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O que acontece se não forem cumpridos os termos da requisição civil?
Quando foi a última vez que um Governo avançou com uma requisição civil?
E na saúde, já houve alguma requisição civil?
Por que é que o Governo avançou agora com uma requisição civil?
E o que está em causa?
O que diz o sindicato?
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HOJE NO
"OBSERVADOR"
Greve dos enfermeiros pode ser
evitada através da requisição civil?
Perguntas e respostas
O Governo aprovou, em Conselho de Ministros, uma requisição civil para os enfermeiros para travar a greve cirúrgica destes profissionais. Perguntas e respostas sobre este mecanismo.
O Governo aprovou esta quinta-feira, em Conselho de Ministros, uma
resolução que reconhece a necessidade de requisição civil para os
enfermeiros. Em conferência de imprensa, a ministra da Saúde, Marta
Temido, disse que o executivo não teve “alternativa”. O Observador
explica-lhe o que tem de saber sobre o funcionamento deste mecanismo e
quando foi a última vez que foi ativado.
O que é a requisição civil?
A requisição civil está prevista na legislação portuguesa desde 1974,
pela mão do Governo liderado por Vasco Gonçalves. De acordo com o
decreto-lei n.º 637/74, este mecanismo só pode usado quando, perante
“circunstâncias particularmente graves”, “não estejam assegurados os
serviços mínimos”.
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A requisição civil tem carácter excecional e pode ser
acionada em situações de emergência ou quando está em causa o
cumprimento de serviços essenciais de interesse público. Entre os
serviços públicos ou empresas que podem ser alvo deste mecanismo estão,
por exemplo, as atividades que visam “a prestação de cuidados
hospitalares, médicos e medicamentosos”. No fundo, a requisição civil
permite convocar trabalhadores para se apresentarem ao serviço para
salvaguardar o interesse nacional.
O que acontece se não forem cumpridos os termos da requisição civil?
A lei, datada de 20 de Novembro de 1974, prevê consequências para os
funcionários que, em contexto de greve, não compareçam ou se recusem a
desempenhar as funções atribuídas, isto quando levantado o mecanismo de
requisição civil. As consequências para os trabalhadores podem ir desde
processos disciplinares a consequências criminais, como o crime por
abandono de funções.
Quando foi a última vez que um Governo avançou com uma requisição civil?
Em Dezembro de 2014, o executivo liderado por Pedro Passos Coelho anunciava a possibilidade de avançar com uma requisição civil,
na sequência do pré-aviso de greve entregue pelos trabalhadores da TAP.
A situação foi analisada em Conselho de Ministros, e o Governo avançou
com uma requisição civil, assegurando assim a realização de mais de mil
voos pela empresa, segundo afirmou o então ministro da Economia, António
Pires de Lima. Por este ser um instrumento de último recurso, a
requisição civil foi várias vezes decretada na história da democracia
portuguesa: foi inaugurada em 1977, por Mário Soares, para impedir uma
greve de pilotos da TAP. Também no Verão de 1997, por exemplo, o então
Governo de António Guterres convocou uma requisição civil como resposta
ao anúncio de uma outra greve dos pilotos.
E na saúde, já houve alguma requisição civil?
Sim, mas apenas mais uma vez: em 1976. A requisição civil foi
aprovada tendo em conta uma greve dos enfermeiros que reivindicava
aumentos salariais. O documento foi assinado a 17 de março pelos
ministérios da Administração Interna, da Educação e Investigação
Científica e dos Assuntos Sociais da altura, justificando a decisão com
“a gravidade da situação existente nos serviços hospitalares e demais
serviços da saúde” em consequência da paralisação.
Esta requisição
obrigava cada trabalhador a “prestar os serviços que vinha
desempenhando anteriormente à greve iniciada a 12 de março de 1976 e até
que sejam estabelecidas as condições normais de trabalho”.
Por que é que o Governo avançou agora com uma requisição civil?
A decisão não foi tomada “de ânimo leve”, disse esta quinta-feira a
ministra da Saúde, Marta Temido, em conferência de imprensa depois da
reunião do Conselho de Ministros. A governante explicou que “face ao que
está posto em causa na área da enfermagem e às situações de
incumprimento de serviços mínimos dos diversos hospitais atualmente em
exercício de greve, não teve o governo alternativa à resolução da
aplicação do instituto da requisição civil”. Foi desta forma que a Marta
Temido clarificou a posição tomada pelo Governo, adiantando que “será
agora por portaria do Ministério da Saúde que se definirá em concreto e o
respetivo âmbito”. A ministra da Saúde explicou ainda que não houve
“prejuízo daquilo que é o reconhecimento do direito à greve”, e vai
agora preparar a portaria que definirá os termos desta requisição civil,
que terá “efeitos imediatos”.
E o que está em causa?
Esta requisição civil está ligada à greve cirúrgica dos enfermeiros, que
se iniciou a 31 de Janeiro e se prolonga até ao fim do mês, 28 de
Fevereiro. Em entrevista à RTP, na semana passada, Marta Temido admitia
equacionar meios jurídicos para travar a nova greve dos enfermeiros nos
blocos operatórios. A tutela dizia então que esses “meios jurídicos”
poderiam passar por uma requisição civil, no entanto, a ministra
considerava que essa era uma “opção extrema”, só usada quando não são
cumpridos os serviços mínimos. Já no último sábado, na sua rubrica de
comentário na SIC, Luís Marques Mendes avançava com a informação de que o
executivo tinha pedido um parecer ao conselho consultivo da
Procuradoria-Geral da República sobre a hipótese de avançar com a
requisição civil.
O que diz o sindicato?
Em resposta ao anúncio feito pelo Governo, a Associação Sindical
Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) afirmou à Lusa que os enfermeiros não
ficarão serenos em relação à decisão da requisição civil. A estrutura
sindical avisou o Governo para o risco de surgirem formas de luta “mais
incontroláveis” que não sejam suportadas por sindicatos. A presidente da
ASPE rejeita os fundamentos para a requisição civil decidida esta
quinta-feira. Segundo Lúcia Leite, o Governo “optou por um caminho que
parece fácil, mas que lhe pode trazer dificuldades bem maiores no
futuro”. Já na última sexta-feira, este sindicato tinha defendido que a
possibilidade de o Governo de António Costa avançar com a requisição
civil para combater a greve cirúrgica dos enfermeiros constituía uma
“ameaça ou coação” para tentar desmobilizar aqueles profissionais de
saúde. Perante este cenário, a presidente da ASPE admitiu mesmo
prolongar a luta dos enfermeiros. Lúcia Leite dizia entender que este é
um direito do Governo, mas via a sua posição como uma ameaça para
desmobilizar os enfermeiros. Estes profissionais protestam contra a
falta de valorização da sua profissão e contra as dificuldades das
condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde. A greve abrange sete
hospitais públicos e deverá adiar milhares de operações. Já antes da
entrevista à SIC, o primeiro-ministro tinha dito que a as greves dos
enfermeiros têm sido “selvagens”, e que são “absolutamente ilegais”.
* António Costa requisitou sarna para se coçar e depois vai precisar de um enfermeiro que lhe aplique o creme para aliviar a coceira.
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