03/06/2018

FELICIANO BARREIRAS DUARTE

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Porque não se proíbem 
as claques no futebol?

«Lembra-te que o fracasso é um acontecimento, não uma pessoa». Zig Ziglar

Os mais recentes acontecimentos na Academia de Alcochete, que tiveram como protagonistas elementos de uma claque desportiva de um dos principais clubes de futebol do nosso país, veio colocar mais uma vez na ordem do dia as razões da existência (ou não existência) das claques no futebol.

Apesar de nunca ter sido defensor de que devemos legislar ao sabor de acontecimentos hípermediáticos – e muitas vezes explorados até à exaustão pela negativa –, considero pertinente, com a ocorrência de mais estes incidentes graves em Alcochete, que se discuta se deveremos aderir a soluções já assumidas noutros países que proibiram a existência de claques no futebol.

Porque este foi mais um de muitos outros incidentes perpetrados por elementos de claques nos últimos anos em Portugal. Incidentes de que resultaram desde mortos até feridos graves, passando por destruição de bens, tudo dentro e fora dos estádios. E muitos deles, até, em dias em que não decorreram jogos de futebol.

O histórico da criação de claques atesta que quem as criou e integrou no início, e maioritariamente, eram pessoas bem-intencionadas, responsáveis, e que nunca terão imaginado que as claques viessem a provocar tantos problemas e fossem usadas como conjuntos de pessoas nocivas ao desporto em geral e ao futebol em particular.

Permitam-me que confidencie algo que presenciei no recente jogo em Alvalade entre o Sporting e o Benfica.

Convidado por um amigo para ir ver o jogo, levei connosco os meus dois filhos mais velhos (felizmente não se conseguiu à última hora bilhete para o mais novo).

À entrada para o estádio fomos revistados pelas forças de segurança, com todo o profissionalismo.
Já na bancada, assisti antes, durante e depois do jogo a episódios perpetrados pelas claques dos dois clubes.

Desde a claque do clube da casa, logo nos primeiros minutos do jogo, atirar literalmente contra o seu guarda-redes e a sua baliza vários artefactos pirotécnicos (como entraram, se foram revistados como nós à entrada?), até à claque do clube visitante possuir material pirotécnico do mesmo calibre.

Para além disso, como ficámos perto da claque do clube visitante, tive curiosidade de ir olhando, vendo e ouvindo a sua atuação no estádio. E eu, que já não tenho idade para me surpreender e escandalizar (porque a esse propósito, infelizmente, já vi e vivi muita coisa), percebi que, no meio daquela gente – com os seus rituais, os seus cânticos, a sua carga emocional irracional –, mesmo pessoas medianamente bem formadas ficam contagiadas pela negativa. Vi como alguns estavam vestidos no início e como saíram. Vi como se comportaram de início e no final. Percebi que a maioria não vê o jogo mais do que poucos minutos. Estão ali por todas as razões menos essa.

Julgo que o alarme social e desportivo criado à volta das claques de futebol é demasiado grave para que façamos de conta que isto passa e é normal. Até ao próximo incidente? Até às próximas mortes?
As claques dos últimos anos pouco ou nada têm que ver com a sua genética e com as razões que levaram à sua criação.

As claques de hoje pouco ou nada acrescentam de positivo ao futebol, antes pelo contrário. São instrumentos negativos e perigosíssimos para a segurança, para a sã convivência entre adeptos, famílias, rivais.

Não fazem falta. Sem a sua existência, tal e qual são hoje e naquilo em que se transformaram, o desporto e o futebol serão mais atrativos, seguros e melhorarão em muito vários indicadores.

Faz, pois, sentido que se equacione a sua proibição e a sua extinção. Aliás, o exemplo inglês é muito inspirador sobre estas matérias.

Não duvido que existam pessoas bem-intencionadas em várias das atuais claques. Mas são uma minoria.

A maioria, os líderes e alguns dos seus financiadores são infelizmente pessoas que veem as claques como instrumentos para a manutenção de pequenos, médios e grandes poderes. Mesmo quando vemos factos associados ao desporto exageradamente mediatizados, como tem acontecido, tudo aquilo que tenha a ver com as claques do futebol tem de merecer a prioridade legislativa e política.

IN "SOL"
28/05/18

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