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IN "NOTÍCIAS MAGAZINE"
10/10/18
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“Aprecio cozido à portuguesa,
mas preferia que fosse feito
com pedaços de portugueses”
“Sou uma espécie de ASAE que fez o treino nos comandos da Carregueira.” Assim se apresenta Ljubomir Stanisic, numa conversa em que também confessa só conseguir comer a nova cozinha gourmet com a ajuda de um microscópio.
Esta semana o meu convidado da entrevista que nunca fiz é o
chefe Ljubomir Stanisic, um homem que se trabalhasse na ASAE já não
tínhamos onde ir jantar fora. Até a minha bimby fugiu de casa quando
soube que o ia entrevistar. Olá, Ljubomir. Não querendo ser chato, além
dos restaurantes, considero que tens destruído parte da classe médica.
Eu?!
Acho que não tens consciência da quantidade de médicos que vivem das gastroenterites.
Lamento, mas eu fico chocado com as condições de limpeza e de salubridade de muitas cozinhas dos restaurantes portugueses.
Epá, então aconselho-te a não ires visitar hospitais. Se um
dia alguém se lembra de te convidar para fazer um “Pesadelo no
Hospital”, fecham as urgências.
Eu sou uma espécie de ASAE que fez o treino nos comandos da Carregueira.
Eu desde que vi o teu programa só vou jantar fora com aqueles
fatos que eles usam na presença de pessoas com o ébola. É tramado para
pegar nos talheres. O que mais aprecio em ti é que tratas as pessoas dos
restaurantes onde vais como a maior parte dos dirigentes do PSD tratam o
Rui Rio.
Não tenho paciência para pessoas em geral e gente que cozinha em particular.
Compreendo-te perfeitamente. Por exemplo, eu odeio cozido à
portuguesa. Para mim, cozido à portuguesa é uma espécie de autópsia
empratada.
Eu aprecio cozido à portuguesa, mas preferia que fosse feito com pedaços de portugueses.
Mas tu tens pior feitio do que eu. O que é raro numa pessoa.
Por exemplo, eu nutro profundo ódio a cenas gourmet. Que exigem que uma
pessoa veja bem para vislumbrar o que tem no prato.
Concordo, a sensação que eu tenho quando acabo é que estou com mais fome
do que tinha antes. É como se atirasses um croquete a um leão.
Há quem diga que isso é psicológico. Se não vemos o prato
cheio já ficamos com a ideia que vamos ficar com fome. Li um livro com
várias receitas de caça gourmet. Por exemplo, o consomé de suor de veado
– segundo o que percebi, o que é bom do veado é o suor e um fungo que
eles têm nas orelhas, o resto é para deitar fora.
Isso não é nada, temos, por exemplo a geleia de DNA de javali que é
servida numa lamela e que é comida com a ajuda de um garfo de ostra e de
um microscópio. A nova comida gourmet é para quem quer passar fome. É
uma cozinha que mistura muito pouco de tudo e nada de muito. É uma
cozinha que faz a fusão entre o que vemos e o que não vemos.
Exato, e presumo que o que não vemos também venha incluído na conta.
IN "NOTÍCIAS MAGAZINE"
10/10/18
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