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É para o juiz e para a juíza
"Uma das agressões aconteceu porque não gostou que a mulher tivesse comido umas bananas que ele tinha comprado".
Se
lesse esta frase fora de contexto pensaria que era um relato sobre a
Aldeia dos Macacos, em que um símio ligeiramente mais evoluído que os
restantes (por conseguir ir à mercearia) provou que, ainda assim, está
bem longe do homo sapiens, já que bateu numa mulher. Infelizmente
trata-se de um acórdão do tribunal, onde ficamos a saber que um ex-GNR, e
grande apreciador de bananas, agrediu a mulher, à bofetada e ao
pontapé, durante 12 anos. Tinha tudo para ser mais um caso de "viveram
infelizes para sempre" (na melhor das hipóteses) mas a boa notícia é
esta: o ex-GNR foi condenado a 4 anos de pena de prisão efetiva. Porém, e
perdoem-me se são daquelas pessoas que preferem as más notícias
primeiro, a pena foi agora reduzida para três anos. O Tribunal da
Relação alegou que uma pena mais longa poderia prejudicar a sua
reinserção social. Trocado por miúdos: o cavalheiro poderia sentir
dificuldades em seduzir outra donzela, com quem pudesse trocar juras de
amor eterno. Quem diz juras de amor diz um "pé em cima do pescoço",
gesto ternurento que teve para com a ex-mulher. Mas não foi gratuito,
atenção. Ela provocou. Segundo os factos dados como provados, o arguido
não gostou de ver a mulher com o comando da TV na mão. Estava mesmo a
pedi-las. Uma coisa é as mulheres já poderem votar, conduzir, sair do
país sem autorização do marido. Não queiram agora também mudar de canal
quando lhes dá na gana.
Nem
sei o que o meu marido me faria se sequer sonhasse que eu pretendia
mudar de canal... O que seria, pegar no comando e tirar da SIC Mulher,
onde ele acompanha o "Faz sentido" com Ana Rita Clara, para pôr na
SporTV, para ver o City-Wolves! Ficaram baralhados agora com esta
inversão de estereótipos, não foi? É provável que nunca deixemos de
associar o futebol e os carros aos homens, e a moda e as telenovelas às
mulheres, por mais que a Elisabete Jacinto conduza camiões ou o viril
futebolista Petit confesse que vê sempre a novela da noite (aconteceu há
uns anos e eu armazenei essa inútil informação para sempre). Não acho
grave que isto aconteça, pode haver uma expectativa generalizada de que
os rapazes queiram ser astronautas e as raparigas bailarinas, desde que
isso não os impeça de se tornarem em brilhantes bailarinos do Royal
Ballet ou destemidas mulheres em missões espaciais, imagem que deve ser
especialmente encanitante para os homens que acham que elas nem deviam
poder pegar no telecomando!
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Se não me
preocupa o azul para menino e rosa para menina, já acho mais inquietante
quando se trata de "casos para juíza desembargadora e casos para juiz
desembargador". Sim, falo-vos de Pedro Proença, um nome destinado a dar
chatice. Se bem que, à luz do que sabemos hoje, creio que ficávamos mais
contentes se tivesse sido o Proença advogado a perder a dentição no
Colombo. Calma, não sou apologista da violência! Era só porque, sem
dentes, acabaríamos por não perceber nada do que ele diz. Era melhor
para todos. O advogado exigiu que a juíza Adelina Barradas de Oliveira
fosse impedida de analisar o recurso de um homem, condenado por violar a
própria filha, por ser mulher e "certamente mãe". Esta última suposição
é muitíssimo insultuosa. Deduzir assim, sem qualquer prova, que a
senhora é mãe, equivale a dizer que ela está com péssimo ar, olheirenta,
inchada, desgrenhada. Por algum motivo quando se elogia a beleza
feminina se diz "ela está ótima, ninguém diria que já tem três filhos!".
Sim, eu sei que o foco da discussão está no facto de Pedro Proença
insinuar que a magistrada não seria tão imparcial quanto um juiz. Mas
isto é muitíssimo mais ofensivo para os homens do que para as mulheres.
Proença parece acreditar que perante o caso de um pai que viola uma
filha na véspera desta completar 18 anos, alegando que ela o seduziu, a
maioria dos desembargadores ajuizará com benevolência. Como se fosse uma
coisa de homens, que se resolve com uma palmada nas costas e uma
redução de pena. Quero crer que Pedro Proença está tão errado nos seus
juízos sobre juízas como sobre juízes. Confio que os magistrados, na
hora de julgar alguém, sejam como a nova coleção da Zippy: sem género.
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* HUMORISTA
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
14/04/19
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IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
14/04/19
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