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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
01/04/19
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As meias verdades
do Presidente Torra
Artigo de opinião de Marta Betanzos Roig embaixadora de Espanha em Portugal, sobre entrevista do presidente da Generalitat da Catalunha.
O
presidente Torra fez, na última quinta e sexta-feira, uma viagem a
Portugal, onde semeou, naquele breve espaço de tempo, uma série de meias
verdades, por chamá-las de alguma forma, que podem confundir a opinião
pública portuguesa. Descrevo, para que os leitores possam ter a sua
própria opinião, as que na minha, deixou em entrevistas dadas ao
Expresso e ao Diário de Notícias e que foram reproduzidas também por
outros meios.
1. "Estou em Portugal para agradecer o facto de há
um ano o Parlamento português ter aprovado uma resolução a solicitar que
Espanha dê uma solução política ao conflito catalão, baseada na vontade
do povo da Catalunha. "( Diário de Noticias 30-3-2019).
O
Presidente Torra está a agradecer ao povo português uma coisa que não
lhe deu. Há um ano a Assembleia da República aprovou uma resolução a
apelar uma solução política que garantisse os direitos democráticos e
sociais de todos os povos de Espanha, e entre eles o catalão. Perante
uma afirmação que envolve toda a cidadania portuguesa é preciso
esclarecer que o Presidente Torra, no entanto, só foi recebido por
alguns parlamentares, e que o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Santos
Silva, disse de forma clara em Quito que, mesmo que ele pedisse, não o
receberia. É falso que ele possa agradecer "o apoio do povo português"
ou do Parlamento pela causa que defende
2. "Consideramo-nos herdeiros do tempo em que a Catalunha era um Estado independente." (Expresso, 30-3-2019).
A Catalunha nunca foi um Estado e menos ainda independente, mas sim um território do Reino de Aragão.
3.
"...estaria muito feliz em ser português, no sentido em que vocês, na
vossa Constituição, têm consagrado um artigo, o sétimo, de defesa do
direito de autodeterminação dos povos."(Diário de Noticias,30-3-2019).
O
Presidente Torra esquece-se de dizer que Espanha, como todos os países
membros das Nações Unidas, também reconhece o direito à
autodeterminação, mas apenas os territórios que foram colónias. As
constituições democráticas rejeitam esta figura. Só a Etiópia e um país
das Caraíbas, São Cristóvão e Neves, a recolhem legalmente para o seu
próprio território.
4. "Hoje sabemos que a luta pela independência
da Catalunha é uma luta pelos direitos civis, incluindo o direito à
autodeterminação" (Expresso,30-3-2019). "a nossa é uma luta pelos
direitos civis" (Diário de Noticias, 30,3,2019),
Misturar
conscientemente direitos civis e direito à autodeterminação é um insulto
à inteligência. Os direitos civis estão reconhecidos em todas as
Constituições democráticas, e com certeza, tanto na espanhola como na
portuguesa, mas não o direito à autodeterminação.
5. De acordo com
o presidente Torra 80%, na Catalunha, apoia a sua posição política
contra a monarquia e a favor da república e "querem que se realize um
referendo sobre a autodeterminação da Catalunha" (Expresso,30-3-2019).
Estes 80 por cento aos que se refere o presidente é o resultado de
sondagens, que todos sabemos que são interpretáveis de forma
tendenciosa. Se fossem uma fonte de direito as eleições não seriam
necessárias e seriamos governados por institutos de opinião pública.
Esquece-se de dizer, também, que em todas as eleições até agora, ou seja
em autênticas eleições livres (não numa sondagem, nem em falsos
referendos como o de 1 de Outubro com subterfúgios em que se votou sem
nenhuma campanha, sem recenseamento eleitoral nem contagens
verificáveis), até à data os catalães que apoiam o separatismo continuam
a representar uma percentagem inferior a 50%. Este sim que é um dado
comprovável.
6. "Tanto os partidários do Sim à independência como
os partidários do Não à independência querem resolver este conflito
politicamente" (Expresso,30-3-2019)
Todos os partidos espanhóis desejam uma solução política, mas o
Presidente Torra esquece-se de dizer que nem em Portugal, nem na
Catalunha, nem em Espanha, nem em qualquer lugar civilizado há espaço
para soluções políticas fora da Constituição e as leis democráticas.
Numa democracia a única maneira de fazer política é respeitando as leis.
A política também a fazem aqueles que confrontam os sistemas
democráticos. Mas isso não é fazer política democrática, é outra coisa.
7.
"Eu mesmo, sou alvo de uma queixa da justiça (fiscalía) por manter um
cartaz na Generalitat. Querem inabilitar-me como presidente da
Generalitat por manter esse cartaz..." (Expresso, 30-3-2019) "A mim
queriam que desse a ordem para retirar os laços amarelos e não o vou
fazer nunca. (Diário de Noticias, 30-3-2019)
Não esclarece que é
um cartaz na varanda da Generalitat, uma instituição que deve
representar todos os catalães, além disso exposto num período eleitoral e
colocado num edifício público para fazer campanha partidária. Ninguém
impede os partidos e os seus seguidores de exibir esses símbolos nas
ruas ou onde quiserem, mas não nas instituições públicas de cuja
neutralidade as autoridades devem ser uma garantia.
8. "Somos uma minoria nacional dentro do Estado espanhol" (Expresso,30-3-2019).
Em
aplicação do Convénio Marco para a Proteção das Minorias Nacionais do
Conselho de Europa, a comunidade cigana é a única minoria reconhecida em
Espanha. O presidente confunde conscientemente, minoria nacional com
minoria política e dessa diferença derivam importantes consequências
pelo que é necessário este esclarecimento.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
01/04/19
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