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IN "O JORNAL DE NEGÓCIOS"
07/05719
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O perigoso mundo de TEDs
inspiracionais e de paixões
Afinal, devemos educar para as paixões ou para o empenho, sacrifício e crescimento, no que toca a desafios profissionais?
Fala-se, hoje em dia, na importância de seguirmos as nossas paixões,
mesmo em termos profissionais, para que concretizemos um propósito.
Contudo, vão surgindo vozes discordantes, que alertam para os perigos de
se educar uma nova geração com esse objetivo de realização pessoal
através daquilo de que gosta (ou que acha que gosta) - e não
necessariamente através daquilo que faz melhor ou que é mais valorizado
por terceiros. Esta questão, que pode afetar a forma como estamos a
educar e a formar toda uma geração, assume maior relevância do que
poderia parecer à primeira vista. Basta conversar com os mais novos para
se perceber isso mesmo.
Um estudo publicado
na revista Psychological Science (Implicit Theories of Interest: Finding
Your Passion, de O'Keefe, Dweck e Walton), conduzido por professores de
Stanford e Singapura, alerta para os perigos de se estar
sistematicamente a incentivar os mais novos a seguirem as suas paixões -
algo "inspiracional". De acordo com estes autores, porque é que
incentivar "find your passion" pode ser nocivo? Em primeiro lugar,
porque pode passar-se uma noção de facilidade que depois não se verifica
na prática. Será que uma pessoa que está decidida a seguir a sua paixão
e depois verifica que não está a conseguir ser bem--sucedido, se
impacienta e desiste, com grande frustração? Parece que há alguma
evidência nesse sentido.
O debate existente tem a ver com a
diferença entre ter uma paixão (vista como algo fixo, "é aquela a coisa
que eu quero fazer") e simplesmente segui-la, "versus" desenvolver uma
paixão à medida que se vai fazendo um percurso educativo e profissional
que, à partida, pode não parecer tão apaixonante. Em experiências
conduzidas pelos autores que mencionei, parece existir alguma evidência
de maior sucesso e capacidade de resiliência naqueles que não apostam
tudo na sua paixão logo à partida, mas sim que investem e persistem. No
fundo, esta situação parece estar alinhada com algo que já no passado
aqui mencionei: a importância da capacidade de adaptação.
É
bom termos estes resultados e teorias em conta quando desempenhamos o
nosso papel de educadores, seja enquanto mães ou pais, seja nas
universidades. Afinal, devemos educar para as paixões ou para o empenho,
sacrifício e crescimento, no que toca a desafios profissionais? Será
que as "business schools" devem fazer um esforço para terem um discurso
"inspiracional" para o seu público-alvo bem como para empregadores com
idade para serem pais e mães dos novos graduados? É uma questão
pertinente. Isto leva-me ao grande mundo TED.
No sábado
passado, a Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa acolheu um
evento TED. Hoje quase toda a gente sabe o que são as TED conferences.
Mas passar um dia inteiro a assistir a "talks" inspiracionais sucessivas
deixou-me tão preocupada quanto inspirada. E passo a explicar porquê.
Comecemos pelo início, pelo que são estas TED talks. Traduzido à letra,
TED significa "Technology, Entertainment, Design". Essencialmente,
sucedem-se num palco oradores que cativam uma larga audiência com um
discurso escorreito, motivador e inspirador. Eu, que sempre gostei de
discursos, também gosto das TED talks. São uma forma de divulgar ideias -
uma espécie de "speaker's corner" com efeito amplificado através de
transmissão na "net". Foi bonito, e certamente algo inspirador, ouvir
histórias pessoais de superação de alguns e paixões de outros. Mas, para
mim, há qualquer coisa que é perturbadora no ambiente de uma
conferência TED.
Nestes eventos, cada um diz o que quer (e
muito bem, há liberdade de expressão), mas não há debate ou
contraditório. É essa a natureza das TED talks. Na plateia é frequente
termos um público jovem. E, quando pensamos nos hábitos desta geração,
temos a clara noção de que se vive de uma comunicação virtual, com uma
impressão digital deixada no dedilhar com os polegares e com os dedos
indicadores. Mas, no dia das TED talks, ou mesmo quando as visionam no
YouTube, estes jovens veem uma pessoa a falar quase sempre sem outro
suporte que não a sua própria voz e presença física. Desta forma, o
público vê um ser humano sem artefactos a expor-se perante si e o
público humaniza-se também e emociona-se de acordo com o que vê o outro
expor. É uma partilha estranha, intimista em massa. Lembra um pouco, com
as devidas distâncias, uma missa, um ambiente de celebração
"religiosa", em que se diz uma forma diferente de ámen no fim. No
entanto, quem fala, é frequente partilhar muito de si, revelar em
público o que é privado, como acontece amiúde nas redes sociais.
Nas
intervenções inspiracionais de caráter mais pessoal, fala-se de
paixões, de obstáculos e de aceitação. Do meu ponto de vista, este é o
aspeto valioso das TED talks: apelar à importância de seguir paixões,
mas também alertar para a necessidade de superação e de elevar a
autoestima quando surgem dificuldades. Aceitar as limitações de cada um
não é fácil, mas pode ajudar a sermos melhores naquilo que fazemos e
damos a nós próprios e aos outros.
PS - E, por falar de
inovação científica e pedagógica na área de experimental e "behavioral
economics" (ou "management"), cumprimento os meus colegas do ISEG que
inauguraram esta semana o novo laboratório XLab, que promete melhor
caracterizar o nosso processo de tomada de decisão. É apaixonante!
Dean do ISEG - Lisbon School of Economics & Management, Universidade de Lisboa
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