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Os meus queridos
livros de Agosto
Sete sugestões de livros para férias contra a ideia feita de que, nesta época, o cérebro só absorve literatura light.
Regularmente tenho apresentado neste espaço algumas sugestões de
livros para férias. Com a mesma regularidade tenho-me pronunciado contra
a ideia feita de que, nesta época, o cérebro só absorve literatura light.
Pelo contrário, quando temos mais tempo para ler, podemos descobrir
mundos desconhecidos (enfatizo a palavra “descobrir”, agora maldita),
dando novos mundos a nós mesmos. Alinho aqui alguns títulos, todas eles
edições recentes, por ordem alfabética do apelido do autor.
— André, João Paulo, Poções e Paixões. Química e Ópera,
Gradiva. Este livro, ricamente ilustrado, de um professor de Química da
Universidade do Minho e entusiasta da ópera, é uma obra singular que
reúne as “duas culturas”, ao relacionar de uma maneira assaz cativante
duas áreas tão aparentemente distantes como a química e a ópera. Com
sabedoria e elegância, o autor revela-nos que há muita química na ópera.
— Camarneiro, Nuno, O Fogo Será a Tua Casa,
Dom Quixote. Tenho acompanhado a obra do autor, engenheiro físico que
foi meu aluno na Universidade de Coimbra. Depois de ter ganho o Prémio
Leya de 2012 (Debaixo de Algum Céu), escreveu a colecção de contos, Se Eu Fosse Chão,
e agora faz uma incursão literária pelo Médio Oriente, onde a guerra
tudo incendeia. Aqui descreve-se o drama de um grupo de reféns, de
vários países, nas mãos de fundamentalistas islâmicos.
— Endo, Shusaku, O Samurai, Dom Quixote. O autor é o mesmo de O Silêncio,
que conta a odisseia de dois jesuítas portugueses no Japão no século
XVII e que serviu de guião ao filme de Martin Scorsese. Este livro, que é
uma reedição, conta a aventura de um japonês, Hasekura Tsunemaga, que,
no mesmo século, chegou a Espanha via México. Está ainda por contar em
literatura a viagem de Bernardo de Kagoshima, outro samurai japonês que
se tornou jesuíta e que, 60 anos antes de Tsunemaga, foi o primeiro
japonês a chegar à Europa. Descobriu-nos, portanto.
— Magalhães, Gabriel, Os Crimes Inocentes, Planeta. Do autor, professor de Literatura na Universidade da Beira Interior, li com muito gosto o Como Sobreviver a Portugal continuando a ser Português (um original ensaio sobre a portugalidade) e Restaurante Canibal (uma
divertida sátira). E, por isso, está no meu saco de férias o último
romance dele, que parte de um crime perpetrado no Museu dos Coches, que
vai ser deslindado por uma filha de emigrantes que vive de empregos
precários. Juntando cultura e política, humor e horror, o livro
promete...
— Magdalena, Carlos, O Messias das Plantas.
Aventuras em busca das espécies mais raras do mundo, Bizâncio. Magdalena
é horticultor nos Jardins Botânicos Reais de Kew, perto de Londres, um
dos maiores e melhores jardins botânicos do mundo. Tem dedicado a sua
vida a salvar plantas em vias de extinção, procurando-as nos mais
remotos cantos do planeta. Um volume imprescindível para quem se
interessa pelo prodigioso mundo vegetal.
— Reeves, Hubert, O Banco do Tempo Que Passa. Meditações Cósmicas, Gradiva. O conhecido astrofísico e divulgador de ciência canadiano, que escreveu Um pouco mais de azul
e vários outros bons livros, dá-nos neste livro uma súmula do seu
pensamento científico e filosófico, em que cabem tanto o fascínio pelo
imensíssimo cosmos, como o alerta pela necessidade de defesa da
biodiversidade na Terra. A Gradiva publicou também recentemente duas
bandas desenhadas de Reeves, ambas desenhadas por Daniel Casanave.
— Verney, Luís António, O Verdadeiro Método de Estudar,
Círculo de Leitores (coordenação, introdução e notas de Adelino
Cardoso). Esta é uma das obras maiores da cultura nacional, por ter sido
o primeiro tratado pedagógico escrito na nossa língua. Quando saiu, em
1746, suscitou uma enorme polémica, entre “antigos” e “modernos,” tendo
mais tarde inspirado a Reforma Pombalina da Universidade. Obra
ecléctica, trata tanto da poética e da retórica como da física e da
química, é o vol. 27 da colecção Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa,
coordenada por José Eduardo Franco e por mim, que reúne o “ADN da
cultura nacional”. Já saíram dez volumes, alguns deles sobre as
descobertas marítimas dos portugueses.
Boas leituras. Boas férias!
IN "PÚBLICO"
01/08/18
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