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Deputada do Bloco de Esquerda
IN "i"
16/05/18
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Um povo que tosse sangue
e ramos de oliveira
Enquanto em Lisboa se festejava a vitória da
canção israelita no festival da canção, Gaza precipitava-se para o
massacre mais sangrento dos últimos anos
Estima-se que desde 1967 Israel tenha destruído mais
de 800 mil oliveiras em território palestiniano. Pode parecer
insignificante à luz do banho de sangue a que assistimos na noite de
segunda-feira, mas é importante. O massacre das oliveiras conta-nos que a
história da ocupação israelita naquele território se fez pela
destruição sistemática do sustento económico, da memória e, em última
instância, da existência de um povo.
Simbolicamente as oliveiras representam as raízes, a relação do povo
palestiniano com a sua terra, aquela por que são mortos. É por isso que
perguntar o que é que acontece quando Israel arrancar todas as oliveiras
não anda muito distante de querer saber com quantos massacres se faz um
genocídio.
Ninguém fez essa pergunta na noite de domingo quando se ouvia em 3
línguas “Israel, 12 pontos”. Enquanto em Lisboa se festejava a vitória
da canção israelita no Festival da Eurovisão, engalanavam Jerusalém
ocupada para receber a embaixada dos Estados Unidos da América e Gaza
precipitava-se para o massacre mais sangrento dos últimos anos.
Condenar esse massacre é o mais fácil para comunidade internacional. Já
tinha acontecido quando Donald Trump anunciou a decisão de transferir a
Embaixada que estava em tel Aviv para Jerusalém ocupada, violando o
estatuto especial da cidade, a lei internacional, resoluções das Nações
Unidas, tratados e protocolos.
Todos sabíamos que a decisão era incendiária. Todos conhecemos a
história da destruição das oliveiras, muitos avisaram o que faria
Netanyahu com as costas quentes. Mas ainda assim, ao cair da noite, as
tropas israelitas mataram pelo menos 58 palestinianos, incluindo várias
crianças, e feriram mais de 3000 pessoas. Mais uma vez, Israel provou
que a cumplicidade internacional é licença para matar.
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Porque foi um banho de sangue, porque correram mundo as imagens de
drones a despejar bombas de gás numa multidão desarmada, porque é
evidente que um dos países mais bélicos do mundo não precisa de balas
reais (e de fragmentação) para “defender” fronteiras ameaçadas por
calhaus... por tudo isto, Israel será condenado internacionalmente.
Outra vez.
Só que nada será como dantes. Israel é o carcereiro de mais 1 milhão e
800 mil pessoas presas numa faixa de 41 km de comprimento por entre 6 e
12 km de largura chamada Faixa de Gaza. Uma prisão de onde não se pode
fugir, apenas se pode sobreviver a um massacre. E de quantos massacres
se faz um genocídio? A tragédia não está só na resposta mas no tempo que
a comunidade internacional está disposta a esperar por ela.
É aqui que se cruzam os três acontecimentos de domingo e
segunda-feira. Não é indiferente saber se é aceitável que um país
responsável por apartheid, massacres, colonização violenta, ocupações
ilegais e crimes contra a humanidade continue a ser recebido na Europa
como se de um clube de amigos se tratasse. Não é compreensível que os
países europeus acalmem as suas consciências com a ausência da
inauguração da embaixada norte-americana. São necessárias ações fortes
para obrigar Israel a respeitar os direitos humanos. E é necessário
travar Israel e isso começa por dar aos palestinianos a maior defesa
possível: o reconhecimento internacional do Estado da Palestina.
O povo palestiniano sabe que nunca poderão arrancar todas as
oliveiras, porque “quando abrimos a boca para contar uma história,
qualquer história, tossimos do nosso corpo um ramo de oliveira, tossimos
a história palestiniana”*. Lutar todos os dias para sobreviver à sua
própria história, é esta a condição de um povo que teima em agarrar-se à
ideia de existir. E precisa de saber que não foi abandonado.
[*] Shahd Wadi, “Corpos na Trouxa: histórias-artísticas-de-vida de
mulheres palestinianas no exílio”, Edições Almedina, setembro de 2017
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16/05/18
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