09/12/2018

SARA ANDRÉ

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Estaremos mesmo preocupados?

Medidas para combater desertificação e decréscimo demográfico, só com mudanças profundas em muitas áreas e no orçamento

Há uma discussão em torno da desertificação das zonas rurais e do decréscimo demográfico que subsiste há anos na Madeira.

Se, no passado, o argumento se prendia com o facto de muitas delas estarem demasiado afastadas dos centros urbanos, nos dias de hoje, com a aposta nas estradas, essa justificação parece fazer pouco sentido. Então, o que se passa realmente? Dei comigo a pensar no assunto.

A verdade é que, quando escolhemos num local para viver ou para “alargar” a família, pensamos exatamente no “conforto” que ela poderá ter e os filhos assumem uma prioridade.

Como são escolas, horários, atividade, qualidade docente, centros de saúde, serviços de urgência, existência de farmácia, supermercado ou, no mínimo, mercearia, segurança, meios de transporte para eventuais empregos, conciliação da assistência aos menores com o emprego... Acho que, de uma forma geral, estaremos todos de acordo que são estas, entre outras, as principais premissas.

Alguns concelhos começaram a dar “prémios” monetários por cada criança nascida, aos estudantes na universidade, em livros escolares, mas a verdade é que cada vez mais notamos que parece que este é um problema que não terá solução, não deixando, contudo, de serem importantes ajudas.

Temos de ser honestos, qualquer pessoa consciente não irá ter mais filhos apenas porque receberá x€ no seu nascimento, 50€ por mês quando a criança for para universidade ou mesmo a promessa de manuais escolares, porque criar um filho implica muito, mas muitooooo, mais que isso.

Dando um exemplo prático, de uma realidade que conheço, para que todos percebam: como poderá alguém, que tem ou quer ter filhos, pensar em viver na Ponta do Pargo quando a sua pequena escola, toda arranjandinha e equipada e de excelente qualidade, tem turmas unificadas com dois níveis de ensino?

O mesmo acontece com a Fajã da Ovelha e o Paul do Mar. Os alunos do 1.º ano têm as aulas juntas com os do segundo, e os do terceiro com os do quarto.

Conseguem imaginar o trabalho titânico destes professores, a tentarem dar resposta às motivações e anseios numa sala de meninos com necessidades tão diferentes. Poderão dizer que a turma é pequenina; mas estas crianças não merecem ter exatamente as mesmas condições de ensino/ aprendizagem de outras crianças? Deverão apenas representar números para se estabelecer rácios?

Ora, é aqui que considero que os governos deveriam dar o primeiro passo em prol de uma educação básica de qualidade, aquela que todos apregoam: independentemente do número de crianças, todas as escolas deveriam ter um professor para cada nível de ensino e existem escolas que, pela sua situação geográfica e importância social, não podem deixar de existir.

Já alguém pensou no horário de funcionamento das escolas públicas, tendo em conta as exigências aos pais do mercado de trabalho.

Como poderá um(a) pai/mãe que sai do trabalho às 6h da tarde do Funchal (por exemplo) chegar à escola da Fajã da Ovelha, ou Ponta do Pargo, a horas de ir buscar os seus filhos? Aqui, é claramente impossível.

Alguém pensou numa hora extra com atividades livres, assegurada por monitores/auxiliares de educação (ou outra solução) que permitisse aos pais, que trabalham até um pouco mais tarde (e em exclusivo para estes de forma comprovada) terem menos stress diário, tendo em conta as odisseias que muitas vezes tem de fazer, para assegurar que os filhos saem da escola a horas?

Nem vou falar de legislação e, acima de tudo, do cumprimento das entidades patronais dos direitos dos trabalhadores com filhos, porque isso daria várias páginas de DIÁRIO...

Alguém, do governo regional e/ou das autarquias, se deu ao trabalho de verificar todos os horários dos transportes públicos nas zonas rurais, cujas empresas recebem milhares do erário publico para assegurarem o serviço público? Façam isso por favor e verão a vergonha.

Medidas para combater esta situação da desertificação e decréscimo demográfico, só com mudanças profundas em muitas áreas e no orçamento, e infelizmente essas não dão votos, porque os resultados só são aferíveis a médio/longo prazo.

P.S - Sobre a política partidária na RAM, leia-se: em todos os partidos, ando com alguma dificuldade em classificar algumas situações. Talvez me possam ajudar. Como apelidar pessoas que se fartaram de dizer mal pessoalmente, politicamente e profissionalmente de alguém e depois aceitam cargos (políticos e /ou executivos) desse mesmo alguém?

P.S.1 - Não consigo deixar de insistir: políticos acordem! Mudem a lei. Quantas mulheres e crianças terão de morrer? Quantas crianças e mulheres mais, terão de ser violadas, violentadas, espancadas...? Neste momento, são os políticos que tem as mãos manchadas de sangue, por nada fazerem. Discute-se tanto tema na Assembleia da República e será que não há uma “alma” que considere este tema prioritário? Sobre a violência doméstica, leiam as várias notícias todos os dias que vêm a público e releiam o artigo de opinião de Adelino Camacho, coordenador Regional da ASSP/PSP, aqui no DN sobre este tema.

P.S.2 - Sendo o último artigo de 2018, desejo a todos os Madeirenses e Porto-santenses um Feliz Natal e excelentes entradas em 2019.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
09/12/18


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