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IN "SOL"
28/05/18
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Porque não se proíbem
as claques no futebol?
«Lembra-te que o fracasso é um acontecimento, não uma pessoa».
Zig Ziglar
Os mais recentes acontecimentos na Academia de Alcochete, que tiveram
como protagonistas elementos de uma claque desportiva de um dos
principais clubes de futebol do nosso país, veio colocar mais uma vez na
ordem do dia as razões da existência (ou não existência) das claques no
futebol.
Apesar de nunca ter sido defensor de que devemos legislar ao sabor de
acontecimentos hípermediáticos – e muitas vezes explorados até à
exaustão pela negativa –, considero pertinente, com a ocorrência de mais
estes incidentes graves em Alcochete, que se discuta se deveremos
aderir a soluções já assumidas noutros países que proibiram a existência
de claques no futebol.
Porque este foi mais um de muitos outros incidentes perpetrados por
elementos de claques nos últimos anos em Portugal. Incidentes de que
resultaram desde mortos até feridos graves, passando por destruição de
bens, tudo dentro e fora dos estádios. E muitos deles, até, em dias em
que não decorreram jogos de futebol.
O histórico da criação de claques atesta que quem as criou e integrou
no início, e maioritariamente, eram pessoas bem-intencionadas,
responsáveis, e que nunca terão imaginado que as claques viessem a
provocar tantos problemas e fossem usadas como conjuntos de pessoas
nocivas ao desporto em geral e ao futebol em particular.
Permitam-me que confidencie algo que presenciei no recente jogo em Alvalade entre o Sporting e o Benfica.
Convidado por um amigo para ir ver o jogo, levei connosco os meus dois
filhos mais velhos (felizmente não se conseguiu à última hora bilhete
para o mais novo).
À entrada para o estádio fomos revistados pelas forças de segurança, com todo o profissionalismo.
Já na bancada, assisti antes, durante e depois do jogo a episódios perpetrados pelas claques dos dois clubes.
Desde a claque do clube da casa, logo nos primeiros minutos do jogo,
atirar literalmente contra o seu guarda-redes e a sua baliza vários
artefactos pirotécnicos (como entraram, se foram revistados como nós à
entrada?), até à claque do clube visitante possuir material pirotécnico
do mesmo calibre.
Para além disso, como ficámos perto da claque do clube visitante,
tive curiosidade de ir olhando, vendo e ouvindo a sua atuação no
estádio. E eu, que já não tenho idade para me surpreender e escandalizar
(porque a esse propósito, infelizmente, já vi e vivi muita coisa),
percebi que, no meio daquela gente – com os seus rituais, os seus
cânticos, a sua carga emocional irracional –, mesmo pessoas medianamente
bem formadas ficam contagiadas pela negativa. Vi como alguns estavam
vestidos no início e como saíram. Vi como se comportaram de início e no
final. Percebi que a maioria não vê o jogo mais do que poucos minutos.
Estão ali por todas as razões menos essa.
Julgo que o alarme social e desportivo criado à volta das claques de
futebol é demasiado grave para que façamos de conta que isto passa e é
normal. Até ao próximo incidente? Até às próximas mortes?
As claques dos últimos anos pouco ou nada têm que ver com a sua genética e com as razões que levaram à sua criação.
As claques de hoje pouco ou nada acrescentam de positivo ao futebol,
antes pelo contrário. São instrumentos negativos e perigosíssimos para a
segurança, para a sã convivência entre adeptos, famílias, rivais.
Não fazem falta. Sem a sua existência, tal e qual são hoje e naquilo
em que se transformaram, o desporto e o futebol serão mais atrativos,
seguros e melhorarão em muito vários indicadores.
Faz, pois, sentido que se equacione a sua proibição e a sua extinção.
Aliás, o exemplo inglês é muito inspirador sobre estas matérias.
Não duvido que existam pessoas bem-intencionadas em várias das atuais claques. Mas são uma minoria.
A maioria, os líderes e alguns dos seus financiadores são
infelizmente pessoas que veem as claques como instrumentos para a
manutenção de pequenos, médios e grandes poderes. Mesmo quando vemos
factos associados ao desporto exageradamente mediatizados, como tem
acontecido, tudo aquilo que tenha a ver com as claques do futebol tem de
merecer a prioridade legislativa e política.
IN "SOL"
28/05/18
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