene da Assembleia de República, em sinal de
protesto.
Desta vez, não só esteve no Parlamento, de cravo ao peito, como se
sentou à mesma mesa com o Presidente e o primeiro-ministro em exercício,
e até elogiou a ‘geringonça’, certificando que «a democracia mantém-se e
tem funcionado». Uma bênção.
Moral da história: o eterno presidente da Associação 25 de Abril
dá-se melhor com os comunistas do PCP e do Bloco, apoiantes da
‘geringonça’ e de regimes tão ‘democráticos’ como os da Venezuela, da
Coreia do Norte ou de Cuba, do que com os ‘neoliberais’ do PSD ou do
CDS.
O que é contraditório, porquanto foi ele um dos subscritores do
documento do ‘Grupo dos Nove’, aprovado em Agosto de 74, no qual se
assumia a recusa da «teoria leninista de vanguarda revolucionária que
impõe os seus dogmas políticos de forma sectária e violenta (...)». Ora,
o PCP não mudou de sítio... Lourenço, pelos vistos, tem outra visão das
coisas.
É a sua escolha, em coerência com a captura do 25 de Abril pelo PCP,
que impôs o ‘silêncio dos cemitérios’ sobre o 25 de Novembro (sem piada
para a nova Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa, outra
originalidade da família socialista... e da família de Carlos César).
E, no entanto, essa data merecia ser tão festejada como o 25 de
Abril, porque só então ficou restabelecida a liberdade que o PCP
procurava sequestrar.
Esperemos, por isso, que em 2020 haja a coragem de assinalar os 45
anos do 25 de Novembro, porque sem esse movimento – que envolveu
militares inesquecíveis como o histórico Jaime Neves – o nosso destino
colectivo teria sido sombrio.
Mas não tenhamos ilusões. Se houver outra ‘geringonça’ depois das
legislativas de outubro, o 25 de novembro continuará no olvido oficial,
por imposição do Partido Comunista, que nunca agradeceu a Melo Antunes
(o ideólogo do ‘Grupo dos Nove’) por ter ido à televisão na ressaca do
movimento vitorioso advogar a continuidade do PCP.
Os comunistas devem-lhe muito. Sem a sua ajuda, talvez se tivessem
eclipsado, como aconteceu aos congéneres espanhol, francês ou italiano.
Ao contrário dos ‘partidos-irmãos’, que se extinguiram, o PCP não só
não se desviou um milímetro da sua ortodoxia como, ironicamente, soube
prosperar graças aos ensinamentos da economia do mercado, acumulando um
invejável património imobiliário, que gere com sabedoria e isenção de
IMI.
Em agosto de 75, Otelo Saraiva de Carvalho – outro capitão da ala
radical de Abril –, no regresso de uma visita a Cuba (e a Fidel Castro),
defendia a ida dos «fascistas para o Campo Pequeno» (alusão
interpretada como uma ameaça de fuzilamento dos que se opunham ao
processo revolucionário…).
Agora, em modo trovadoresco, ouviram-se as irmãs bloquistas Mariana e
Joana Mortágua gritar uma cantiga, na marcha do 25 de Abril, cujo
refrão era: «Ó meu rico Santo António, ó meu santo popular, leva lá o
Bolsonaro para ao pé do Salazar».
Embora se ignorasse a virtuosa devoção antoniana das deputadas – ou a
relação do Santo com o 25 de Abril –, a tolice foi repetida com
megafone, perante a cumplicidade de Catarina Martins e Marisa Matias ao
lado. Pregaram, afinal, a violência, disfarçada de «referências
simbólicas» (Bloco dixit…), tendo como destinatário o Presidente eleito
de um importante país lusófono.
É a ‘novilíngua de pau’ do Bloco de Esquerda, cujos mentores,
enraizados na burguesia urbana e no mundo académico, continuam fieis
discípulos do trotskismo que lhes vai na alma – e que emerge sempre que
se ‘libertam’, empunhando a cartilha no protesto de rua.
Entre Otelo revolucionário e as gémeas Mortágua (filhas de Camilo
Mortágua, fundador do grupo para-armado LUAR) a diferença será apenas
geracional.
Tal como Jerónimo de Sousa, também as principais figuras do Bloco
aprenderam a suavizar as suas intervenções televisivas – desde o
‘evangelista’ Francisco Louçã a Catarina Martins, às Mortáguas ou a
Marisa Matias –, com sorrisos postiços e um discurso armadilhado. De vez
em quando, cai-lhes a máscara e mostram o que são.
No 25 de Abril e no 1º de Maio, o Bloco e o PCP repetiram as
coreografias já conhecidas, numa espécie de ‘ópera dos bons malandros’.
Só ‘compra bilhete’ quem não for avisado. O Governo e o PS tiraram
assinatura…
IN "SOL"
04/05/19
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