27/04/2018

ALEXANDRA DUARTE

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Já pensou em ser budista?

Falta-nos sempre qualquer coisa, mesmo que não saibamos muito bem defini-la, andamos sempre numa procura incessante e numa correria sem saber muito bem para onde, chegamos ao destino desejado e logo mestamso a planear a próxima paragem

Desenganem-se se vos induzi em erro com o título, e já estão a pensar que vou trocar a minha formação e vivência cristã por uma outra, por acaso a budista, muito mais em voga e com tendências crescentes pelo mundo inteiro. É cada vez mais fácil encontrarmos pessoas que abraçaram esta religião e que seguem os seus ensinamentos seculares, adotando, nos seus dias, princípios e técnicas que estão na base desta crença. Os budistas contam cerca de 400 milhões de seguidores, em contraste com os cerca de dois mil milhões de cristãos e os 1,25 mil milhões de muçulmanos, e representam, hoje, uma das religiões mais influentes do mundo.

Apesar da sua antiguidade que remonta ao século VI a.C., nas longínquas terras da Índia, a sua divulgação pelo mundo ocidental só se deu no séc. XIX, através de um estudo do filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, que se interessou pelas várias culturas daquele país. Além deste precursor, os próprios imigrantes oriundos da China e do Japão traziam consigo esta doutrina que foram espalhando um pouco pela Europa e pela América. No século passado, a invasão do Tibete pela China e, depois, a guerra do Vietnam, fizeram com que muitos mestres do budismo se refugiassem no ocidente, abrindo centros de meditação que despertaram a curiosidade dos ocidentais e muitos destes acabaram por se tornar “adeptos” das práticas de meditação, incorporando esta filosofia para além da simples prática meditativa.

A história do príncipe indiano que saiu do seu palácio à procura do que lhe faltava é a história de quase todos nós. Falta-nos sempre qualquer coisa, mesmo que não saibamos muito bem defini-la, andamos sempre numa procura incessante e numa correria sem saber muito bem para onde, chegamos ao destino desejado e logo estamos a planear a próxima paragem. Um corrupio que não tem fim, só quando morremos, dizem alguns. Será necessário chamar a morte para que nos sintamos em paz e com serenidade? Teremos que chegar ao fim da linha para encontrar a nossa densidade interior e consciencializarmo-la?

Os dias sucedem-se, as preocupações aumentam, as adversidades surgem quando menos esperamos, a felicidade teima em não aparecer quando mais queremos, e tudo vai acontecendo sempre desfasado do que idealizamos e desejamos. A regra é o descontentamento, a tristeza que se torna em depressão, os dias cinzentos que pesam e nos curvam dia após dia, o esforço que fazemos, constantemente, para nos mantermos à tona da água, deixando-nos desgastados e frustrados com a desilusão. Quando somos agraciados com o que de melhor a vida nos oferece, já estamos tão descrentes e amedrontados que nem capacidade temos para valorizar aquela pequena generosidade, que até podia ser o elixir vitamínico para os dias vindouros, caso nós tivéssemos a capacidade para reconhecer as pequenas graças que acontecem. Estamos cegos para a vida, até para nós próprios e então para os outros… nem os vemos, de tão concentrados que estamos nos nossos infortúnios e lamentações.

Conheci o príncipe Siddhartha Gautama, pelas palavras de Herman Hesse, ainda eu não tinha concluído duas décadas de vida, mas aquele testemunho marcou-me, sem que me tivesse apercebido, e influenciou parte de quem eu viria a ser nos anos seguintes. A sua história é o exemplo de que andamos tão distraídos connosco que nos esquecemos do mais importante: de nós. Parece uma redundância, mas não. Imaginem um espelho e a vossa imagem refletida - isto é o que são para vocês e para os que vos rodeiam; mas a verdadeira essência não é visível e, por isso, tão facilmente cai em esquecimento nos dias loucos que temos. Cuidamos da saúde, da aparência, da forma como estamos, descurando, por omissão, o nosso verdadeiro eu, que vai sumindo perante a prevalência de tudo o resto, levando-nos a percorrer um caminho tantas vezes errático e, se nos detivéssemos para refletir sobre algumas das nossas ações, não iríamos ficar agradados com o seu efeito e como estas - as ações -  nos definiriam.

Siddhartha reencontrou-se quando tinha 35 anos, após inúmeras experiências mundanas e reflexões sobre o sofrimento, a sua origem e como poderia ultrapassá-lo. As suas práticas de meditação foram o refúgio para o seu interior e o que o conectava com o momento presente, deixando no passado a dor e empurrando para o futuro as suas ansiedades. Vivendo o momento presente, o “Iluminado” materializava-se na sua unicidade em harmonia com o universo e com as suas leis. “Do desejo nasce o sofrimento”, terá ensinado. Pois nós passamos parte do nosso tempo a desejar, logo, somos sofredores por não vivermos em plenitude com o que somos e com o que nos rodeia.

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23/04/18


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