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IN "SOL"
20/05/18
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Com falinhas mansas
não se vai lá
Para travar o desaparecimento desse segundo país é preciso uma revolução nas consciências e nas políticas
O Portugal político e litoral descobriu que existiam dois países há
um ano, com a tragédia dos incêndios de Pedrógão, que tiveram um segundo
catastrófico remake em outubro. O abandono a que o Estado foi deixando,
ao longo dos anos, os portugueses desse ‘segundo país’ cada vez mais
despovoado e com menos serviços públicos revelou-se gritante.
O país político é profundamente centralista. E o país jornalístico
também – o centralismo dos meios de comunicação social foi-se tornando
cada vez mais visível nos últimos anos. A crise do setor fez eliminar
muitos postos de trabalho, nomeadamente os dos correspondentes que
permitiam que a voz do interior chegasse aos grandes órgãos de
comunicação social. O desinvestimento em publicidade na imprensa também
provocou este fenómeno perverso: a nível nacional, ninguém sabe o que os
habitantes do interior pensam, porque não está lá ninguém para o contar
em regime de permanência.
Mas houve, claramente, um acordar nos últimos tempos. O
movimento da sociedade civil onde pontificam antigos políticos e atuais
políticos, como Jorge Coelho, natural de Mangualde; Silva Peneda,
presidente do Conselho Geral da Universidade de Trás-os-Montes, o antigo
ministro das Finanças Miguel Cadilhe, o presidente da Câmara da Guarda
Álvaro Amaro, entre outros, propôs ontem medidas «revolucionárias,
porque com falinhas mansas não se vai lá», como disse Silva Peneda. E
tem razão: já houve demasiadas falinhas mansas. Para travar o
desaparecimento desse segundo país é preciso uma revolução nas
consciências e nas políticas.
As medidas são, em geral, boas e, de facto, revolucionárias. A
discriminação fiscal, a dotação do Estado pelo menos de 200 milhões para
financiar os programas de habitação, a transferência para as autarquias
de todos os edifícios públicos abandonados e a polémica – mas correta –
ideia de deslocalizar 25 serviços públicos de Lisboa para cidades do
interior, com grandes incentivos aos funcionários, são medidas
fundamentais para começar uma revolução. Haja vontade política genuína. O
interior já não aguenta mais falinhas mansas.
IN "SOL"
20/05/18
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