Um ano
depois de Trump retirar os EUA do Acordo Nuclear com o Irão (negociado
pela Administração Obama juntamente com UE, Rússia e China), Teerão
ameaça também desvincular-se. Para assim retomar o enriquecimento de
urânio sem controlo da Agência Internacional de Energia Atómica, ou
seja, para retomar o programa de armamento nuclear...
Teerão
atua em jeito de ultimato à UE, que se tem revelado incapaz de acionar o
mecanismo financeiro que criou com vista a cumprir as contrapartidas de
desbloqueamento económico prometidas ao povo iraniano pelo Acordo. Mas
com o povo iraniano (mais de 80 milhões de pessoas) poucos parecem
importar-se: isolar mais o regime dos mullahs faz o jogo dos radicais,
não serve para apoiar quem na sociedade iraniana anseia e luta por
liberdade, democracia e direitos humanos... E, conhecendo o Irão,
percebe-se que se lida com uma civilização milenar, nada a ver com
construções de base tribal engalanadas a petrodólares...
Este
é um Irão que desespera: face a devastadoras cheias que fizeram cerca
de 100 mortos e mais de mil feridos em março último, as autoridades em
Teerão não tinham sobressalentes para mandar aviões e helicópteros em
socorro da população; numa economia já asfixiada a que o FMI vaticina
uma baixa de 6%...
Mas quem não
exaspera e desespera face à inércia europeia para travar, ou ao menos
contrariar, o impacto das sanções americanas? Sanções que servem para a
extrema-direita belicista no poder nos EUA, Israel e Arábia Saudita
esticar a corda, salivando por atacar o Irão, sem cuidar de precipitar o
Médio Oriente, e o Mundo, em nova espiral destrutiva?
À
conta das políticas neoliberais, estes governos europeus já não
governam muito, realmente. Mas ainda menos deixam instituições
europeias, como a Comissão Europeia ou a Alta Representante para a
Política Externa, governar. Não conseguiram sequer travar bancos e
empresas alemãs e francesas de fugir a correr do Irão, com medo de
retaliações da Administração Trump. Ora quem pouco nos governa, muito
menos nos defende... E assim, por falta de Europa, estamos à beira de
mais uma crise na segurança global. E, desta vez, de consequências
imprevisíveis, a ameaçar fazer as guerras em curso na Síria, Iémen ou
Líbia parecerem apenas ensaios...
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
11/05/19
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