11/01/2019

NUNO MORNA

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Não há Machado que corte...

1. Livro: o Pai Natal trouxe-me “Pátria” de Fernando Aramburu. É um daqueles livros que, quando se abre a primeira página, não descansamos enquanto não o lemos todo. Uma maneira excelente de entender a questão basca, as suas tensões, relações, sob a batuta de duas famílias que de amigas se tornam em inimigas.

2. Disco: o disco vem a propósito do livro. Dá pelo nome de “Ath-Thurdâ” e é do basco Kepa Junkera que, já tocou entre nós, aqui há muitos anos. Tem a particularidade de associar a “trikitixa”, acordeão diatónico basco, ao cante alentejano. Imprescindível.

3. Não sou diferente das outras pessoas. Todo o ano faço promessas que, na primeira oportunidade, deixo de cumprir. Pelo menos, a esmagadora maioria delas. Lembro-me de, em 2013, ter decidido estabelecer como meta perder 10kg. Fiz o mesmo em 2014: perder, então, 15kg, que era para compensar. Em 2015, a meta era perder 20kg; em 16 subi a fasquia para 25 e em 17 para 30Kg. No ano passado é que era: perder 35Kg. E esta foi cumprida. Para, depois, dar cabo de parte dela...
Para este ano, a resolução vai ser a de lutar contra os padrões físicos impostos por uma sociedade que sobrevaloriza o corpo sobre a mente...

4. O director do Público escreveu um inenarrável editorial sobre o facto de na Madeira e nos Açores, Autonomias de pleno direito com poderes próprios, o tempo de serviço dos professores ir ser todo contado, ao contrário do que se passa com o não cumprimento da promessa de António Costa no continente.

Acreditem que não tinha intenção alguma de escrever sobre este assunto. Mas, todo e qualquer ataque à Autonomia, é coisa que me mexe com os nervos.

Vou usar um termo que, talvez por desuso, já não utilizava há muito tempo: o director do Público é um “boque”.

Nem centralista é, pois papagueia incoerências sobre o modo constitucional como se organiza o país. É aquilo a que nós, os da minha geração, quando jovens, chamávamos um “boque”.

Um “boque” é alguém que não sabe do que fala. É um tonto.

Não consegue perceber que, se este país tem duas classes de professores, onde eles são destratados não é nas regiões autónomas, é no continente e pela mão do Governo Central.

O “boque” não entende que quem está errado é António Costa que nem o apoio dos companheiros de Geringonça consegue ter.
O “boque” é um “boque” porque olha, mas não vê.
É um “boque” porque, mesmo com as coisas à frente do nariz, não consegue concluir.
É um “boque” e pronto.

5. A Agência Abreu produziu um excelente catálogo para vender o produto Madeira. Na capa, uma das paisagens mais bonitas da ilha grande, Boaventura salvo erro, em dia não. E em dia não porque mostra a falésia sobre um mar todo sujo de terra, produto de um aluimento ou de algo parecido. Dentro da publicação, há dezenas de fotografias que mereceriam muito mais uma chamada de capa do que a escolhida. Enfim.

6. Num dos seus primeiros discursos como ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, e com uma única frase que define ao que vai, a evangélica Damares Alves diz alto e bom som que está “inaugurada agora uma nova era no país, em que menino veste azul e menina veste rosa”.
“Eta, bendito pé de goiaba”...

7. Sim, eu sei da vida sofrida da senhora ministra. Da infância terrível que deve ter tido, do que sofreu. Conheço algumas pessoas que têm histórias de vida pavorosas. E, precisamente por isso, não gostaria de ver algumas delas como ministras do meu país. Tomara que me engane.

8. A ministra do Mar anda a enrolar coisas importantíssimas relacionadas com o Centro de Registo de Navios, há mais de dois anos. Uma dessas coisas, é a legislação que urge no sentido de permitir que embarcações com registo na Madeira possam ter guardas armados a bordo. Nem de propósito, o MSC Mandy foi atacado por piratas, ao largo do Benin. Não sendo o caso do Mandy, a MSC tem navios registados aqui. E isso podia ter acontecido com um deles.

A Ministra do Mar vem aí para uns tais de Estados Gerais. Há quem ande a criar a expectativa de que vai anunciar o desbloqueamento do ferry, o ano inteiro. Tenho para mim que não irá além de papaguear o que está nas Grandes Opções do Plano.

Que nessa assembleia haja alguém com coragem para a confrontar com o que não resolve. É que, esta política do “nem coisa, nem sai de cima”, já começa a provocar urticária.

9. Entretanto, a bordo do Lobo Marinho vendem-se frasquinhos de areia da Ilha Dourada por 3,95€...
E, no Porto Santo, um inédito protesto contra o facto de a ilha ficar sem ligação marítima durante cerca de um mês. É bom ver que as pessoas começam a reclamar sobre o que está mal. É um direito e um dever.

10. O Indignómetro andou ao rubro por causa da ida de Mário Machado ao programa do Goucha. Até os que evitam indignar-se se indignaram. E eu, aqui, sem me sentir indignado. Eu sei que ele foi condenado por ter participado na morte de Alcino Monteiro. Eu sei que ele é racista e xenófobo. Como também sei que agora procura branquear aquilo que é e que não vai deixar de ser.

Já o escrevi, aqui, várias vezes que gosto de ter os meus amigos por perto e os meus inimigos ainda mais perto. Mário Machado é um inimigo da democracia. Não gosto do que ele representa, do que diz, do que defende. Ele, se pudesse, não me deixaria nunca dizer o que penso e defendo. Eu, porque sou melhor do que ele, acho que tem o direito de dizer as barbaridades que quiser. Se, e por via disso, cometer alguma ilegalidade, que a justiça se pronuncie sobre tal.

Se o impedirmos de deitar cá para fora as diarreias mentais que se lhe contorcem na cabeça em espaços como a televisão, ele fá-lo-á na mesma em inúmeros grupos e páginas das redes sociais, onde não há direito de contraditório, porque se o fizermos os comentários são apagados e levamos com um bloqueamento em cima. E depois, de repente, fica tudo espantado quando estas porcarias ganham força e se reproduzem.

A democracia tem, em si, uma superioridade moral sobre esta gente que lhes permite fazer aquilo que eles, se puderem, nos impedirão de fazer. Se lhes respondemos do mesmo modo, em que é que somos diferentes?

Do que tenho mesmo medo é de quem, ao defender limites à liberdade de expressão, permita que construamos uma sociedade asséptica, onde as pessoas não ouçam o que as incomode; a sociedade perfeita da normatização e da normalização. A liberdade de expressão não pode ter limites, por maiores que sejam as perversidades ditas, sob pena de, um dia, também a mim me calarem, por acharem que o que eu digo não deve ser ouvido. E tenho a certeza de que, neste preciso momento, alguém me está a ler e a pensar: “e se estivesses calado, oh palhaço!”. E ponto.

É isso que defende a tal pretensa frase atribuída ao Voltaire, “O Direito a Ofender” do Hume ou o Stuart Mill quando escreve que os problemas da liberdade só se resolvem com mais liberdade.
11. “É pois evidente que quanto mais o Estado intervém na vida espontânea da sociedade, mais risco há, se não positivamente mais certeza, de a estar prejudicando” – Fernando Pessoa

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
08 /01/19

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